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Mariquita-do-tennessee (Leiothlypis peregrina). Foto: Cephas/WikiCommons

Novo estudo revela que aves de espécies diferentes se ajudam entre si nas migrações

27.08.2024

As aves migradoras enfrentam inúmeros desafios. É por isso que algumas aves canoras preferem viajar juntas, segundo um novo estudo publicado este mês na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Para algumas aves, a migração é a época mais difícil do ano. Têm de atravessar muitos quilómetros e enfrentar inúmeras desafios até chegar aos locais onde podem descansar e reabastecer.

Durante muito tempo pensou-se que as aves faziam estas desafiantes viagens sozinhas. Mas um novo estudo sugere que a migração não é um feito solitário, antes é um evento social que encoraja espécies diferentes a viajarem juntas.

Num estudo publicado este mês na revista PNAS, investigadores descobriram que há aves que formam “comunidades migradoras” enquanto viajam. Não se trata apenas de viajarem perto umas das outras numa proximidade que é coincidência; os cientistas defendem que é um sinal de que diferentes espécies de aves podem formar relações sociais e até podem ajudar-se umas às outras ao longo das suas migrações.

No artigo científico, os investigadores defendem ter encontrado provas de relações sociais consistentes entre várias espécies de aves durante as migrações.

Para chegar a esta conclusão, a equipa da investigadora Joely DeSimone, da Universidade de Maryland, Estados Unidos, analisou mais de 500.000 registos de 50 espécies diferentes de aves recolhidos em cinco estações de anilhagem de aves na zona Este do país. Nesses locais, anilhadores profissionais capturam aves em redes de nevoeiro para recolher o máximo de informação possível, como idade, sexo e peso, por exemplo. Antes de libertarem as aves colocam-lhe anilhas.

Primeiro, os investigadores identificaram quando duas espécies de migradores acabavam juntas na mesma rede, no mesmo momento. Depois, tiveram de perceber se isso era coincidência, através de testes estatísticos sobre rotas de migração, hábitos alimentares e preferências de habitat.

Concluíram que há ligações claras entre algumas espécies e que as mesmas combinações de espécies apareciam nas várias estações de anilhagem. Essa consistência em diferentes locais sugere que estas interacções têm um papel significativo na ecologia da migração das aves.

Por exemplo, segundo os investigadores, aves com semelhantes hábitos de alimentação e relações genéticas podem apoiar-se umas nas outras e seguir os seus companheiros de viagem para encontrar bons habitats e assim aumentar as hipóteses de uma migração bem sucedida.

Mas ainda há muito por descobrir sobre como as aves migradoras sociabilizam. DeSimone já está a preparar um outro estudo para investigar de que forma as relações entre espécies estão a mudar à medida que as alterações climáticas alteram os timings das migrações. Além disso, DeSimone vai olhar para as interações entre espécies residentes e espécies migradoras.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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