Crias de lince-ibérico. Foto: CNRLI

População mundial de lince-ibérico sobe para os 2401 animais, revela censo

22.05.2025

No último ano, o esforço de conservação desta espécie outrora à beira da extinção conseguiu mais 400 animais. Em Portugal e Espanha vivem, na natureza, 2401 linces, segundo os dados do Censo de Lince-Ibérico 2024, anunciados esta quinta-feira, no Dia Internacional da Biodiversidade. “Mas este é um número mínimo, haverá mais”, disse à Wilder João Alves, do ICNF.

Durante mais de 50 anos, as populações de lince-ibérico (Lynx pardinus) não conheceram outra coisa se não o declínio. A perseguição humana e a escassez de coelho-bravo ditaram esta descida que levou a espécie à beira da extinção.

Nos últimos 20 anos, Portugal e Espanha uniram-se e avançaram em várias frentes no derradeiro esforço de salvar este felino. Em 23 anos, a população passou de menos de 100 exemplares contabilizados em 2002 para 2401 em 2024, segundo os dados do mais recente censo à espécie.

Do total de 2401 linces, 2047 distribuem-se por Espanha (representando 85,3%) e 354 por Portugal (14,7%), num total de 22 núcleos populacionais, 17 dos quais com reprodução confirmada: cinco na Andaluzia, seis em Castela-La Mancha, cinco na Extremadura espanhola e um núcleo em Portugal, no Vale do Guadiana.

Dados do Censo de 2024

A população deste felino registou um aumento de 19% em relação a 2023.

Em Portugal, dos 354 linces, 244 são adultos ou subadultos (67 são fêmeas reprodutoras territoriais) e 110 são crias. No censo anterior tinham sido recenseados 2021 animais (dos quais 291 em Portugal).

“Estes são dados animadores, uma vez que a população tem mostrado um crescimento sustentado desde que se iniciaram as reintroduções em Portugal, em 2014/2015”, disse esta quinta-feira à Wilder João Alves, coordenador do programa de reintrodução do lince-ibérico em Portugal.

Segundo este responsável do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a espécie tem registado um crescimento “de uma forma até superior àquela que era expectável”, isto “fruto do trabalho dos centros de reprodução que permitiram ter animais em quantidade e qualidade disponíveis para se fazerem as reintroduções”.

Além disso, acrescentou, “felizmente tem havido coelho-bravo suficiente e os animais que nasceram em cativeiro adaptaram-se bem ao meio natural, têm sobrevivido e têm-se reproduzido”.

Avaliação veterinária a crias de lince-ibérico. Foto: CNRLI

Os maiores bastiões da espécie são Castela-La Mancha (942 linces) e Andaluzia (836 linces). A seguir vem Portugal, com 354 linces. Na Extremadura espanhola foram contados 254. Na Região de Murcia, a reintrodução de linces começou em 2023 e ali já foram registados 15 destes felinos.

Dos 2401 linces contabilizados no censo, 1557 são adultos ou subadultos e 844 são crias que já nasceram em liberdade.

Um dos principais indicadores da boa saúde das populações de lince é o número de fêmeas reprodutoras territoriais. Em 2024 foram registadas 470, mais 64 do que em 2023. Para a espécie alcançar o estado de conservação favorável, a meta é conseguir chegar às 750 fêmeas.

“Haverá mais”

João Alves salientou que o número total de 2401 linces na Península Ibérica é “um número mínimo, o número de animais que foram, efetivamente, referenciados através dos sinais emitidos pelas coleiras e, fundamentalmente, através das milhares de câmaras de foto-armadilhagem que estão no terreno” em Portugal e em Espanha.

“De facto, estes são aqueles que nós detectámos; haverá mais, especialmente nas zonas de dispersão, uma vez que nem todos os animais acabam por se fixar em territórios. Alguns dispersam-se e afastam-se substancialmente das zonas onde há reprodução, onde há populações fixadas. Esses acabamos por não os poder quantificar.”

Reintrodução de lince-ibérico. Foto: João Santos / ICNF

Neste momento, o lince-ibérico continua numa das três categorias de ameaça definidas pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), ainda que esteja na mais baixa, Vulnerável.

Dos quatro centros de reprodução exclusiva do lince-ibérico em cativeiro – entre eles o Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico (CNRLI), em Silves – saíram este ano 21 linces que foram reintroduzidos na natureza, elevando para 424 o total de linces nascidos em cativeiro e libertados na Península Ibérica, desde 2011 até agora.

Em 2024, as principais causas de morte de lince-ibérico foram atropelamentos, causas naturais (lutas e doenças) e perseguição ilegal e abate a tiro. Nesse ano, registou-se um total de 214 mortes de lince na Península Ibérica; destas, 162 foram causadas por atropelamentos (10 dos quais em Portugal), revela o censo.

Além disso, 17 linces morreram por doenças ou patologias, como a leucemia felina ou o parvovirus felino, e 35 por outras causas. Destas, oito aconteceram por disparos ou perseguição ilegal.

O Censo de Lince-Ibérico foi elaborado pelo Grupo de Trabalho do Lince- Ibérico, que coordena este tema no âmbito do Ministério espanhol para a Transição Ecológica e o Desafio Demográfico (MITECO), e é composto por representantes das comunidades autónomas de Espanha e do ICNF, do lado de Portugal.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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