A urbanização e a cor das penas das aves estão relacionadas, demonstram investigadores da Universidade de Granada e do Instituto Max Planck de Inteligência Biológica, depois de estudarem 1200 espécies.
As espécies que prosperam nas cidades têm cores mais elaboradas e menos tons acastanhados, segundo o artigo publicado na revista Ecology Letters a 4 de Abril. Este é mais um exemplo de como a cidade pode afectar os animais selvagens.
A situação deve-se a modificações na estrutura do habitat causadas pela urbanização (escassa presença de floresta), a alterações nas cores do habitat urbano e ao menor número de predadores nas cidades, defendem os autores do estudo. Estes analisaram dados sobre mais de 1200 espécies de aves
“A urbanização tem impactos no ecossistema, trazendo desafios a plantas e animais”, disse, em comunicado, Juan Diego Ibáñez, professor do Departamento de Zoologia da Universidade de Granada e investigador neste trabalho.
“A ecologia urbana, uma disciplina em si mesma, estuda os efeitos da urbanização em distintos organismos. No passado investigou-se a comunicação de distintas espécies de animais tendo em conta o ruído urbano. Mas ainda se sabe pouco sobre se as cores dos animais estão relacionadas com a urbanização e, se sim, de que forma.”
A cor desempenha muitas funções nos animais, desde a escolha de um parceiro para a reprodução até à termo-regulação e à camuflagem.
Comparadas com as áreas naturais, as cidades são mais quentes, têm menos predadores, mais luz artificial, assim como cores de fundo diferentes associadas ao asfalto e ao cimento. “Por isso, é bastante possível que o meio urbano possa afectar a coloração dos animais”, comentou Juan Diego Ibáñez.
Interessados em chegar ao fundo desta questão, os investigadores utilizaram dados de urbanização e cor da plumagem de 1287 espécies de aves de todo o mundo. A equipa analisou até que ponto a cor das penas pode prever a abundância das aves nas zonas urbanas.
O trabalho mostrou que as espécies das zonas urbanas são menos acastanhadas. “Os tons acastanhados são mais comuns na natureza, sobretudo nas florestas, habitats que não abundam nas cidades. Suspeitamos que as aves castanhas estejam em desvantagem numa cidade bem mais cinzenta. Por isso, a cor dominante da cidade e a falta de habitats adequados determinam quais as espécies de aves que têm mais êxito”, explicou Kaspar Delhey, um dos coordenadores do estudo.
Os investigadores defendem que, para uma ave, é mais provável que tenha sucesso nas cidades se for azul, cinzento escuro e preto e menos castanha ou amarela.
As aves com mais sucesso nas cidades têm penas com cores mais elaboradas, principalmente as fêmeas. As zonas urbanas têm menos predadores do que as áreas naturais, o que pode explicar os resultados, já que o custo de ser visto (por ser mais colorido) na cidade vê-se reduzido.
Estudos anteriores sugeriram que a diversidade de cores das comunidades de aves urbanas é menor. Mas esta equipa de investigadores demonstrou o contrário. “Há menos espécies de aves nas zonas urbanas do que nas zonas não urbanas. Se tivermos isso em conta, as comunidades de aves das cidades têm uma maior diversidade de cores”, disse Juan Diego Ibáñez, o primeiro autor do trabalho.
Os autores do artigo acreditam que esta investigação abre a porta a estudos futuros para saber se o mesmo acontece com outros animais.