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borboleta pousada num ramo
Foto: Joana Bougard/Wilder

Cientistas alertam para colapso mundial dos insectos

11.02.2019

Os insectos do planeta estão a caminhar para a extinção, ameaçando gerar um “colapso catastrófico dos ecossistemas da natureza”, alerta a primeira revisão científica global sobre o declínio dos insectos, revelada hoje pelo jornal The Guardian.

 

Mais de 40% das espécies de insectos estão ameaçadas de extinção, revela esta análise publicada na revista Biological Conservation.

O ritmo da extinção dos insectos é oito vezes superior ao dos mamíferos, aves e répteis. A massa total de insectos está a cair a um ritmo de 2,5% ao ano, sugerindo que se podem extinguir dentro de um século, conclui a equipa de investigadores depois de ter selecionado e analisado os 73 melhores estudos feitos até à data para avaliar o declínio dos insectos.

A maioria dos estudos analisados foram realizados na Europa ocidental e Estados Unidos, mas também há outros na Austrália, China, Brasil e África do Sul. Mas pouco mais há.

“Se não conseguirmos parar a perda de espécies de insectos, isto terá consequências catastróficas tanto para os ecossistemas do planeta como para a sobrevivência da Humanidade”, comentou Francisco Sánchez-Bayo, da Universidade australiana de Sidney, co-autor desta análise em conjunto com Kris Wyckhuys da Academia chinesa para as Ciências Agrícolas em Pequim.

O colapso das populações de insectos não é novidade. Este fenómeno foi registado recentemente na Alemanha (com perdas de 75% de insectos em áreas protegidas) e em Porto Rico (onde um estudo recente revelou uma quebra de 98% dos insectos terrestres nos últimos 35 anos), por exemplo.

Mas esta análise indica que a crise é global. O principal responsável é, segundo esta análise, a agricultura intensiva e à escala industrial. A urbanização e as alterações climáticas também são factores significativos.

Segundo o investigador, o início dos problemas para os insectos começaram no início do século XX, aceleraram durante os anos 1950 e 1960 e atingiram “proporções alarmantes” nas últimas duas décadas.

A taxa anual de perda de 2.5% registada nos últimos 25 a 30 anos é “chocante”, disse Sánchez-Bayo ao The Guardian. “Está a acontecer muito rápido. Em dez anos teremos menos um quarto, em 50 anos apenas restará metade e em 100 anos não haverá nada.”

 

abelha pousada numa flor
Foto: Wilder/Arquivo

 

As borboletas, diurnas e nocturnas, estão entre os insectos mais atingidos. Por exemplo, o número de espécies de borboletas caiu 58% nos terrenos agrícolas de Inglaterra entre 2000 e 2009.

As abelhas e os abelhões também estão a ser gravemente afectados. Em Oklahoma (Estados Unidos), entre 1949 e 2013 desapareceram metade das espécies de abelhões.

Para outras espécies – como muitas moscas, formigas, afídios e grilos – há pouca informação sobre a sua situação mas os especialistas dizem não ter razões para acreditar que estejam muito melhores do que as espécies mais estudadas.

Um pequeno grupo de espécies com maior capacidade para se adaptarem estão a aumentar em número, mas não o suficiente para compensar as perdas.

Um dos maiores impactos da perda de insectos é sentida nas muitas espécies de aves, répteis, anfíbios e peixes se alimentam deles. “Se esta fonte de alimento desaparece, todos estes animais vão morrer de fome”, acrescentou.

“A principal causa do declínio é a intensificação da agricultura”, disse Sánchez-Bayo. “Isto significa a eliminação de todas as árvores e arbustos que normalmente rodeavam os campos, para que possam ser tratados com fertilizantes sintéticos e pesticidas.” Especialmente pesticidas introduzidos nos últimos 20 anos, como os neonicotinoides e o fipronil.

“A menos que alteremos a nossa forma de produzir alimentos, os insectos no seu conjunto estarão no caminho da extinção dentro de poucas décadas”, escrevem. “As repercussões que isto terá nos ecossistemas do planeta são, no mínimo, catastróficas.” O mundo precisa alterar a forma como produz alimentos, disse Sánchez-Bayo. “A agricultura intensiva, à escala industrial é o que está a matar os ecossistemas.”

 

Foto: Wilder/Arquivo

 

Sánchez-Bayo disse que a pouco habitual linguagem forte usada na análise não é alarmista. “Quisemos acordar as pessoas. Quando consideramos que 80% da biomassa de insectos desapareceu em 25-30 anos, isto é muito preocupante.”

Outros cientistas acreditam que está a tornar-se claro que as perdas de insectos são agora um grave problema mundial. “Todas as evidências apontam na mesma direcção”, disse Dave Goulson, da Universidade de Sussex, no Reino Unido.

“Deveria ser uma enorme preocupação para todos nós porque os insectos estão no coração de cada cadeia alimentar”, disse ao The Guardian. “Eles polinizam a grande maioria das espécies de plantas, mantêm o solo saudável, reciclam nutrientes, controlam pragas e muito mais. Podemos amá-los ou não, mas não podemos sobreviver sem eles.”

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Leia aqui as propostas de Dave Goulson para ajudarmos os polinizadores. E as cinco espécies que podemos procurar em Portugal.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Recorde a entrevista da Wilder à entomóloga Patrícia Garcia-Pereira, “Estamos muito longe de conhecer a fauna de insectos de Portugal Continental”.

 

[divider type=”thick”]Precisamos de pedir-lhe um pequeno favor…

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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