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Desmatamento da Mata Atlântica no Brasil cresceu quase 60% num ano

30.05.2017

A Mata Atlântica no Brasil perdeu 29.075 hectares, ou 290 quilómetros quadrados, no período 2015 a 2016, um aumento de 57,7% em relação ao período anterior (2014-2015), revelou ontem o novo Atlas da Mata Atlântica.

 

“O que mais me impressionou foi o enorme aumento no desmatamento no último período”, disse Marcia Hirota, directora-executiva da Fundação SOS Mata Atlântica, em comunicado. “Tivemos um retrocesso muito grande, com índices comparáveis aos de 2005”.

Neste levantamento, o estado da Bahia foi o líder do desmatamento, com 12.288 hectares, segundo o novo atlas, divulgado pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional brasileiro de Pesquisas Espaciais (INPE). Esse desmatamento representou um aumento de 207% em relação ao ano anterior, quando foram destruídos 3.997 hectares.

A 16 de Maio, técnicos da SOS Mata Atlântica sobrevoaram os municípios baianos de Santa Cruz Cabrália e Belmonte e constataram “queimadas na floresta, conversão da floresta em pastagens e processos de limpeza de áreas onde a zona apresenta forte actividade de silvicultura”, segundo um comunicado do INPE. “Esta região é a mais rica do Brasil em biodiversidade (…). Estamos a destruir um património que poderia gerar desenvolvimento, trabalho e renda para o estado”, acrescentou Marcia Hirota.

Logo a seguir ao estado da Bahia surgem os estados de Minas Gerais (7.410 hectares desmatados) – com municípios conhecidos pelo abate de floresta para produzir carvão ou para plantações de eucalipto -, Paraná (3.453 hectares) e Piauí (3.125 hectares).

O INPE alerta para o caso do Paraná, onde “a destruição se concentra na região das araucárias, uma espécie ameaçada de extinção, com apenas 3% de florestas remanescentes”.

Para Mario Mantovani, director de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica, a situação é gravíssima e indica uma reversão na tendência de queda do desmatamento dos últimos anos. “O sector produtivo voltou a avançar sobre as nossas florestas, não só na Mata Atlântica mas em todos os biomas, após as alterações realizadas no Código Florestal e o subsequente desmonte da legislação ambiental brasileira. Pode ser o início de uma nova fase de crescimento do desmatamento, o que não podemos aceitar”, acrescentou.

A Mata Atlântica, Reserva da Biosfera da Unesco, estende-se pela costa atlântica do Brasil, atingindo áreas da Argentina e do Paraguai. Originalmente abrangia 1.309.736 quilómetros quadrados no território brasileiro. Hoje restam apenas 12,5%, onde vivem mais de 15 mil espécies de plantas e mais de duas mil espécies de animais vertebrados. Das 633 espécies de animais ameaçados de extinção no Brasil, 383 ocorrem na Mata Atlântica.

Em Maio de 2015, 17 secretários do Ambiente dos estados da Mata Atlântica assinaram a carta “Nova História para a Mata Atlântica”, onde se comprometeram a ampliar a cobertura vegetal nativa e com o desmatamento ilegal zero até 2018. Mas actualmente apenas cinco estados conseguiram o desmatamento zero, ou seja, com menos de 100 hectares (1 quilómetro quadrado) de desflorestação: Rio Grande do Norte, Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio de Janeiro.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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