Um jovem abutre-preto (Aegypius monachus) foi devolvido à natureza esta quarta-feira, dia 23, no concelho de Freixo de Espada à Cinta, em Bragança. É um dos abutres-pretos em Portugal cujos movimentos estão a ser acompanhados.
O abutre tinha sido encontrado por habitantes locais “muito debilitado fisicamente”, no início de Outubro passado. Encontrava-se “junto a uma rotunda numa zona urbana, um local improvável”, no centro da cidade de Valongo, descreveu a Palombar – Associação de Conservação da Natureza e do Património Rural.
Ao longo da recuperação, este abutre-preto conheceu vários locais. Primeiro foi transportado para o Parque Biológico de Gaia, de onde foi depois transferido para o Centro de Recuperação de Animais Selvagens do Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real. Finalmente, esteve no CIARA (Centro de Interpretação Ambiental e Recuperação Animal), em Felgar, Torre de Moncorvo.
Depois de três meses, a ave foi agora libertada no Parque Natural do Douro Internacional, no âmbito do projecto Life Rupis, coordenado pela SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves). Preso às costas levou um pequeno transmissor GPS, que pesa entre 30 e 40 gramas.
Dessa forma, “os conservacionistas vão poder compreender os seus movimentos, áreas de alimentação e hábitos, e também vão poder ir buscá-lo quando um abutre não se está a mover e pode estar potencialmente ferido”, explica a Vulture Conservation Foundation (VCF). Esta fundação trabalha para a conservação dos abutres na Europa e é uma das parceiras do Life Rupis, tal como a Palombar.
O que terá acontecido a esta ave?
“Os jovens abutres-pretos viajam intensivamente nos primeiros anos depois de abandonarem o ninho e podem por vezes ficar exaustos durante essas longas viagens”, adianta a VCF.
Este abutre não foi o primeiro a ser encontrado em Portugal nesta situação. Côa, baptizado com o nome do rio onde regressou à natureza em Novembro passado, tinha sido recolhido em Coimbra no mês anterior, “em estado de exaustão”. Recuperou no CERVAS (Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens), em Gouveia.
Já Orca tinha sido encontrado ferido na localidade do mesmo nome (concelho de Fundão), em Setembro. Foi levado para o CERAS (Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens), onde “recuperou totalmente ao longo de quatro meses”, antes de ser libertado no Parque Natural do Tejo Internacional.
Ambos foram equipados com um transmissor GPS, tal como tinha já acontecido com um abutre-preto em Julho de 2018, na Herdade da Contenda, em Moura: Murtigão, com cerca de três meses de idade. Neste caso, no âmbito do trabalho para a conservação da espécie que ali tem sido coordenado pela Liga para a Protecção da Natureza.
“A informação fornecida ao seguirmos estas aves é vital para revelar qualquer ameaça que elas possam enfrentar à medida que a espécie continua a regressar a Portugal”, explica ainda a VCF. Os movimentos destas três aves – Murtigão, Côa e Orca – podem ser seguidos quase em tempo real, em mapas online.
Há 25 casais há em Portugal
Os abutres-pretos deixaram de se reproduzir em Portugal nos anos 1970, afugentados principalmente pelo uso de carcaças de animais envenenadas para matar predadores indesejados. Ainda hoje, a espécie continua a ser considerada Criticamente em Perigo, em território português.
Mas em 2010, devido ao crescimento das populações em Espanha, assistiu-se ao regresso da nidificação desta espécie em território português, no Parque Natural do Tejo Internacional. Hoje, há registo de 10 casais reprodutores nesta região do Centro do país e de um outro casal no Nordeste.
Já em 2015 nasceu a primeira cria desta espécie na Herdade da Contenda, no Alentejo, região onde isso não acontecia há 40 anos. Essa primeira cria de abutre-preto foi marcada com um emissor GPS, em Julho desse ano. Ali, contam-se actualmente cerca de 8 casais.
[divider type=”thin”]Saiba mais.
Em 2018, nasceram em Portugal 10 crias de abutre-preto.
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