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Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ/arquivo

Libertados em Castela e Leão dois linces nascidos em Silves

02.05.2025

Os linces-ibéricos Vouga e Valeriana, duas fêmeas nascidas no Centro Nacional de Reprodução do Lince-ibérico (CNRLI), em Silves, foram reintroduzidas na natureza na região espanhola de Castela e Leão a 29 de Abril.

Na manhã de 29 de Abril, Vouga e Valeriana – duas fêmeas de lince-ibérico (Lynx pardinus) que nasceram na Primavera passada no CNRLI, em Silves, – foram libertadas na região de Cerrato Palentino, na província de Palencia, na comunidade de Castela e Leão.

Este ano já tinham sido libertados outros quatro linces-ibéricos naquela região de Espanha. Durante as primeiras semanas de liberdade destes quatro linces, os técnicos têm feito um acompanhamento contínuo para comprovar a sua boa aclimatação à zona. Até agora, os linces estão “em perfeito estado, permanecendo na área de reintrodução”, segundo um comunicado da Junta de Castela e Leão.

No mesmo dia foram assinados sete protocolos de colaboração com proprietários de herdades e zonas de caça nesta área de reintrodução de lince-ibérico e outro com a Fundación CBD-Hábitat para dar o seu apoio nos trabalhos de seguimento dos exemplares na natureza.

A região do Cerrato Palentino foi escolhida como território de reintrodução de linces-ibéricos depois de dois anos de trabalho para avaliar possíveis zonas. Além de haver coelho-bravo, uma das principais presas do lince-ibérico, existe na zona uma “muito favorável” aceitação social deste felino. Segundo um comunicado da Junta de Castela e Leão, 93% das pessoas que participaram num inquérito manifestaram-se a favor da conservação do lince e conseguiram-se apoios por parte de proprietários em 72% da área proposta.

“Com a reintrodução da espécie no Cerrato Palentino consegue-se um marco na recuperação do lince-ibérico na Península Ibérica, sendo a primeira área de reintrodução na metade norte peninsular e que acontece cerca de 50 anos depois do desaparecimento do lince na meseta castelhana”, destacou a Junta em comunicado.

O objectivo é conseguir criar uma população estável de lince-ibérico na zona de Cerrato Palentino.

Estima-se que pelo menos 354 linces viviam, em 2024, em Portugal, numa área de 943 quilómetros quadrados. Estes números deverão ser actualizados em breve, no âmbito do censo que é feito todos os anos em Portugal e em Espanha.

O lince-ibérico tem tido uma história atribulada. No século XIX a população mundial da espécie estava estimada em cerca de 100.000 animais, distribuídos por Portugal e Espanha; mas no início do século XXI restavam menos de 100. Então, os dois países juntaram-se para recuperar habitats e reproduzir animais.

O CNRLI é uma das peças deste quebra-cabeças conservacionista que ainda hoje não está resolvido. Desde a sua inauguração em 2009 até hoje, este centro já “deu” um total de 112 linces para a reintrodução na natureza em vários pontos da Península Ibérica.

Desde 22 de Junho de 2015, esta espécie foi classificada como Em Perigo de extinção, depois de anos na categoria mais elevada atribuída pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Criticamente em Perigo.

Em Junho de 2024 voltou a descer de categoria, passando a Vulnerável.  Esta espécie viu a sua população aumentar de 62 indivíduos adultos em 2001 para mais de 2000 em 2024.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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