Conhecida em 2024, a colónia de abutre-preto (Aegypius monachus) na Herdade do Monte da Ribeira, na Vidigueira (Alentejo) vai passar a ser monitorizada e a ser alvo de medidas de conservação, foi agora anunciado.
Foi em Julho de 2024 que o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) anunciou a descoberta de um novo núcleo populacional do maior abutre da Europa, perto da Vidigueira, Alentejo. A nova colónia de abutres-pretos era formada por 10 aves adultas.
Hoje são conhecidos cinco núcleos populacionais desta espécie Em Perigo de extinção.
Estima-se que a nova colónia seja “constituída por quatro ou cinco casais reprodutores, embora só tenham sido observados quatro ninhos”, indicou então, numa nota de imprensa, o instituto que tutela a conservação da natureza.
“O achado, feito em plena época de reprodução, impossibilitou uma monitorização detalhada para evitar perturbações às aves”, explicou a associação Palombar esta semana em comunicado. “Para 2025 está assegurada a colaboração que fará o acompanhamento da colónia e implementará outros esforços de conservação, no âmbito do projeto LIFE Aegypius Return.”
Em 2024, foram encontrados cinco ninhos e um deles tinha uma cria desenvolvida, um jovem macho que foi batizado de Pousio. Esta cria foi marcada em julho com um emissor GPS/GSM.
Pousio tem-se mantido muito fiel ao seu território, nunca se tendo afastado mais do que uns 20 quilómetros do ninho. “A equipa LIFE Aegypius Return faz uma monitorização muito atenta deste abutre em particular, pelo facto de passar uma linha elétrica de muito alta tensão relativamente perto do ninho, o que constitui um elevado risco de mortalidade por colisão”, salienta a associação. “Esta é mais uma razão pela qual é muito relevante acompanhar esta colónia com muita atenção. Em 2025, se houver mais crias, será feito novo esforço de marcação, para garantir a recolha de mais informação nesta nova área de assentamento da espécie.”
“Sendo esta com certeza a colónia reprodutora de abutre-preto mais recentemente descoberta e mais pequena do país, importa conhecê-la melhor e acompanhar o seu desenvolvimento”, diz a Palombar.
A época de reprodução de 2025 já começou. Para acompanhar o sucesso destas aves nesta colónia já foi preparado o reforço da colaboração interinstitucional, no âmbito do projeto LIFE Aegypius Return. A Herdade terá o apoio da Liga para a Protecção da Natureza (LPN) e do ICNF para garantir a prospeção dos terrenos e o acompanhamento da colónia de abutre-preto.
A colaboração com o projeto LIFE Aegypius Return passa ainda pela discussão de medidas de alimentação suplementar para os abutres e pela capacitação dos gestores da Herdade e da sua atividade cinegética na transição para o uso de munições sem chumbo.
“A ANPC, associação nacional de proprietários rurais da qual a Herdade é associada, e que também integra o consórcio LIFE Aegypius Return, irá brevemente organizar ações de formação teóricas e práticas em vários pontos do país. Estas ações têm como objetivo sensibilizar o setor cinegético para a problemática da contaminação por chumbo – na vida selvagem e na saúde humana -, e promover o uso de munições alternativas, sem aquele metal pesado”, acrescenta a Palombar.
Além disso, a Herdade da Contenda – empresa municipal de Moura que também é parceira no projeto LIFE Aegypius Return – irá receber a visita de responsáveis da Herdade para a troca de experiências na gestão de propriedades com aptidões agrícolas, florestais, cinegéticas e na sua compatibilização com a conservação da natureza, em particular do abutre-preto.
A Herdade do Monte da Ribeira, com cerca de 1100 hectares, produz vinho e azeite, mas inclui também áreas de conservação que se espraiam pela Serra do Mendro. “Estas áreas, de elevada tranquilidade, conferem um habitat ideal para muitas espécies de aves, incluindo espécies ameaçadas e protegidas, como a águia-real (Aquila chrysaetos) e o abutre-preto. Os grandes pinheiros-mansos (Pinus pinea), esparsos e distribuídos pelos vários vales, são um autêntico convite à nidificação dos abutres-pretos. Tanto mais que a floresta garante também alimento, com veados e gamos em abundância.”
O projeto LIFE Aegypius Return é cofinanciado pelo Programa LIFE da União Europeia. É implementado por um consórcio que integra a Vulture Conservation Foundation (VCF), o beneficiário coordenador, e os parceiros locais Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural (com cofinanciamento da Viridia – Conservação em Ação e MAVA – Fondation pour la Nature), Herdade da Contenda, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Liga para a Protecção da Natureza, Faia Brava – Associação de Conservação da Natureza, Fundación Naturaleza y Hombre, Guarda Nacional Republicana e Associação Nacional de Proprietários Rurais Gestão Cinegética e Biodiversidade.