Por que não incluir a descoberta da natureza nos seus dias de férias? Marta Pinto, coordenadora do projecto “FUTURO – 100 mil árvores na Área Metropolitana do Porto”, sugere três sítios ideais para uma exploração em família.
Estas três sugestões estão todas na Área Metropolitana do Porto. Não são espaços naturais intocados ou remotos. Pelo contrário, estão perto da cidade e são locais ideais para uma exploração em família. Cada um tem um caráter distinto mas qualquer um é ideal para observar e aprender mais sobre a fauna, flora, bem como sobre a história remota e recente da região. Une estas áreas o facto de todas estarem em intervenção no âmbito do FUTURO – projeto das 100.000 árvores.
Parque de Avioso (Maia)
O Parque de Avioso tem 30 hectares e está traçado sobre uma antiga quinta. Qualquer visitante sentirá de imediato que está num sítio diferente: aqui são privilegiados os espaços naturalizados, a regeneração natural, o desenho informal, a vegetação autóctone e a manutenção de baixo custo. Da velha quinta mantêm-se os nobres sobreiros, alguns de porte considerável, e carvalhos-alvarinhos. Podem também apreciar-se azevinhos e medronheiros e em algumas subzonas, no âmbito do FUTURO, estão a ser plantados pilriteiros e castanheiros.
No interior do Parque nasce a Ribeira de Almorode. À sua volta pode apreciar-se uma densa cobertura de amieiros e salgueiros, espécies típicas de zonas ribeirinhas. Esta límpida linha de água percorre o Parque, não sem antes encher um antigo tanque de rega, um lago e um charco, para se juntar depois a outras linhas de água e formar a Ribeira do Arquinho, o maior afluente do Rio Leça. Com sorte, ao percorrer a área perto da linha de água, delimitada por um carvalhal, pode observar-se algum anfíbio como a salamandra-de-pintas-amarelas, o sapo-comum ou o tritão-de-ventre-laranja.
Para ajudar a conhecer melhor estes vertebrados existem painéis interpretativos em locais chave.
Ao longo da linha de água foram plantados sabugueiros, ulmeiros, freixos e sanguinhos-de-água. Saiba ainda que aqui se pode encontrar a salamandra-lusitânica, bem como o lagarto d’água e o sardão, o que atesta a qualidade ecológica deste espaço.
Para potenciar e conservar a biodiversidade, o Parque de Avioso é gerido com regras de gestão natural, sem utilização de pesticidas, herbicidas (tem por isso o selo de “Jardim ao Natural”).
Localização:
Coordenadas: +41° 17′ 25.81″, -8° 36′ 34.53″ (N318, Rua Central da Carriça)
Acessível a pessoas com mobilidade reduzida.
Parque das Ribeiras do Uíma (Santa Maria da Feira)
O Parque das Ribeiras do Uíma ocupa uma grande mancha aluvionar. Aqui afluem diversas ribeiras ao Uíma, gerando uma extensa zona húmida. Num passado não tão remoto este vale era uma riquíssima área agrícola, o que ainda se pode observar na arquitectura em redor (assentos de lavoura, grandes espigueiros). Mas com o abandono da agricultura a área foi recolonizada pela vegetação ripícola, como o amieiro, o salgueiro e o freixo.
Recentemente o município apostou pela criação neste local de um percurso sobre-elevado (pedestre) e o resultado é um mágico corredor que nos transporta ao longo das margens das linhas de água, das áreas inundáveis e dos campos agrícolas.
Ao longo do caminho – que tem cerca de 3 km – há vários elementos que nos ajudam a interpretar a paisagem, a fauna e a flora, bem como a história do local. É-nos apresentada a tabua, a lontra, o pirilampo (rei das atividades noturnas no início do verão), o rouxinol-bravo, a enguia, entre outras espécies e focos de interesse.
Destaca-se ao longo da visita um denso bosque de salgueiro-negro, com exemplares de grande dimensão na zona sujeita ao regime de cheia de rio.
Localização:
Coordenadas: 40.995415,-8.511057 (EN326, Rua Principal, Fiães) ou 40.986144, -8.508872 (Rua Rio Uima, 143, Lobão)
Acessível a pessoas com mobilidade reduzida. A interpretação é ainda acessível a invisuais (pode descarregar podcast com áudio dos vários pontos de interpretação aqui).
Carvalhal de Valinhas (Santo Tirso)
O Carvalhal de Valinhas é um daqueles lugares mágicos que vale a pena conhecer. Aqui encontramos um núcleo de sobreiro e de carvalho-alvarinho centenários e com uma imponência que não é habitual encontrar na região (um deles está classificado desde 1940).
O local é privado mas de uso público. E o uso é muito. Enquadrada no carvalhal há uma capela – a de Nossa Senhora de Valinhas – à qual se faz uma romaria em setembro. Assim, se visitar este local fascinante numa busca de tranquilidade não o faça na altura da festa e evite os fins-de-semana. Num dia tranquilo pode simplesmente sentar-se à sombra de uma das vetustas árvores e sentir a força do local. Depois calcorreie a área e veja que além deste carvalhal maduro, as bordaduras são dominadas por sanguinho-de-água, pereira-brava e loureiro.
Se quiser caminhar um pouco atravesse a estrada e entre no trilho pedestre PR1 ST que, subindo a encosta, o leva ao Castro do Monte Padrão onde pode apreciar um surpreendente bosque de sobreiros e explorar as pegadas arqueológicas desta área ocupada por castrejos e romanos.
Nas imediações do Carvalhal de Valinhas há outros locais de grande interesse: a nascente do Rio Leça, as Quedas de Fervença (série de pequenas cascatas naturais no troço nascente do Rio Leça) e o Rego dos Frades, uma engenhosa obra hidráulica com cerca de 1.000 anos de idade.
[divider type=”thin”] Para aproveitar melhor as férias de Verão, pedimos a vários naturalistas e especialistas ligados à biodiversidade algumas sugestões de passeios. Aqui pode descobrir todas as sugestões já publicadas:
Estações da biodiversidade entre a Serra da Freita a Montemuro (Arouca, Cinfães, Castro Daire), por Patrícia Garcia Pereira
Serra do Marão/Alvão, por Luís Quinta
Serra do Caramulo e Parque do Buçaquinho, por Milene Matos
Quinta do Lago e Via Algarviana, por Almargem