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Vista aérea das ilhas-barreira da Ria Formosa. Foto: Fábio Marcelino

Há um novo projecto Life para as cinco ilhas que protegem a Ria Formosa

05.02.2020

Ilhas da Barreta ou Deserta, Culatra, Armona, Tavira e Cabanas. Há um novo projecto Life para ajudar a conservar estas cinco ilhas ligadas à Ria Formosa, no Algarve, e animais e plantas que lhes estão associadas.

 

Sem estas ilhas e as penínsulas do Ancão e de Cacela, a mais importante zona húmida do sul do país não seria uma realidade. Separadas entre si por barras móveis, as cinco ilhas formam um cordão dunar com 60 quilómetros que protege este sistema lagunar e ao mesmo tempo permitem a comunicação entre as águas da ria e do oceano.

Mas “estas ilhas são muito mais que uma protecção. São fonte de vida que atrai turistas e chilretas, e sustenta pescadores e gaivotas”, nota Joana Andrade, coordenadora do departamento de conservação marinha da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), coordenadora do Life Ilhas Barreira.

Co-financiado pela União Europeia, o novo projecto começou em Setembro de 2019 e vai prolongar-se até ao fim de 2023. Além da SPEA, conta com mais cinco parceiros: Universidade de Coimbra e Universidade do Algarve, Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, RIAS – Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens da Ria Formosa e a empresa Animaris, concessionária da área de restauração na Ilha da Barreta.

Fique a conhecer alguns dos problemas de conservação que o Life Ilhas Barreira quer combater:

 

1. Falta de conhecimento sobre aves marinhas e a sua alimentação

gaivota Larus audouinii
Gaivota-de-audouin. Foto: Adrián Pablo Rodríguez Quiroga/Wiki Commons

 

Para já, assumem os responsáveis do projecto, é prioritário saber mais sobre a presença das aves marinhas e as suas principais áreas de nidificação e alimentação nesta área protegida, classificada como Parque Natural da Ria Formosa. Esta área é também protegida em termos europeus, pois faz parte da Rede Natura 2000, tanto como zona de protecção especial (classificação associada à Directiva Aves), como enquanto sítio de importância comunitária (Directiva Habitats).

A Ilha da Barreta, por exemplo, é o único local do país onde nidifica a gaivota-de-audouin (Larus audouinii), ave marinha classificada como Vulnerável à extinção que ali se reproduz desde 2008, e hoje tem uma presença estimada de 3.000 casais. “A população tem crescido mas há muita mortalidade, pois os juvenis não sobrevivem”, disse Joana Andrade à Wilder. Também ali, na única ilha barreira não habitada, está o principal núcleo reprodutor de chilreta ou andorinha-do-mar-anã.

Para a recolha dos dados necessários, o projecto vai contar com investigadores da Universidade de Coimbra, que monitorizam desde há vários anos aves marinhas na região, como é o caso da chilreta.

Previsto está também o aumento de protecção para as áreas onde se reproduzem as chilretas e as gaivotas-de-audoin, vedando-lhes o acesso – quando for possível – e por meio de campanhas de educação ambiental. A promoção de campanhas de educação nas escolas dos cinco municípios vai estar principalmente nas mãos do RIAS, que vai ajudar também a monitorar as causas de morte da gaivota-de-audoin.

Lidar com o problema dos “mamíferos não nativos” destas ilhas – gatos e ratos que comem as aves e os ovos – é outra das acções previstas no calendário.

 

2. Captura acidental de aves em artes de pesca 

Pardela-balear. Foto: Marcabrera/Wiki Commons

 

Já a pardela-balear (Puffinus mauretanicus), que nidifica no arquipélago do mesmo nome, depende das águas marinhas nacionais durante os períodos em que não se reproduz. É a ave marinha mais ameaçada da Europa e está classificada como Criticamente em Perigo. Todavia, “há algumas evidências de capturas acidentais em redes de pesca”, indica a mesma responsável.

Assim, outro dos objectivos é envolver e trabalhar com os pescadores locais para avaliar os efeitos das capturas acidentais desta e de outras aves marinhas, tal como encontrar formas para reduzir o problema, trabalhando em parceria com a Universidade do Algarve.

A protecção dessas espécies vai passar também pela revisão e proposta de alargamento da área marinha abrangida pela ZPE Ria Formosa, que terá de ser aprovada pelo Governo para ser aplicada no terreno.

 

3. Recuo da linha de costa nalgumas ilhas e falta de conhecimento sobre a vegetação das dunas 

Vista aérea das ilhas-barreira da Ria Formosa. Foto: Fábio Marcelino

 

Previstas estão também a caracterização da ecologia e a definição das melhores estratégias para conservar as chamadas “dunas cinzentas”. Este tipo de habitat, presente ao longo da costa portuguesa e também nestas ilhas barreira,  caracteriza-se por ter “dunas fixas com vegetação de herbáceas, que são estáveis e  fundamentais para a estabilização do cordão dunar e retenção do solo”, explica Joana Andrade.

Essa função pode ser prejudicada por plantas invasoras, muito presentes nas ilhas, que vão ser agora analisadas. Na Ilha Deserta vai avançar igualmente a remoção de espécies como o chorão e as acácias.

Mas a preocupação com a Ria Formosa estende-se também às alterações climáticas e aos efeitos nas ilhas-barreira, outro dos assuntos que vão ser analisados em parceria com investigadores da Universidade do Algarve.

 

4. Falta de conhecimento sobre a presença de gaivotas-de-patas-amarelas

Gaivota-de-patas-amarelas. Foto: Bengt Nyman/Wiki Commons

 

Por sua vez, o aumento de gaivotas-de-patas-amarelas (Larus michahellis) nas ilhas-barreira, em especial na Ilha da Barreta, tem chamado a atenção da equipa deste novo projecto. “Ficam presentes o ano todo e causam alguma pressão sobre a vegetação nativa e alguma erosão das dunas”, nota a coordenadora do novo Life Ilhas Barreira.

Estes efeitos vão ser agora avaliados, tal como possíveis formas de evitar o acesso destas aves aos aterros na região.

 

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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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