Depois de seis anos de investigação, cientistas descobriram e acabam de descrever uma nova espécie de ave terrestre que conseguiu adaptar-se a viver num habitat extremo, no Sul do Chile.
Trata-se do rabudinho-subantárctico (Aphrastura subantarctica), uma ave mais robusta e um pouco maior do que as aves do mesmo género (Aphtastura sp.) que conseguiu viver e nidificar com sucesso num habitat típico de aves marinhas como os albatrozes. Vive no meio da vegetação que cresce no Parque Marinho Ilhas Diego Ramírez-Paso Drake, a pouco mais de 100 quilómetros a Sul do Cabo Horn e no meio do mar que separa a América do Sul do continente antárctico.
Aquele habitat é muito diferente das zonas de floresta onde vive o rabudinho-de-sobrancelha-laranja (Aphtastura spinicauda), que nidifica nas cavidades das árvores das florestas da Patagónia, no sul do Chile, e na ilha Navarino, Porto Williams.
O rabudinho-subantárctico nidifica no chão, no meio da vegetação. Tem um ar mais robusto e pesa mais quatro gramas do que o rabudinho-de-sobrancelha-laranja. Pesam, respectivamente, 16 gramas e 12 gramas. Além disso, voa distâncias mais curtas. “O habitat que enfrenta é extremo, já que ali se registam rajadas de vento que normalmente ultrapassam os 100 quilómetros/hora”, explica, em comunicado, a Universidade chilena de Magalhães.
A descrição da nova espécie foi publicada a 26 de Agosto na revista científica Scientific Reports, num artigo que apresenta o resultado de seis anos de trabalho de investigadores do Centro Internacional Cabo de Hornos para Estudios de Cambio Global y Conservación Biocultural (CHIC).
Até agora pensava-se que estas aves pertenciam à espécie rabudinho-de-sobrancelha-laranja. “Mas graças a um estudo um pouco mais aprofundado conseguimos ver que geneticamente são diferentes da espécie clássica, além de existirem diferenças morfológicas e comportamentais”, comentou Rodrigo Vásquez, biólogo da Universidade do Chile especialista em aves.
As suas patas maiores, maior peso corporal e cauda mais curta não fazem destas aves grandes voadoras, até porque os ventos nas ilhas Diego Ramírez são muito fortes.
O investigador Ricardo Rozzi, da Universidade norte-americana do Texas do Norte, salientou que ficou impressionado pelo facto “de uma ave que vive num habitat de florestas, que tem o hábito de se alimentar em troncos e ramos e de nidificar na cavidade das árvores, ter conseguido viver num lugar onde não existem árvores, nem arbustos nem nenhuma espécie lenhosa. Conseguiu sobreviver, literalmente, no meio do oceano”.
Constanza Napolitano, investigadora Universidade de Los Lagos (em Osorno), acredita que alguns indivíduos desta ave se estabeleceram nas ilhas Diego Ramírez num único evento de colonização há milhares de anos atrás, tendo ficado e conseguido adaptar-se a este novo habitat.
O ministro da Ciência chileno, Flavio Salazar, comentou que ”descobrir novas espécies de aves é muito difícil e muito raro”. “As ilhas Diego Ramírez são ainda muito pouco conhecidas pela sociedade chilena e esta pequena ave endémica será um símbolo e uma espécie emblemática que contribuirá para o seu maior conhecimento”.