Aves do mês: o que ver em Fevereiro

06.02.2025

Cinco aves a não perder em Fevereiro, seleccionadas por Gonçalo Elias e fotografadas por José Frade. Saiba o que estão a fazer este mês, como identificá-las e onde procurá-las. Observar aves nunca foi tão fácil.

Terminamos aqui esta série de artigos sobre as “aves do mês”. Ao longo de vinte e quatro meses, deixámos sugestões de aves para observar em Portugal nesse mês, num total de 120 espécies de aves relativamente comuns. Neste último texto, aqui ficam as últimas cinco ideias de aves para ver, referentes ao mês de Fevereiro.

Mergulhão-de-crista (Podiceps cristatus):

    Foto: José Frade

    O que está a fazer em Fevereiro: Com a aproximação da época dos ninhos, os mergulhões-de-crista começam a envergar a sua bela plumagem de Verão. As suas espectaculares paradas nupciais observam-se sobretudo em Março, contudo em Fevereiro muitas aves já andam aos pares. Estarão já a ‘namorar’?

    Esta ave aquática é do tamanho de um pato, mas com um longo pescoço mantido na vertical e um bico alongado do tipo adaga. Na Primavera, apresenta dois tufos na parte posterior da cabeça e uma “gola” arruivada. No Inverno, a plumagem é menos vistosa, destacando-se o longo pescoço branco.

    Frequenta sobretudo albufeiras de média ou de grande dimensão, incluindo barragens quase desprovidas de vegetação nas margens. Também nidifica regularmente em zonas húmidas do litoral algarvio e, esporadicamente, na lagoa de Santo André. Durante o Inverno surge, por vezes, noutros pontos do litoral, como por exemplo nas aquaculturas e nas águas livres dos estuários do Sado e do Tejo.

    Embora este mergulhão seja hoje relativamente comum em Portugal, o seu aparecimento é recente. A nidificação foi confirmada pela primeira vez na albufeira de Odivelas, no Alentejo, em 1973. A construção de novas barragens e o consequente aparecimento de muitas albufeiras deverá ter contribuído para a expansão desta ave.

    Onde ver: Quinta do Lago, albufeira do Caia, albufeira do Azibo.

    Ostraceiro (Haematopus ostralegus):

      Foto: José Frade

      O que está a fazer em Fevereiro: Tal como acontece ao longo do Inverno, os ostraceiros podem ser vistos em pequenos bandos, procurando alimento durante a maré-baixa. Em breve muitos irão partir para os seus territórios de nidificação, situados em países mais a norte.

      Esta limícola de tamanho médio é fácil de identificar, graças à plumagem preta e branca e ao longo e robusto bico vermelho alaranjado. Em voo, é bem visível uma barra alar branca. As aves invernantes apresentam, além disso, um colar branco, incompleto.

      O ostraceiro é uma ave do litoral. Frequenta toda a costa, do Minho ao Algarve, ocorrendo em praias rochosas e arenosas, assim como em estuários e zonas lagunares costeiras. Nos estuários, prefere os sectores mais arenosos. Quando a maré sobe, refugia-se em salinas ou então repousa sobre rochedos, lajes de pedra, restingas ou sapais.

      Na década de 1930 os ostraceiros nidificavam perto da Comporta, no estuário do Sado. É possível que, num passado mais remoto, tivessem uma distribuição mais alargada em Portugal como nidificantes, sendo de referir que esta espécie ainda hoje se reproduz no norte de Espanha.

      Onde ver: lagoa de Óbidos, estuário do Sado, ria Formosa.

      Carriça (Troglodytes troglodytes):

        Foto: José Frade

        O que está a fazer em Fevereiro: O canto da carriça pode ouvir-se ao longo de todo o ano, contudo é na época dos ninhos que ele é emitido com mais frequência. Assim, em Fevereiro, com o aproximar da Primavera, já é possível escutar o potente canto desta pequena ave, o que ajuda a perceber onde é que ela se esconde.

        De cor castanha e aspecto compacto, a carriça é uma das aves mais pequenas da nossa fauna. Tem uma cauda curta, que está frequentemente levantada. A espécie raramente pousa à vista e tende a esconder-se por entre a vegetação, mas faz-se notar pelo seu canto potente e pelos chamamentos do tipo ”metralhadora”.

        Esta pequena ave pode ser vista numa grande diversidade de habitats, desde que haja zonas com alguma vegetação densa – assim, ocorre em sebes e silvados, matagais (como matos de giestas, urzes ou estevas), bosques variados com sub-bosque bem desenvolvido, matas ripícolas e ainda parques e jardins de zonas urbanas.

        A carriça pode construir ninhos em locais muito originais, conhecendo-se casos de ninhos de carriça feitos em velhos ninhos de andorinhas-das-chaminés, em peças de roupa a secar num estendal ou até numa coroa de Natal pendurada à porta de uma moradia.

        Onde ver: parques e jardins, matas ribeirinhas, matagais.

        Chapim-carvoeiro (Periparus ater):

          Foto: José Frade

          O que está a fazer em Fevereiro: O aumento do comprimento dos dias, que já é visível em Fevereiro, estimula muitos passeriformes a cantar e a defender os seus territórios e assim, ao longo deste mês, é possível ouvir com frequência o canto deste pequeno chapim, em geral emitido a partir da copa de uma árvore.

          De dimensão reduzida, não é maior que o chapim-azul. A cabeça é preta, destacando-se as faces brancas e a mancha branca na nuca. O padrão facial pode fazer lembrar o chapim-real, mas distingue-se deste pelo seu menor tamanho, bem como pela ausência de amarelo nas partes inferiores e por não ter uma risca preta vertical no peito e no ventre.

          Pode ser visto em pinhais de pinheiro-bravo, que constituem o seu habitat favorito numa grande parte do país e onde é mais numeroso. Também aparece em matas mistas, matas ripícolas, carvalhais, soutos, povoamentos jovens de pinheiro-bravo e ainda povoamentos de outras espécies de pinheiro, como o pinheiro-manso, o pinheiro-negro e o pinheiro-de-casquinha.

          Em Portugal ocorre a subespécie Periparus ater vieirae. O nome subespecífico constitui uma homenagem a um investigador português, Adriano Xavier Lopes Vieira, que desenvolveu trabalho na Universidade de Coimbra, em finais do séc. XIX e início do séc. XX.

          Onde ver: jardins de Lisboa, jardins do Porto, serra da Estrela.

          Tentilhão-comum (Fringilla coelebs):

            Foto: José Frade

            O que está a fazer em Fevereiro: Neste mês estão presentes dois grupos de tentilhões em Portugal Continental: por um lado, os indivíduos invernantes, que vieram cá passar a estação fria, e que se juntam em bandos, muitas vezes longe de árvores, enquanto procuram alimento; por outro lado, as aves nidificantes, que por esta altura podem já ser ouvidas a cantar activamente.

            O macho é bastante colorido e apresenta um barrete azulado, que se prolonga pela nuca; o peito e as faces são arruivados, e tem uma mancha branca nas asas, bastante visível também em voo. A fêmea tem tons castanhos, mas também exibe a mancha branca nas asas. O bico é cinzento, cónico e bastante robusto.

            Durante a época dos ninhos, no norte e centro encontra-se em todo o tipo de zonas arborizadas, incluindo bosquetes, sebes vivas, matas ribeirinhas, pomares e linhas de árvores ao longo das estradas, enquanto no sul surge quase exclusivamente em montados e em pinhais contínuos. Na época fria, aparece em terrenos abertos e amplos, com restolhos de cereais, lavrados, pastagens e pousios.

            Nos Açores e na Madeira ocorrem duas outras espécies de tentilhões: Fringilla moreletti e Fringilla maderensis, respectivamente. Até há poucos anos, ambas eram consideradas subespécies do tentilhão-comum, mas entretanto foram ‘promovidas’ à categoria de espécie.

            Onde ver: bosques de folhosas e resinosas, de norte a sul do país.


            Agora é a sua vez.

            Parta à descoberta destas espécies e envie as suas fotografias, com a data e a localidade, para o email [email protected]. No final do mês publicaremos uma galeria com as suas imagens e descobertas!

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