Cria de lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ

Lince-ibérico deixa de estar Em Perigo de extinção

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O estado de ameaça do lince-ibérico baixou de Em Perigo de extinção para Vulnerável na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), foi hoje revelado.

Passaram-se mais de 20 anos desde que a UICN tomou a decisão dramática de declarar o lince-ibérico (Lynx pardinus) como espécie Criticamente Em Perigo de extinção. Corria o ano de 2002, restavam apenas cerca de 60 animais em duas populações isoladas e não havia nenhum programa de reprodução a funcionar. 

Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ

Ao longo destas duas décadas, dezenas de pessoas de Portugal e Espanha e os Governos dos dois países juntaram-se para travar o desaparecimento deste felino e concertaram esforços em várias frentes.

O resultado começou a ver-se em 2015 quando a UICN passou a espécie para uma categoria mais baixa, Em Perigo. Na altura, Urs Breitenmoser, co-presidente do Grupo de Especialistas em Felinos da UICN, disse à Wilder que uma alteração destas era rara. “São muito poucas as espécies que estavam na categoria de Criticamente em Perigo e que desceram para Em Perigo. Para os felinos e para a Europa, o lince-ibérico é a primeira espécie desde sempre”, comentou.

Este ano, o lince volta a ver o seu estatuto mudar novamente, segundo adiantou hoje a UICN, que se prepara para actualizar a sua Lista Vermelha de espécies a 27 de Junho mas que já adiantou hoje a novidade quanto ao lince-ibérico.

“O estado de conservação do lince-ibérico (Lynx pardinus) melhorou de Em Perigo para Vulnerável, tendo a população aumentado exponencialmente de 62 indivíduos adultos em 2001 para 648 em 2022. Hoje em dia, a população total, incluindo linces juvenis e adultos, é estimada em mais de 2000″, segundo um comunicado da UICN.

Crias de lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-situ

“A melhoria no estado de conservação do lince-ibérico demonstra que a conservação bem-sucedida funciona tanto para a vida selvagem quanto para as comunidades”, disse, em comunicado, Grethel Aguilar, diretora-geral da UICN.

“Este sucesso, a maior recuperação de uma espécie de felino já alcançada através da conservação, é o resultado da colaboração empenhada entre organismos públicos, instituições científicas, ONG, empresas privadas e membros das comunidades, incluindo proprietários de terras locais, agricultores, guarda-caças e caçadores, com o apoio financeiro e logístico do projeto LIFE da União Europeia”, disse Francisco Javier Salcedo Ortiz, coordenador do projeto LIFE Lynx-Connect, agora em curso para a conservação do lince-ibérico.

As razões desta melhoria são fáceis de identificar.

Entre elas contam-se o aumento da abundância da sua presa, o coelho-europeu (Oryctolagus cuniculus), atualmente Em Perigo, a protecção e restauro do habitat das matas e florestas mediterrânicas e a redução das mortes causadas pela atividade humana. Além disso, “a expansão da diversidade genética da espécie através de translocações e de um programa de reprodução ex situ tem sido fundamental para aumentar o número de indivíduos.”

Desde 2010, foram reintroduzidos mais de 400 linces ibéricos em Portugal e Espanha. O lince ibérico ocupa agora, pelo menos, 3320 km2, um aumento em relação aos 449 km2 de 2005.

Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico (CNRLI), em Silves. Foto: Joana Bourgard/Wilder

No entanto, o lince ibérico continua ameaçado.

A UICN salienta os riscos, principalmente potenciais flutuações das populações de coelho-europeu se houver novos surtos de vírus. “O lince ibérico também é suscetível a doenças provenientes de gatos domésticos. A caça furtiva e as mortes nas estradas continuam a ser ameaças, particularmente onde estradas de alto tráfego atravessam o habitat do lince. As alterações do habitat relacionadas com as alterações climáticas são uma ameaça crescente.”

“Ainda há muito trabalho a fazer para garantir que as populações de lince-ibérico sobrevivam e a espécie recupere em toda a sua área de distribuição nativa”, notou Francisco Javier Salcedo Ortiz. “No futuro, há planos para reintroduzir o lince-ibérico em novos locais no centro e norte de Espanha”.

Na sua primeira avaliação do Estatuto Verde das Espécies – o padrão global para medir a recuperação de espécies e avaliar o impacto da conservação – o lince ibérico encontra-se ainda na categoria de espécie Grandemente Reduzida. No entanto, seu elevado Legado de Conservação reflete o impacto dos esforços de conservação até ao momento, e “resta habitat adequado suficiente para que a espécie possa alcançar a categoria de Totalmente Recuperada dentro de 100 anos, supondo que os esforços de conservação continuem com a máxima eficácia.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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