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Quebra-ossos. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

Andaluzia: há três casais de quebra-ossos a reproduzir-se na natureza

25.02.2019

Acaba de ser confirmado o terceiro casal de quebra-ossos (Gypaetus barbatus) a reproduzir-se este ano em plena natureza na Andaluzia, anunciou a Junta andaluza na sexta-feira.

 

Este terceiro casal é composto por Encina – uma fêmea que nasceu em 2012 no Centro de Reprodução de Guadalentín, gerido pela Fundación Gypaetus – e por Sansón, um macho nascido em 2013 em Nuremberga, na Alemanha. O casal estava a ser seguido desde que ocupou o seu território no Verão de 2017.

Encina e Sansón foram libertados nas Serras de Cazorla, Segura e Las Villas nos anos em que nasceram, em 2012 e 2013 respectivamente.

Nesta temporada de reprodução foram vistos várias vezes a voar juntos, partilhando dormitórios e realizando cópulas.

No final de Novembro de 2018 já tinham construído um novo ninho e, em Fevereiro, os técnicos do projecto de reintrodução do quebra-ossos na Andaluzia confirmaram a postura do seu primeiro ovo.

“Apesar da juventude dos progenitores e de se tratar da sua primeira tentativa de reprodução, os técnicos  acreditam no êxito da postura, tendo em conta os antecedentes dos outros dois casais, que conseguiram as suas crias na primeira postura”, diz a Junta da Andaluzia em comunicado.

Além de Encina e Sansón, há outros dois casais a reproduzir-se naquela região espanhola. Hortelano e Marchena fizeram a sua postura mais cedo, em Janeiro, e Tono e Blimunda fizeram-no no início de Fevereiro. Este é o terceiro ano consecutivo em que estes dois casais fazem uma postura.

Agora será preciso esperar uns meses até se saber se esta reprodução vai conseguir crias. “Ainda assim, o importante é a ocupação de novos territórios e a consolidação da espécie nas zonas históricas de onde se extinguiu por acção do homem”, considera a Junta da Andaluzia.

Até este momento já nasceram em liberdade cinco crias. Tono e Blimunda, o primeiro casal reprodutor depois da extinção da espécie na Andaluzia no final dos anos 1980, conseguiram reproduzir-se em 2015, à sua primeira tentativa.

Em 2016 não fizeram posturas mas em 2017 e em 2018 voltaram a reproduzir-se e conseguiram ter crias.

Hortelano e Marchena fizeram a sua primeira postura em 2017 e, assim como Tono e Blimunda, conseguiram uma cria. No ano seguinte, em 2018, o casal voltou a conseguir. Agora, em 2019, já fizeram uma nova postura.

O projecto de reintrodução do quebra-ossos na Andaluzia continua a dar passos para conseguir consolidar uma população andaluza selvagem e autónoma. Segundo a Junta da Andaluzia, a importância desta população do ponto de vista geográfico é muito importante, uma vez que pode funcionar como ponto de ligação com as populações pirenaica e africana.

Neste esforço conservacionista participam a Fundação para a Conservação dos Abutres, como coordenadora do programa europeu de reprodução de quebra-ossos, a Estação Biológica de Doñana, como assessora científica, e a Fundação Gypaetus, que executa o projecto, sob a direcção da Consejería de Agricultura, Ganadería, Pesca y Desarrollo Sostenible.

O quebra-ossos é o abutre mais ameaçado da Europa, onde se estima que existam hoje pouco mais de 200 casais, 130 dos quais em Espanha.

Em Portugal, a espécie está dada como extinta. Até há pouco tempo não se conheciam registos da sua ocorrência desde o final do século XIX, segundo o livro “Aves de Portugal” (2010). O registo mais preciso era de 1888 quando duas aves foram abatidas no rio Guadiana. Os exemplares estão hoje no Museu de Zoologia da Universidade de Coimbra. Mas em Maio de 2018, a Fundação para a Conservação dos Abutres revelou que um observador de aves alemão viu e fotografou um quebra-ossos no Algarve.

Em 2017 foram reintroduzidas na natureza 18 crias de quebra-ossos no âmbito de quatro projectos de conservação da espécie: seis na Andaluzia, duas na Córsega, quatro em Grands Causses/Massif Central e seis nos Alpes/Pré-Alpes.

Em 2018, foram reintroduzidos na natureza 13 quebra-ossos.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais sobre o quebra-ossos:

Como é um quebra-ossos: esta é uma ave com quase três metros de envergadura de asa e até oito quilos de peso. A plumagem pode ser muito escura na sua fase juvenil e tornar-se mais clara com as sucessivas mudas. Mas talvez o que melhor a caracteriza são as barbas escuras perto do bico e o vermelho vivo em redor dos olhos.

Onde nidifica: nas saliências rochosas das grandes cadeias montanhosas.

O que significa o seu nome científico: em Latim, Gyp quer dizer abutre, aetus quer dizer águia e barbatus quer dizer com barba.

Alimenta-se de quê: esta ave é a única do planeta que se alimenta quase exclusivamente de ossos, principalmente de ungulados. Pode chegar a alimentar-se de ossos com 20 centímetros, que digere graças ao seu potente estômago. Quando não os consegue comer inteiros, agarra neles com as suas garras e lança-os de grandes alturas em zonas rochosas para os quebrar.

Quais as maiores populações de quebra-ossos na Europa: esta é uma espécie em perigo de extinção no Velho Continente. As maiores populações são as da cordilheira Pirenaica, da Córsega e Creta. A nível mundial, a União Internacional para a Conservação da Natureza classificou-a como Quase Ameaçada.

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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