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Abutre-preto num dos centros de recuperação da Quercus. Foto: Samuel Infante

Seis abutres-pretos recuperados chegam amanhã ao Douro Internacional

18.03.2025

As jovens aves foram recuperadas em centros de Torre de Moncorvo, Castelo Branco e Olhão e vão ficar na estrutura de aclimatação do Douro Internacional durante alguns meses. Vão depois ser libertadas na natureza e reforçar a colónia mais frágil do país.

Segundo a associação Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, os seis abutres-pretos (Aegypius monachus) foram resgatados do meio natural por se encontrarem debilitados. Agora, já de boa saúde, vão chegar a 19 de Março à estrutura de aclimatação (adaptação lenta e faseada) que já está preparada para os receber, no âmbito do projeto LIFE Aegypius Return.

Infra-estrutura de aclimatação no Douro Internacional. Foto: Palombar

José Pereira, presidente da Palombar, explicou hoje à Wilder que dois abutres são provenientes do CIARA (Centro de Interpretação Ambiental e de Recuperação Animal, em Torre de Moncorvo), três do CERAS (Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens, em Castelo Branco) e um do RIAS (Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens, em Olhão).

Depois do período de adaptação nesta estrutura, serão devolvidos à natureza para potenciar a fixação no território e aumentar a colónia.

Antes de serem libertadas na natureza, as aves vão receber emissores GPS para “perceber qual o sucesso desta acção como medida de conservação”, disse o responsável.

Esta infra-estrutura de aclimatação faz parte do projeto LIFE Aegypius return – consolidação e expansão da população de abutre-preto em Portugal e no oeste de Espanha.

Interior da estrutura de aclimatação. Foto: Palombar

Segundo José Pereira, os primeiros meses após a dispersão dos abutres juvenis são os mais arriscados e os mais propensos para ocorrerem acidentes.

A infra-estrutura de aclimatação está preparada para receber os abutres que chegam recuperados dos centros veterinários entre Fevereiro e Março até Outubro, Novembro.

“O ideal é que os abutres fiquem na jaula durante quatro a cinco meses; o tempo máximo é entre os sete e os nove meses, depende do caso”, disse José Pereira.

Em finais de Outubro, os técnicos abrem a jaula onde estão os abutres e, durante dois a três meses, esta fica sempre aberta. “Durante esse período continuamos a disponibilizar alimento dentro da jaula e num campo de alimentação perto desta infra-estrutura, para que as aves ganhem confiança até se lançarem ao mundo”, acrescentou. Quando os abutres começarem a deixar de utilizar quer a jaula quer o campo de alimentação, fechamos a jaula e interrompemos a disponibilização de alimento.

Entre Janeiro e Março, os técnicos fazem a manutenção da infra-estrutura de aclimatação, tratando da sua limpeza e enriquecimento ambiental. No final de Março, início de Abril, tudo está pronto para receber outros abutres-pretos que terão estado a aguardar nos centros de recuperação.

Até agora já tinham passado por aquela infra-estrutura quatro abutres-pretos. Até 2027 deverão ser libertados na natureza, no Douro Internacional, pelo menos 20 abutres-pretos, vindos de centros de recuperação de vida selvagem.

Abutre-preto. Foto: Francesco Veronesi / Wiki Commons

Neste momento está em curso a temporada de reprodução desta espécie. “Já estamos a fazer uma monitorização desta temporada e, até este momento, já registámos o assentamento de pelo menos oito casais, sendo ainda previsível virmos a ter mais um ou outro”, adiantou José Pereira.

O grande objectivo é que quando os abutres-pretos atingirem a maturidade sexual, aos quatro ou cinco anos de idade, regressem ao Douro Internacional para nidificar.

Hoje são conhecidos cinco núcleos populacionais desta espécie Em Perigo de extinção. A colónia do Douro Internacional é a mais isolada do país.

A última época de reprodução do abutre-preto terminou com um total de 108 a 116 casais nidificantes contados de norte a sul do país. O maior número foi registado na colónia do Tejo Internacional, onde a espécie se voltou a reproduzir com dois casais em Portugal em 2010, após 40 anos de ausência. Nesta área protegida colada à fronteira está o maior número de casais, com um total de 61 a 64 – incluindo 15 a 16 que optaram pela margem espanhola do Tejo – que tiveram 24 a 25 crias que conseguiram sobreviver até começar a voar.

um abutre-preto a voar
Abutre-preto. Foto: Juan Lacruz/Wiki Commons

Depois, na Herdade da Contenda, no concelho alentejano de Moura, que abriga a segunda maior colónia de Portugal, foram contados 20 a 21 casais. Já na Serra da Malcata, onde foi encontrada uma colónia de abutres-pretos em 2021, o número de casais aumentou de 14 para 18. A colónia do Douro Internacional surpreendeu os técnicos do projeto com o aumento registado, de três para oito casais, incluindo três ninhos no lado espanhol da fronteira. Por fim, a colónia da Vidigueira, descoberta em 2024, terá registado cinco ninhos ocupados.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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