Uma expedição a Marrocos permitiu a investigadores portugueses descobrir duas novas espécies de pequenas cigarras. O artigo com a sua descrição foi publicado na revista Zootaxa este mês.
No Verão de 2014, a equipa, liderada por Paula Simões, do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (Universidade de Lisboa), fez uma expedição a Marrocos à procura de cigarras. Ainda há muito a fazer para conhecer estes animais no Norte de África, especialmente a sua ecologia e os sinais acústicos que emitem para comunicar.
O trabalho de campo – no âmbito do projecto CicadaCon, que estuda a diversidade e evolução das cigarras do género Tettigettalna – permitiu a descoberta de duas espécies novas para a Ciência, a Tettigettalna afroamissa e a Berberigetta dimelodica.
A Tettigettalna afroamissa é a primeira cigarra deste género a ser encontrada fora da Europa. Foi descoberta em bosques mediterrâneos nas montanhas do Rif e Médio Atlas, no Norte de Marrocos. Esta cigarra, com cerca de 27 milímetros de comprimento, tem uma canção distinta de todas as outras espécies conhecidas.
Partilhando o mesmo habitat, os investigadores descobriram uma outra pequena cigarra, a que chamaram Berberigetta dimelodica.
Os machos capturados mediam cerca de 17 milímetros de comprimento. “Existem peculiaridades interessantes no canto desta nova cigarra”, diz Gonçalo Costa, primeiro autor do estudo, em comunicado. “Ela emite um som ao comprimir o seu abdómen que nos recorda o ruído provocado pela flatulência.”
Durante a expedição a Marrocos, os investigadores recolheram os espécimes à mão ou com redes, fotografaram-nos e aos seus habitats e gravaram as suas canções. Em laboratório foram realizadas análises genéticas.
Segundo os autores do estudo, a Bacia do Mediterrânico, e especialmente a Península Ibérica, é considerada um hotspot para a biodiversidade de cigarras. Em Portugal são conhecidas 13 espécies. Mas pouco se sabe sobre as cigarras do Norte de África, desde Marrocos à Argélia e Tunísia. A maioria dos dados para o estudo vem de espécimes guardados em colecções nos museus de História Natural. Mas para algumas espécies é extremamente difícil distingui-las apenas com base no seu aspecto morfológico. É preciso ouvi-las no terreno, por exemplo.
No mundo das cigarras, apenas os machos cantam, uma estratégia para atrair as fêmeas e “convencê-las” a acasalar. As cigarras adultas emergem no Verão e vivem apenas algumas semanas. A maior parte da sua vida, entre três e 17 anos, é passada no subsolo sob a forma de ninfa, alimentando-se de raízes de árvores ou arbustos.
[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.
Quer ouvir uma cigarra e saber mais sobre estes animais? Ouça o que preparámos para si.