Uma equipa de investigadores espanhóis descobriu que os estorninhos usam penas como protecção contra bactérias, segundo um estudo publicado na revista científica PlosOne.
Durante dois anos, os investigadores do Departamento de Ecologia Funcional e Evolutiva da Estação Experimental de Zonas Áridas do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) olharam para dentro dos ninhos de estorninhos-pretos (Sturnus unicolor) numa propriedade agrícola em Granada.
Devido às condições de temperatura, humidade e precipitação, os ninhos das aves são propícios ao crescimento de vários micro-organismos que, segundo os investigadores, podem trespassar a casca do ovo e causar doenças nos embriões.
Para se protegerem, as aves adultas utilizam vários sistemas de defesa. Umas envolvem os ovos com uma secreção que elas próprias geram, com propriedades anti-microbianas; outras constroem todos os anos ninhos novos ou eliminam os velhos materiais de construção antes de começar a criar; outras há que usam certas espécies de plantas aromáticas.
Agora, esta equipa percebeu que as penas também são usadas como barreira protectora contra as bactérias indesejáveis.
“Nas penas vivem grupos de bactérias que se alimentam da queratina, a proteína principal das penas. Estes micro-organismos competem pelos nutrientes e pelo espaço com o resto das bactérias do ninho, quer estejam na casa do ovo ou nas próprias penas. Para isso, segregam substâncias anti-microbianas que têm efeitos negativos sobre o resto dos competidores: eliminam-os ou reduzem a sua quantidade”, explica a investigadora deste projecto Cristina Ruiz-Castellano, da Estação Experimental de Zonas Áridas, à Fundación Descubre.
Segundo os investigadores, a maioria dos estudos realizados até agora sobre ninhos revestidos por penas concentraram-se nas suas propriedades termo-reguladoras. Na verdade, as penas protegem as aves contra as condições climáticas externas. Além disso, têm um papel na atracção sexual e exibição durante a corte. “Mas a sua função como agente anti-microbiano só era conhecida nos ninhos de andorinha comum. Por isso considerámos necessário explorar esse efeito em outras espécies, como os estorninhos”, acrescenta.
Para tal, os cientistas analisaram os ninhos no início e no fim do período de incubação dos ovos. A equipa recolheu e analisou amostras de dois tipos de ninhos: naturais, construídos por estorninhos, e artificiais, feitos pelos investigadores com material sintético e forrados com penas e plantas.
Os peritos consideram este estudo um primeiro passo para compreender os mecanismos que explicam os efeitos anti-bacterianos das penas das aves.