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ramos de um arbusto

Espectáculos da natureza para ver no Inverno

03.12.2014

1. Os grous no Alentejo (Pedro Salgado, ilustrador científico e desenhador naturalista)

Desde há cerca de uma década para cá vou todos os anos com os meus filhos, entre o Natal e o Ano Novo, passar um dia ao Alentejo para visitar os grous que migraram das terras frias do Norte da Europa. Um momento muito especial é assistir à última hora de luz do dia, com os grous a chegarem às margens de espelhos de água, onde passam a noite. E não há fotografia ou desenho que descreva o momento. Valem-nos as memórias da luz do céu e da água rasgados pelos bandos destas aves majestosas. Uma boa maneira de começar o ano que se estreia.

2. Bagas e flores de Inverno (Maria Amélia Martins-Loução, botânica)

Esta é uma época do ano muito interessante quanto às bagas. Tanto gosto do azevinho como da murta. Tanto me delicio a ver a gilbardeira (muito utilizada no Natal, em substituição do azevinho), como o próprio medronheiro que está lindo, com as flores e as bagas vermelhas, suculentas e gostosas.

Depois, existem várias plantas que florescem agora. Temos arbustos, como o medronheiro e as vulgares ericas (urzes). Além destas, há muitas plantas do sapal alto que também têm agora a sua floração, altura em que os custos energéticos são mais baixos porque o sal é mais baixo.

Se for ver o mar, pode encontrar nas dunas ou arribas litorais uma pequena planta, a escudinha (Lobularia maritima) que, com o frio e o sal, apresenta as folhas suculentas e avermelhadas. Na zona alta das dunas, por vezes em sub-coberto de pinhais ou zimbrais, encontramos um arbusto, a camarinha (Corema album), com folhas cilíndricas pequenas e bagas brancas, muito gostosas. A escudinha pode ser vista junto ao Guincho e do Guincho a caminho da Serra de Sintra, nos taludes de estrada, Cabo Raso ou Cabo da Roca. A camarinha mais abaixo, em Tróia, ou na zona acima de Peniche, no Osso da Baleia.

3. Um fim-de-semana na Serra de São Mamede (João Nunes da Silva, fotógrafo)

Proponho “fugir” durante um fim-de-semana até ao Alto Alentejo. Nesta altura do ano, a região é absolutamente fantástica. Visite a Serra de São Mamede, cujo pico chega aos 1025 metros de altura e é um dos poucos locais do Alentejo onde nos meses mais frios chega a nevar, conferindo à serra um extenso manto branco. À medida que sobe, vai encontrar uma pequena área de carvalhos desfolhados. São carvalhos-negral (Quercus pyrenaica) que, juntamente com os castanheiros (Castenea sativa), são algumas das relíquias do Parque Natural da Serra de São Mamede, criado em 1989. Dentro dos 30.000 hectares desta área protegida procure observar, pelo menos, cinco espécies muito especiais: a águia-de-Bonelli (Hieraaetus fasciatus), símbolo do parque, o grifo (Gyps fulvus) – constantemente varrendo os céus da região –, o bufo-real (Bubo bubo) – observável nalgumas zonas ao cair da noite, como a escarpa perto dos Galegos -, o veado (Cervus elaphus) e a rela-meridional (Hyla meridionalis).

4. Musgos (Cristiana Vieira, bióloga)

Em Portugal conhecem-se mais de 700 espécies de musgos. E é com os orvalhos, geadas, chuvas e neves do Inverno que eles ficam ainda mais vistosos, com os seus infindáveis tons verdes, pequenos caules e folhas de mil formas. Procure-os a forrar uma pedra solta de um muro ou à beira do caminho, sobre um tronco, equilibrados nas lamas frescas ou penteados pelas águas correntes. E os musgos estão muito longe de serem apenas decorativos, especialmente para os presépios de Natal. São plantas únicas e florestas em miniatura que aquecem e dão abrigo aos pequenos insectos que neles se refugiam do frio rigoroso e dos predadores. Vários animais usam-no ainda para forrar os seus ninhos e tocas. Consegue observar estes usos na natureza? Fica aqui o desafio para registar nos seus cadernos de campo, com a câmara fotográfica ou apenas na memória.

5. Borboleta almirante-vermelho (Maria João Verdasca, entomóloga)

A borboleta almirante vermelho passa o Inverno na forma adulta e, por isso, é frequentemente vista nesta época. Procure a borboleta nos dias de Sol em locais floridos e orlas florestais. Os dias frios do inverno podem ser particularmente difíceis para a sobrevivência de algumas espécies de borboletas que, por isso, optam por hibernar nesta altura na forma de ovo, lagarta ou crisálida. No entanto, espécies como a borboleta-almirante-vermelho (Vanessa atalanta) desafiam a mãe natureza voando teimosamente nos dias mais solarengos do Inverno em busca de alimento. Quando o Sol se esconde e o frio aperta, estas borboletas mantêm-se inativas repousando de asas fechadas em troncos de carvalho, onde permanecem perfeitamente camufladas e despercebidas. Esta espécie voa durante todo o ano ao longo de duas a três gerações. Os ovos são colocados individualmente em folhas de urtiga ou de parietária e as lagartas (espinhosas e escuras com uma linha lateral amarela), constroem um abrigo unindo as folhas da sua planta hospedeira com fios de seda. Desta forma, as lagartas permanecem escondidas dos seus predadores enquanto se alimentam até à formação da crisálida.

6. Grifos (Teresa Maria Gamito, naturalista)

Em dias de sol é um espectáculo inesquecível observar bandos de dezenas de grifos em evoluções circulares aproveitando as correntes térmicas que os ajudam a planar. E esse espectáculo ainda é mais interessante entre meados de Dezembro e fim de Janeiro quando se vêem os casais em rituais de namoro, e antes de um dos membros de cada casal estar em permanência a chocar o ovo e depois a tomar conta da cria. Os melhores locais para observar os seus “bailados” são as Portas de Ródão (castelo do rei Wamba) e o Douro Internacional em vários locais, sendo os meus preferidos o miradouro do Carrascalinho em Lagoaça, com uma vista deslumbrante do rio Douro e onde se vêm os bandos de grifos a evoluirem de escarpa em escarpa, e o Penedo Durão, em Freixo de Espada à Cinta onde os vemos, olhos nos olhos, à beira da escarpa.

7. A luminosidade do Inverno (Pedro Cuiça, montanhista)

A Natureza no Inverno são noites longas e misteriosas, ora pontilhadas por miríades de estrelas ora carregadas de profunda escuridão entrecortada por clarões trovejantes; dias de fria e contrastante luminosidade, de amplas panorâmicas, intercalados de cinzentas jornadas de limitados horizontes; tempestuosos aguaceiros, o som da chuva e o cheiro a terra; o despontar de cogumelos, migrações e hibernações; o verde da vegetação e a brancura da neve ou das amendoeiras em flor. Inverno é uma expectante e prometedora dormência parturiente de nova vida.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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