Foto: Hanna Knutsson

Há um novo projecto para combater o declínio de coelho-bravo em Portugal e Espanha

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O novo LIFE Iberconejo quer melhorar a situação deste mamífero, que perdeu 90% das suas populações ibéricas durante os últimos 70 anos.

O novo projecto é gerido pela WWF Espanha e inclui 14 parceiros, dos quais cinco portugueses, anunciou o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. Em causa está a “preocupante situação populacional do coelho-bravo e a tendência de declínio que esta espécie tem registado nos últimos anos”, indica em comunicado o instituto que tutela a conservação da natureza em Portugal.

O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) vai ser um dos parceiros deste novo projecto comparticipado por fundos europeus, iniciado em Outubro passado e com duração prevista até ao final de 2024.

Nos últimos 70 anos as populações de coelho-bravo em Portugal e Espanha decresceram cerca de 90%, como consequência das mudanças no uso do solo e de doenças, nomeadamente a mixomatose e a doença hemorrágica do coelho. Resultado: a espécie passou a ser considerada Em Perigo de extinção nos territórios onde é nativa. A nível nacional, este mamífero está classificado como Quase em Perigo em território português, ao passo que em Espanha é dado como Vulnerável.

O coelho é uma espécie-chave das florestas mediterrânicas, onde serve de presa principal para vários predadores de topo ameaçados da Península Ibérica, como o lince-ibérico e a águia-imperial. Mas também para muitas outras espécies, num total de mais de 40, incluindo por exemplo o bufo-real. Além disso considera-se que “modela as paisagens, aumenta a fertilidade do solo e cria habitats para outras espécies”, explica uma nota informativa da Comissão Europeia sobre o novo projecto.

Foto: Johan Hansson / Wiki Commons

O facto de não haver tanto coelho disponível “afectou seriamente o sucesso reprodutivo” dos seus principais predadores, ao passo que causou “problemas sócio-económicos em áreas rurais onde a caça é uma força económica importante”. Ao mesmo tempo, por vezes acontecem “explosões demográficas locais que prejudicam as colheitas ou as infra-estruturas agrícolas.”

Falta de governança e impossibilidade de comparar dados

No entanto, há uma “falta completa” de governança dos problemas que afectam este mamífero, tanto ao nível ibérico como nacional. E isso traduz-se na aplicação de “medidas com objectivos opostos” por diferentes partes interessadas, mas também na “não partilha de experiências ou conhecimento” e na “inexistência de protocolos standard ou metodologias de monitorização”, pelo que se torna impossível comparar dados.

“Nem sequer é possível definir o estatuto da população de coelho-bravo na maioria das áreas peninsulares para nelas se estabelecerem objectivos abrangentes de conservação”, indica a mesma nota.

Para fazer face a estas questões, o LIFE Iberconejo vai avançar com a criação de uma estrutura ibérica de governança, o futuro Comité Coordenador do Coelho-Bravo Ibérico, que deverá ter a participação de parceiros envolvidos neste projecto LIFE e irá coordenar a monitorização e gestão da espécie.

Prevista está também a avaliação e monitorização das populações de coelho com base em protocolos comuns a Portugal e Espanha e o recurso aos dados e à experiência que forem obtidos para aplicação no âmbito da PAC (Política Agrícola Comum), de forma a “compatibilizar a existência de uma população saudável de coelho com uma produção agrícola competitiva e de qualidade.”

Orçamento de 1,2 milhões de euros

No total, as 14 entidades que fazem parte deste projecto LIFE vão ter um orçamento de cerca de 2,1 milhões de euros. Entre vários objectivos, comprometem-se a conseguir a melhoria do estatuto de conservação do coelho até 2035, pela União Internacional para a Conservação da Natureza, e a desenvolver modelos de governança e de protocolos para a gestão de outros mamíferos terrestres, a partir da experiência que for obtida.

A primeira reunião dos parceiros do projecto realizou-se no final do ano passado, com a participação do ICNF, e “nela foram apresentados o modo de funcionamento e de gestão do projeto, assim como os principais objetivos e tarefas de curto prazo”, adiantou o instituto.

Além do ICNF, este projecto LIFE conta também, do lado português, com a participação do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), ANP/WWF Portugal, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e ANPC – Associação Nacional de Proprietários Rurais, Gestão Cinegética e Biodiversidade.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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