Com flores esbranquiçadas e tons rosa, a Ononis varelae, foi descoberta por acaso pelos botânicos André Carapeto e Maria João Correia na Serra do Caldeirão, Algarve. Está ameaçada por um projeto de barragem.
A Ononis varelae ainda não tem nome comum em Português. Acaba de ser descrita para o nosso país num artigo científico publicado a 22 de Julho na revista Acta Botanica Malacitana.
Até agora, sabia-se que ocorria na Serra Morena, no Sul de Espanha, nas províncias de Córdova, Huelva, Jaén, Sevilha e Ciudad Real. Mas não em Portugal.
André Carapeto, um dos coordenadores do portal Flora-On, ajudou a Wilder a perceber de que planta se trata. “A Ononis varelae é uma planta da família das leguminosas, que tem muitas espécies em Portugal. É uma planta anual que produz umas vagens pequeninas. Nos meses da Primavera produz flores esbranquiçadas, com tons de cor de rosa, ao longo do caule. Uma das características distintivas é a pelusidade nas pétalas.”
Ocorre em solos pedregosos, de xisto, com estival e sobreiral.
A história desta descoberta começou em Abril de 2024, fruto do acaso, em dois momentos diferentes mas em locais relativamente próximos. O local foi o vale da Ribeira de Odeleite, um afluente do rio Guadiana.
“Eu estava a fazer um trabalho de cartografia no início de Abril e a Maria João estava a fazer um passeio para ver plantas em meados de Abril. Foi curioso porque, no espaço de 20 dias, ambos encontrámos uma planta que não se sabia existir em Portugal”, contou à Wilder.
Na verdade, André Carapeto já tinha visto esta planta em 2020. “Mas como não a colhi na altura, não tinha elementos para a identificar. Foram precisos quatro anos para voltar àquela região e colher frutos e flores.”
Depois, seguiu-se um trabalho moroso. “Andámos a tentar perceber que planta seria aquela porque acreditávamos que tínhamos uma planta nova para Portugal.” Com a ajuda de outros botânicos, estudaram os espécimes guardados em herbários portugueses e espanhóis porque poderia “haver algo esquecido nessas colecções”.
Até que encontraram um espécime no herbário da Escola Superior Agrária de Lisboa, no Instituto Superior de Agronomia (ISA). Este espécime de Ononis varelae tinha sido colhido em 1969 pelo agrónomo Joaquim Horta Correia e atribuído a uma espécie diferente.
“Os espécimes dos herbários são extremamente importantes. Neste caso em concreto foi o que nos permitiu confirmar que esta não era uma planta invasora no nosso país, que apareceu agora, mas sim uma que já tem um registo de várias décadas em Portugal e que, por isso, é nativa”, explicou André Carapeto.
Os botânicos atribuíram um estatuto de conservação preliminar de Em Perigo a esta espécie, principalmente porque enfrenta “ameaças muito significativas”. O especialista lembrou que para a região está prevista a construção de uma nova barragem, o que vai destruir habitat potencial para esta espécie.
Num mundo ideal, com mais recursos, seria importante sair para a Serra do Caldeirão para procurar outros núcleos desta joina nos vales adjacentes, como o vale da ribeira do Vascão e da ribeira da Foupana. “Agora o que vai acontecer é que, com esta descrição e publicação da espécie no portal Flora-On, a comunidade botânica vai ficar mais atenta a esta espécie, sempre que andarem no terreno. Acredito que comecem a aparecer novos registos.”
Ainda assim, “não haverá muitos mais, porque esta planta não será abundante”.
Para o futuro, André Carapeto acredita que Portugal tem potencial para mais novidades botânicas. Mas são precisos mais olhos no terreno.