Três fotógrafos juntaram-se para nos mostrar as sete espécies de aves de rapina nocturnas de Portugal. A exposição está à sua espera no Palácio de D. Manuel, em Évora, até 14 de Fevereiro.
A coruja-das-torres (Tyto alba), a coruja-do-mato (Strix aluco), o mocho-galego (Athene noctua), o bufo-real (Bubo bubo), o bufo-pequeno (Asio otus), a coruja-do-nabal (Asio flammeus) e o mocho-d’orelhas (Otus scops) estão todos representados na exposição colectiva “Aves de rapina nocturnas em Portugal”.
A exposição – organizada pela Câmara Municipal de Évora, pelo Laboratório de Ornitologia – Universidade de Évora e pela STRI/ALDEIA – é composta por 21 fotografias, da autoria de Artur Vaz Oliveira, Pedro Marques e Pierre Lemos. Todos se dedicam à fotografia de natureza como passatempo.
“Esta é a primeira vez que a exposição está disponível ao público em geral”, explicou à Wilder Inês Roque, do Laboratório de Ornitologia – Universidade de Évora. “Foi criada para a World Owl Conference de 2017, que se realizou em Setembro em Évora. Agora o conceito evoluiu e a ideia é levá-la a vários pontos do país.”
Cada imagem é acompanhada por informações sobre a espécie. Isto porque o objectivo por detrás da exposição é sensibilizar as pessoas para a importância destas aves.
“Gostaria que esta exposição possibilitasse um melhor conhecimento das espécies e que, dessa forma, pudessem contribuir para a sua conservação”, contou à Wilder Artur Vaz Oliveira. “A verdade é que algumas pessoas vivem uma vida inteira ao lado de algumas delas e nunca as viram.”
A acompanhar as imagens estão, por exemplo, as estimativas populacionais para as sete espécies. Actualmente, todas têm tendências negativas ou incertas. Segundo Inês Roque, estas aves de rapina estão ameaçadas pela perda dos locais de nidificação, pelos atropelamentos, pelas alterações no seu habitat, nomeadamente pelas monoculturas intensivas e uso de químicos.
Mas a conotação negativa que lhe era atribuída pela cultura popular já está a desaparecer. “As aves já foram mais perseguidas por serem consideradas aves de mau agoiro. Hoje já se desmistificou um pouco” este cenário, comentou a investigadora. Agora, acrescentou, faltam medidas de conservação para estas aves.
De acordo com os organizadores da exposição, uma iniciativa patrocinada pela Altri, as rapinas noturnas são predadores de topo que “contribuem para a sustentabilidade das populações das suas presas e a sua presença é indicadora de ecossistemas equilibrados e de grande valor biológico”. Algumas espécies são importantes para a agricultura biológica, “para controlo natural de pragas de micromamíferos e insectos” e para a monitorização da contaminação ambiental, “uma vez que acumulam uma série de poluentes químicos ampliados ao longo da cadeia alimentar”.
E para ajudar estas rapinas nocturnas, “todas as fotografias foram obtidas sem perturbar as aves”, salientou Inês Roque. “Há quem use iscos ou tire fotografias demasiado perto. Ora esta exposição mostra que não é preciso isso para conseguir fotografias extraordinárias.”
[divider type=”thick”]Saiba mais.
Conheça estes números sobre as populações das sete espécies:
Coruja-das-torres:
Residente
Estimativa populacional: 5.700-8.100 casais
Tendência negativa
Estatuto: Pouco Preocupante
Mocho-d’orelhas:
Estival
Estimativa populacional: 3.500-7.700 casais
Tendência negativa
Estatuto: Informação Insuficiente
Bufo-real:
Residente
Estimativa populacional: 380-580 casais
Tendência incerta
Estatuto: Quase Ameaçado
Mocho-galego:
Residente
Estimativa populacional: 58.000-137.000 casais
Tendência negativa
Estatuto: Pouco Preocupante
Coruja-do-mato:
Residente
Estimativa populacional: 8.000-15.000 casais
Tendência incerta
Estatuto: Pouco Preocupante
Bufo-pequeno:
Residente
Estimativa populacional: 200-1.000 casais
Tendência incerta
Estatuto: Informação Insuficiente
Coruja-do-nabal:
Invernante
Estimativa populacional: 100-160 indivíduos
Tendência não disponível
Estatuto: Em perigo
Estimativas populacionais: Lourenço et al.2015. Current status and distribution of nocturnal birds (Strigiformes and Caprimulgiformes) in Portugal. Airo 23: 36-50.
Tendências populacionais: GTAN-SPEA, 2017. Relatório do Programa NOCTUA Portugal (2009/10 – 2016/17). Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Lisboa (relatório não publicado).