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tronco de uma árvore com musgo
Foto: Wilder/arquivo

Almargem denuncia destruição de pomares tradicionais no Algarve

09.08.2017

Oliveiras e alfarrobeiras centenárias, mas também amendoeiras e figueiras estão a ser arrancadas em várias zonas do Algarve, denuncia a Almargem, alertando para a destruição da paisagem mediterrânica e do património natural.

 

Num comunicado divulgado nesta segunda-feira, a Almargem – Associação de Defesa do Património Cultural e Ambiental do Algarve denuncia a destruição de “largos hectares de amendoeiras, alfarrobeiras, figueiras e oliveiras, algumas das quais de grande porte e respeitável idade, (…) no sítio da Balieira, entre Sta. Margarida e Sto. Estevão”, para instalação de um pomar de abacate.

Este não é caso único no Sotavento Algarvio. “Em áreas-chave da Dieta Mediterrânica em Portugal sucedem-se os atentados contra o coberto vegetal tradicional”, com “sucessivos terraceamentos das encostas e ripagens de alto-abaixo dos cerros”.

“Os pomares de sequeiro que, durante séculos, permitiram aos algarvios sobreviver por entre as sucessivas crises económicas do nosso país” estão a ser substituídos por culturas intensivas de laranja, vinha, frutos vermelhos e abacate. Segundo a Almargem, “a técnica maioritariamente usada é a hidroponia, a qual, além de implicar a decapagem e compactação total do solo, tem implicações ambientais graves incluindo a poluição das águas”.

A associação diz não estar contra o desenvolvimento e a valorização da atividade agrícola, porém “repudia profundamente esta situação de “vale tudo”, a qual considera inaceitável e que atenta de forma grosseira contra o património paisagístico da região”.

Entre a lista dos locais mais afectados nos últimos anos, segundo esta associação, está o Vale da Asseca, incluído no Aproveitamento Hidroagrícola do Sotavento e a zona de Torre d’Aires, sítio arqueológico romano, “o qual tem vindo a ser arrasado desde há décadas para fins agrícolas de caráter intensivo, com a complacência das autoridades, que autorizaram a instalação no local de estufas para cultivo de frutos vermelhos”.

No sítio da Fábrica (Cacela-a-Velha) foram abatidas oliveiras e alfarrobeiras centenárias, caso ainda mais grave uma vez que o local está incluído no Parque Natural da Ria Formosa. “Mas a circunstância de também se inserir no Aproveitamento Hidroagrícola do Sotavento, confere-lhe todo um regime de excepção, o qual, segundo o entendimento do ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas), isenta esta zona de quaisquer ‘obrigações de realização de um pedido de autorização para as atividades agrícolas que impliquem alteração ao relevo natural, corte de arvoredo existente e drenagem de terrenos, incluindo a instalação de estufas'”.

Mas a Almargem lembra que, de acordo com o Plano de Ordenamento do Parque Natural da Ria Formosa, estas áreas, nas quais se incluem grande parte dos terrenos situados entre Tavira e Cacela, correspondem “a áreas de enquadramento, transição e amortecimento de impactes ambientais”, onde se preconiza justamente a manutenção das zonas agrícolas compatíveis com valores naturais, bem como a conservação e valorização da paisagem.

No comunicado, a associação deixa um apelo urgente às entidades com competência sobre o território, “para que assumam uma atitude mais ativa e crítica no que respeita ao incremento dos projetos de produção agrícola não tradicional, em detrimento de áreas com vegetação natural, pomares de sequeiro e outros terrenos de cultivos tradicionais, que devem ser preservados”.

“Caso as entidades referidas nada façam e esta situação se mantenha inalterada, a Associação Almargem vai congregar esforços junto de todos os defensores da Paisagem Mediterrânica do Sotavento para elaboração de um dossier que inclua os mais recentes atentados aí perpetrados, o qual será enviado à consideração do Comité do Património Mundial da UNESCO.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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