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Ouriço. Foto: Alexandra München/Pixabay

Nova Lista Vermelha: mundo tem 46.337 espécies ameaçadas de extinção

28.10.2024

A nova Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), revelada hoje, avisa que há pelo menos 46.337 espécies ameaçadas de extinção. Alerta especial para as árvores, aves costeiras e para uma espécie até há pouco tempo comum, o ouriço-cacheiro.

As árvores estão em destaque pela UICN, uma vez que mais de uma em cada três enfrentam a extinção. No total, são 38% das árvores do planeta em risco de desaparecer segundo a primeira Avaliação Mundial das Árvores, publicada na actualização de hoje da Lista Vermelha da UICN.

Esta versão da Lista Vermelha inclui agora um total de 166.061 espécies, das quais 46.337 estão ameaçadas de extinção.

“Hoje estamos a divulgar a avaliação mundial das árvores do mundo na Lista Vermelha da UICN, que mostra que mais de uma em cada três espécies de árvores estão ameaçadas de extinção”, comentou, em comunicado, Grethel Aguilar, directora-geral da UICN. “As árvores são essenciais para suportar a vida na Terra através do papel crucial que têm nos ecossistemas e milhões de pessoas dependem delas para sobreviver.”

Pela primeira vez, a maioria das árvores do mundo estão listadas na Lista Vermelha da UICN, revelando que, pelo menos, 16.425 das 47.282 espécies avaliadas estão em risco de extinção. As árvores agora representam mais de um quarto das espécies desta Lista Vermelha; o número de árvores ameaçadas é mais de o dobro do número de todas as espécies ameaçadas de aves, mamíferos, répteis e anfíbios juntos.

As espécies de árvores estão em risco de extinção em 192 países por todo o mundo.

“Esta avaliação apresenta a primeira imagem global do estatuto de conservação das árvores, o que nos permite tomar melhores decisões de conservação e tomar acções para proteger as árvores onde for mais urgente”, comentou Malin Rivers, da organização Botanic Gardens Conservation International. “Este trabalho é um esforço mundial que envolveu mais de mil peritos. Mas precisamos continuar a trabalhar juntos para aumentar a escala da conservação a nível local, nacional e internacional e assim ajudar as pessoas e o planeta.”

A maior proporção de árvores ameaçadas está em ilhas. As árvores das ilhas enfrentam riscos especialmente elevados por causa da desflorestação para desenvolvimento urbano e projectos agrícolas, e também por causa das espécies invasoras, pragas e doenças. As alterações climáticas estão a ameaçar cada vez mais as árvores, especialmente nos trópicos, através do aumento do nível do mar e de tempestades mais fortes e frequentes.

Segundo a UICN, é crucial responder às ameaças que as árvores enfrentam e apostar na protecção dos habitats, no restauro e na conservação ex situ em bancos de sementes e colecções de jardins botânicos.

Na América do Sul, que alberga a maior diversidade de árvores do mundo, 3.356 de 13.668 espécies avaliadas estão em risco de extinção.

Além disso, a Lista Vermelha da UICN mostra que a perda de árvores é uma enorme ameaça para centenas de outras plantas, fungos e animais.

“As árvores são fundamentais para a vida na Terra, através do seu papel nos ciclos de carbono, água e nutrientes, formação dos solos e regulação do clima”, lembra a UICN. “As pessoas também dependem das árvores, com mais de 5.000 espécies de árvores na Lista Vermelha usadas para madeira na construção e mais de 2.000 espécies para produzir medicamentos, alimentos e combustíveis.”

Ouriço-cacheiro passa a Quase Ameaçado

O ouriço-cacheiro (Erinaceus europaeus) passou de Pouco Preocupante para Quase Ameaçado nesta revisão da Lista Vermelha. A população desta espécie diminuiu em mais de metade dos países onde ocorre, incluindo no Reino Unido, Noruega, Suécia, Dinamarca, Bélgica, Países Baixos, Alemanha e Áustria.

Os números da redução populacional estão estimados entre 16 e 33% nos últimos 10 anos. Há estudos locais que alertam para declínios de até 50% na Bavária (Alemanha) e Flandres (Bélgica). As principais causas são o aumento da degradação dos habitats rurais pela intensificação agrícola, estradas e desenvolvimento urbano.

“São precisas medidas regionais e nacionais para ajudar as populações de ouriços-cacheiros”, alertou Abi Gazzard, do Grupo de Especialistas da UICN em Pequenos Mamíferos.

Além disso, “esta avaliação da Lista Vermelha também revela onde existem lacunas de informação, por exemplo, em relação aos limites da distribuição da espécie. Por isso, aumentar a monitorização por toda a Europa é essencial para sabermos mais sobre as populações menos estudadas.”

Segundo Chris Carbone, da Sociedade Zoológica de Londres, defende “estratégias de conservação para mitigar a perda de habitat, fragmentação e intensificação agrícola, a fim de atrasar o declínio das populações”. “Através da criação de corredores de habitat, redução do uso de pesticidas e da promoção de ambientes amigos dos ouriços podemos criar uma protecção para esta espécie a longo prazo”, acrescentou.

Quanto às aves, a nova Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza, pinta um cenário preocupante, com 60% das espécies em declínio a nível global. Particularmente alarmante é a situação das aves costeiras, com 16 espécies a ver aumentado o seu grau de ameaça.

“Portugal, como país de que muitas destas espécies dependem na migração, tem responsabilidade especial de fazer mais para contrariar estas tendências” disse, em comunicado, Rui Borralho, diretor executivo da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). “Estes dados são mais uma prova de que é urgente proteger as aves costeiras, e que em Portugal isso passa por proteger e restaurar zonas cruciais como os estuários do Tejo e do Sado, e não continuar a autorizar desenvolvimentos turístico-hoteleiros megalómanos.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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