O primeiro censo nacional de coruja-das-torres começa agora em Fevereiro e prolonga-se até ao final de Junho. Saiba porque é tão importante e como pode participar.
O censo vai realizar-se de duas formas, ambas abertas a todos os interessados, explica uma nota de imprensa divulgada esta segunda-feira pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), que em parceria com o Laboratório de Ornitologia da Universidade de Évora (LabOr-MED) está a coordenar este projecto.
Uma das maneiras de participar é registando online os locais onde vemos ou ouvimos corujas-das-torres, aves que têm um “som inconfundível”, afiançam os organizadores.
Outra forma será participar nos Fins de Semana das Corujas, dias 3, 4, 5, 10, 11 e 12 de março, “em que Portugal inteiro irá para a rua, à noite”, para escutar estas aves.
Esta iniciativa realiza-se para ajudar os especialistas “a aferir melhor o estado da espécie no nosso país”, uma vez que o panorama é preocupante. É já ponto assente que “a população de coruja-das-torres está a diminuir”, pois “na última década desapareceu de cerca de metade da área que ocupava em Portugal continental”, alertam os coordenadores do censo. E no arquipélago madeirense, onde esta é a única rapina nocturna, “já não há corujas-das-torres na metade oeste da ilha da Madeira nem nas ilhas Desertas”.
O programa NOCTUA – Portugal da SPEA, que envolve voluntários na monitorização das aves noturnas desde 2009, também aponta para uma tendência decrescente destas aves no mesmo período. Com efeito, num relatório divulgado há cerca de um ano, a equipa alertou para um “declínio preocupante” desta e de outras três espécies de aves nocturnas.
Inês Roque, investigadora no LabOr-MED e membro da coordenação do Grupo de Trabalho sobre Aves Noturnas da SPEA, nota que “esta tendência negativa da coruja-das-torres é visível à escala ibérica e poderá estar relacionada com o desaparecimento dos locais de nidificação e com alterações nas nossas áreas agrícolas, como a conversão de culturas tradicionais em culturas intensivas”.
Onde e quando pode ser encontrada?
Esta coruja pode ser encontrada principalmente em áreas agrícolas, em florestas pouco densas e também em zonas urbanas. “A coruja-das-torres precisa de áreas abertas para caçar e tende a ser mais abundante onde há mais alimento, principalmente ratos”, explicou Inês Roque à Wilder, indicando que por esse motivo a espécie é mais comum “em áreas agrícolas”.
As florestas pouco densas e algumas localidades são outros sítios onde esta coruja pode ser ouvida e observada. Segundo a investigadora, como esta ave “utiliza frequentemente edifícios para nidificar, ou como poiso, podemos encontrá-la em aldeias, vilas e cidades”. Évora ou Coruche são localidades onde se vêem corujas-das-torres “regularmente no centro da povoação”, exemplificou, havendo “também registos de observações ocasionais em Lisboa”.
Já a melhor altura do dia para ver ou ouvir a espécie acontece “após o escurecer, sobretudo nas duas horas seguintes”. Ainda assim, é possível ouvir estas aves “durante toda a noite”, com dois “picos” de atividade, um ao início e outro ao fim do período nocturno, esclareceu a mesma responsável.
Desafio estendido às escolas
O desafio de contar as corujas-das-torres vai estender-se às escolas e a grupos organizados, como por exemplo agrupamentos escutistas, para que também estes se tornem cientistas cidadãos e ajudem a perceber melhor qual é a situação desta ave nocturna. Com esse fim, foi desenvolvido um kit educativo sobre a espécie, que está disponível para quem o quiser descarregar, no site deste novo projecto.
O censo nacional de coruja-das-torres decorre no âmbito dos projetos “Ciência para todos: sustentabilidade e inclusão (SCIEVER)” e “Ciência Cidadã – envolver voluntários na monitorização das populações de aves”.
Descubra ainda os sons desta e de outras cinco aves nocturnas de Portugal, que podemos ouvir durante as noites de Inverno.
Conte as Aves que Contam Consigo
A série Conte as Aves que Contam Consigo insere-se no projeto “Ciência Cidadã – envolver voluntários na monitorização das populações de aves”, dinamizado pela SPEA em parceria com a Wilder – Rewilding your days e o Norwegian Institute for Nature Research (NINA) e financiado pelo Programa Cidadãos Ativos/Active Citizens Fund (EEAGrants), um fundo constituído por recursos públicos da Islândia, Liechtenstein e Noruega e gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian, em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto.