Como registar a natureza num caderno de campo

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Luísa Ferreira Nunes dá-lhe as suas melhores sugestões de como criar e manter um diário da natureza. Comece a documentar o mundo natural que admira tomando notas das suas observações através de palavras ou desenhos.

Um diário da natureza é um espaço para desenvolver os nossos pensamentos, sentimentos, ideias, atividades e observações que percepcionamos no mundo natural. 

Luísa Ferreira Nunes. Foto: D.R.

Pode ser muito mais do que fazer apenas registos do que vemos.

Sugiro a um principiante uma imersão por alguns minutos numa floresta, num jardim público ou até no quintal da nossa casa. Nos dias agradáveis de primavera gosto de fechar os olhos e tentar identificar sons diversos como os diferentes cantos das aves (não precisamos de saber de que espécies se trata, apenas diferenciá-las); depois sentir a direção do vento, de onde sopra e com que intensidade; sons de um riacho ou de uma queda de água; sons produzidos pela ação da brisa na vegetação, como o abanar das folhas dos choupos junto às margens de um rio.

Assim, pouco a pouco, os seus sentidos sincronizam-se com o ambiente que o envolve e acaba por “ver” e sentir muito mais sobre a natureza do que se se conduzisse apenas pela sua visão.

Depois pode procurar a origem dos sons que escutou ou apenas observar em redor. Lembre-se que é importante estimular a sua curiosidade e talvez questionar-se, por exemplo, sobre a razão de algumas formas, de algumas cores e de alguns comportamentos das espécies.

Pode usar um caderno de capa dura, que dá mais estabilidade à escrita e ao desenho, ou usar folhas de papel separadas e encaderná-las de seguida pelas suas mãos. Pode escolher uma capa relacionada com a região onde está ou com um período do ano.

Não importa se sabe ou não desenhar. Deixe que o seu lápis ou pincel interpretem o que vê. Se se concentrar muito em obter a perfeição do traço pode perder outros detalhes. Desenhar no campo é um acto muito impressivo e cada um o faz à sua maneira. Se quiser ir conhecendo mais sobre o que vai descobrindo, coloque anotações para que mais tarde possa completar as suas descrições e identificações  com a ajuda de guias ou aplicações.

Caderno de campo de Luísa Ferreira Nunes. Foto: Luísa Ferreira Nunes

Agora, alguns aspectos práticos que o poderão ajudar:

Para começar:

Transporte consigo o diário e um lápis para estar pronto para registar as observações sempre que há essa oportunidade;

Quando fizer desenhos, colar pedaços de plantas ou fotografias, anote a data, a hora, o local e aspectos meteorológicos;

Permita que os seus sentidos observem completamente o que está a acontecer em seu redor; 

Registe o que vê, ouve e cheira;  

Use pequenas notas para salientar algumas das suas observações, emoções, pensamentos e ideias. Por exemplo, escolha uma árvore no seu quintal, bairro ou parque local. O que pode notar sobre seu cheiro, casca, folhas, raízes, sementes, frutos? Que tipo de árvore é? Que espécies de animais se encontram na árvore? Qual o tamanho da árvore (altura e largura)? Qual é o papel da árvore neste seu ambiente?  

Não deixe que o estado do tempo o impeça de sair. A natureza acontece quer esteja a chover, a nevar, no meio da ventania ou num belo dia de sol; 

Permita que o diário seja como o início de uma investigação. Procure os nomes e as explicações do que observou;

Caderno de campo de Luísa Ferreira Nunes. Foto: Luísa Ferreira Nunes

Fique atento aos sinais de vida selvagem, como por exemplo pegadas, teias de aranha, ninhos, tocas… Mas não interfira nem perturbe;

Explore os sítios naturais locais. A natureza está espalhada por todo o lado, até num simples canteiro do jardim local.


Ideias sobre o que incluir no caderno de campo:

Medidas / gráficos – procure padrões;

Poesia;

Citações;

Lista de pássaros, plantas, animais, folhas, flores;

Sementes ou frutos de plantas que observou;

Desenhos de pegadas de animais, pássaros, plantas, flores, frutos, nozes.


Que materiais precisa:

Pode usar um lápis macio cujo traço possa apagar facilmente se quiser corrigir; desenhar à vista nem sempre é um acto fluido.

Luísa Ferreira Nunes. Foto: D.R.

Se quiser adicionar cor, pode usar lápis de cor, lápis-aguarela ou mesmo aguarelas. Existem pequenos estojos de preço muito acessível em várias lojas/supermercados.

Aconselho a levar um pincel com depósito de água para não ter de carregar uma pequena garrafa para esse efeito. Estes pincéis vendem-se em lojas de produtos de desenho e pintura.

Quanto ao papel, pode escolher um caderno de desenho ou optar por um bloco de aguarela ou folhas individuais que depois pode encadernar (encontram-se online muitas explicações de como facilmente encadernar folhas soltas).


Saiba mais.

Explore aqui a secção da Wilder sobre Desenho de Natureza. Aqui encontrará mais artigos com dicas e testemunhos de outros ilustradores naturalistas.

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