A Comissão Europeia pediu hoje a suspensão imediata do abate de árvores, algumas centenárias, numa das últimas florestas pristinas da Europa, a floresta de Bialowieza, na Polónia.
Bruxelas pediu ao Tribunal de Justiça Europeu para aplicar medidas que levem a Polónia a suspender imediatamente o abate de árvores, algumas centenárias. Segundo a legislação europeia, este Tribunal pode fazer aplicar medidas interinas para exigir que um Estado membro suspenda actividades que causem estragos graves e irreparáveis, mesmo antes de haver uma sentença. “A Comissão considera que o aumento do abate de árvores na floresta de Bialowieza exige a adopção de medidas interinas, decididas pelo Tribunal apenas em casos urgentes e muito graves”, explica Bruxelas, em comunicado.
Bialowieza, perto da fronteira com a Bielorrússia, faz parte da Rede Natura 2000 e é património da Unesco. “A Rede Natura 2000 protege espécies e habitats que dependem de florestas antigas” e para algumas delas, Bialowieza “é o local mais importante ou o único em toda a Polónia”, segundo a Comissão Europeia.
Bruxelas sublinha que as intervenções em curso naquela floresta “não são compatíveis com os objectivos de conservação do local” e não tiveram estudos de impacto ambiental apropriados.
A 25 de Março de 2016, o ministro polaco do Ambiente, Jan Szyszko, aprovou alterações ao plano de gestão de uma das três regiões de Bialowieza, autorizando o triplicar das operações madeireiras naquela floresta, bem como o abate em zonas até então sem qualquer intervenção.
As autoridades polacas justificaram a sua decisão com a necessidade de combater uma praga causada por um escaravelho. Mas vários cientistas já defenderam que essas medidas são ineficazes em sistemas florestais complexos como Bialowieza.
Em Abril passado, a Comissão Europeia deu um mês para o Governo polaco desistir do abate a larga escala naquela floresta. “Mas apesar disso, a Polónia começou a implementar o seu plano” de abates.
“Esperamos que este sinal da Comissão Europeia obrigue as autoridades polacas a travar a devastação causada numa das últimas grandes florestas naturais na Europa”, disse Robert Cygbicki, da Greenpeace Polónia, em comunicado.
“Apesar dos numerosos apelos da comunidade científica, da comunidade local, de organizações internacionais e de milhares de cidadãos, o ministro (Jan Szyszko) continua a tratar a floresta como uma mera plantação de árvores. Pior, as suas decisões ameaçam muitas espécies raras de animais, plantas e fungos que dependem de árvores antigas ou mortas, que estão a ser abatidas e removidas da floresta de forma massiva”, acrescentou.
A Floresta de Bialowieza tem uma área total de 141.885 hectares e uma zona tampão com 166.708 hectares. Está classificada como Património da Humanidade pela Unesco desde 1979. Ali vive a maior população de bisonte-europeu, o símbolo da floresta, com cerca de 900 animais, o que representa cerca de 25% da população mundial desta espécie.
Além do bisonte-europeu, vivem naquela floresta 59 espécies de mamíferos, mais de 250 espécies de aves, 13 de anfíbios, sete de répteis e mais de 12.000 de invertebrados.