Já se sabe o que aconteceu à águia-pesqueira que tinha sido encontrada ferida na última Primavera e que partiu já atrasada para a época de reprodução na Alemanha, depois de ser tratada no centro de recuperação do CERVAS, em Gouveia.
Foi António Gonçalves, 42 anos, observador de aves e fotógrafo amador, quem avistou este macho de águia-pesqueira (Pandion haliaetus) no final de Outubro, no seu pouso habitual da ilha da Morraceira, no estuário do rio Mondego.
“Desde há vários anos que todos os Invernos avisto esta águia sempre no mesmo local, mas só desta vez consegui ler a anilha e depois disso fiquei a saber a sua história”, recordou à Wilder António Gonçalves, que sempre que pode dá “um salto à Ilha da Morraceira” para observar aves e fazer fotografia.
Este macho de águia-pesqueira tem 17 anos de idade e foi anilhado em 1999, quando era ainda juvenil, fazendo parte da população invernante da espécie em Portugal. Em Março, regressa todos os anos ao mesmo local de reprodução no Nordeste da Alemanha, onde se encontra com a fêmea do casal.
No entanto, este ano o regresso da águia tinha-se atrasado cerca de três semanas, durante as quais esteve em tratamento no CERVAS (Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens), depois de ter sido encontrado na zona da Figueira da Foz ferido por uma electrocussão. Quando a ave finalmente partiu para a Alemanha, no início de Abril, havia dúvidas sobre se ainda chegaria a tempo de se reproduzir com a companheira habitual, que já a esperava no ninho.
“Já há indicações, por parte de investigadores alemães, de que outros machos no local estão a tentar ocupar o lugar desta águia”, referiu nessa altura o coordenador do CERVAS, Ricardo Brandão, curioso sobre o desenlace.
Sete meses depois, ficou a saber-se o que aconteceu, quando António Gonçalves teve resposta dos anilhadores desta águia-pesqueira, na Alemanha.
“Esta águia regressou ao mesmo ninho, próximo da localidade de Liepen no Nordeste da Alemanha, na última Primavera”, explicou Daniel Schmidt, da equipa de anilhadores alemães, numa nota enviada ao observador de aves português. “No entanto, já lá estava outro casal que tinha ocupado o ninho um pouco antes.”
“A águia ‘azul AZ’ [informação da anilha] teve uma luta com os dois novos ocupantes e obrigou-os a abandonarem o ninho. Finalmente, a ‘azul AZ’ passou o Verão sozinha no ninho e não teve parceira nem qualquer ninhada, é claro”, concluiu Schmidt.
Contactado pela Wilder, António Gonçalves adiantou que as fotografias da águia foram tiradas “por volta da hora do almoço” e que esta ave “está sempre no mesmo ponto”. Nesse dia, aliás, encontrou na ilha cinco ou seis águias-pesqueiras em simultâneo.
Já o coordenador do CERVAS, Ricardo Brandão, está curioso sobre o futuro deste casal de águias desencontradas. “Será interessante saber se o casal se reunirá na próxima época de reprodução.”