Nos últimos anos, as actividades ao ar livre têm atraído mais e mais adeptos. Em muitos casos, este é um fenómeno que representa uma espécie de regresso ao campo de cidadãos que agora vêm correr, andar de bicicleta, caminhar ou trepar montanhas, frequentemente enquadrados por programas recreativos e de lazer ou eventos desportivos, alguns mais radicais, gerados pela onda do «outdoor» e por uma vasta gama de produtos e serviços que, a pouco e pouco, foram fazendo moda. É uma evolução que reflecte a procura de uma qualidade de vida melhor e que gera uma aproximação à natureza para desfrutar de momentos libertadores das muitas pressões do quotidiano nas grandes cidades.
Passado o tempo de descoberta de uma qualquer nova actividade, impõem-se motivações fortes para que aquilo que se vai tornando numa (nova) rotina não sucumba à falta de vontade de insistir em praticá-la. Além dos benefícios para a saúde e para a auto estima que a evolução da condição física promove, o que se evoca para continuar, são metas e desafios que se procuram e se tentam ultrapassar, como distâncias percorridas, tempos consumidos a vencê-las, altitudes alcançadas, cumes de montanhas conquistados.
Revelador da atracção que quase todos sentem, mesmo que de formas diversas, pela harmonia e beleza de um território com natureza selvagem, é a constante procura dos melhores redutos, dos mais remotos e conservados, dos menos sinalizados pela presença humana e em que emerge uma certa sensação de aventura. É algo instintivo que também explica o modo como uma grande maioria evoca muitas vezes com paixão, paragens tão distantes como a savana africana, a selva amazónica ou os confins da Patagónia.
Em Portugal também temos espaços com vida selvagem. Vivemos num território geograficamente bem situado, com um clima amansado pela proximidade da bacia mediterrânica mas maioritariamente limitado por dois mundos tão distintos como são um oceano e um continente de efeitos que se digladiam e que, por isso, geram uma grande diversidade de paisagens, de «habitats», de plantas e animais selvagens. Graças à sua longa faixa costeira, grandes estuários e outras importantes zonas húmidas, e aos bons ares de montanha, concede a oportunidade a todos os que nele vivem de uma partida à descoberta do mundo natural.
Dias com vida selvagem quer transmitir a quem os lê – os que já convivem com a natureza sem a apreciarem devidamente e a muitos mais, que só a associam às fantásticas séries televisivas como as da BBC – a vontade de ter… dias com vida selvagem, numa motivadora actividade «outdoor» em que também se podem definir metas e colecionar «records» e que impõe uma boa forma física, mesmo que a sua manutenção não seja o principal objectivo. Registando observações de espécies, procurando indícios da sua presença, confirmando ocorrências, a chegada e a partida das aves migradoras, tentando encontros desafiantes com raridades… Fotografando quase tudo o que mexe e o meio em que se movimenta.
Mas a natureza, se nós quisermos, dá-nos mais. Surpreende-nos a cada momento, com a diversidade, com a mudança, mesmo quando insistimos na visita do mesmo espaço. Às vezes, mais do que corrermos meio mundo, é preferível atendermos aos pormenores de um determinado território por nós eleito também por ser mais fácil a ele retornar e com regularidade podermos verificar evoluções.
Esta estação é uma oportunidade fantástica para as apreciarmos e proporciona momentos que podem ser mágicos e nos impelem a regressar.
Um binóculo, manuais para identificação de plantas e animais e um caderno de campo para anotar os registos, são as ferramentas indispensáveis para uma aproximação à vida selvagem motivadora e criativa. Mas a probabilidade de os encontros que almejamos se darem cresce com o número de horas que investirmos na Natureza. Horas como as que vamos sentir a partir dos próximos dias com vida selvagem.