Estas são algumas das espécies que podemos observar durante o Inverno. Vamos procurar estas e outras espécies e anotá-las no Caderno de Campo Wilder, na tabela: o nome, a data e o local da observação.
Águia-real (Aquila chrysaetos):
A águia-real é a maior das águias portuguesas. A grande envergadura de asas desta ave, que pode chegar aos 2,25 metros, só é ultrapassada pelas do grifo e do abutre-preto. É uma ave inconfundível. “As asas são grandes e largas e a cauda proporcionalmente comprida”, descreve o portal Aves de Portugal. Os adultos são escuros e a sua nuca tem uma tonalidade pálida, podendo ir do castanho claro ao dourado. A sua época de reprodução começa em meados de Janeiro e prolonga-se pela Primavera.
E é uma espécie rara. Mas nem sempre foi assim. Outrora comum em todas as serras altas de Portugal, esta imponente ave foi perseguida quase até ao seu extermínio. No início dos anos 1980, existiam apenas 22 casais em Portugal. Em 2005 era considerada uma espécie Em Perigo de extinção.
Hoje esta águia está em recuperação em algumas zonas. Em 2020 foram contabilizados 65 casais no país, principalmente nos distritos de Bragança e da Guarda. A águia-real vive hoje em cinco núcleos: serras do Noroeste, serras do Alvão e Marão, Alto Douro e Nordeste Transmontano, Alto Tejo e Bacia do Guadiana.
Mas esta espécie continua a debater-se com várias ameaças. A perseguição directa não acabou e barragens, estradas e florestações intensivas estão a destruir-lhe o habitat de que precisa para viver.
Azevinho (Ilex aquifolium):
Este arbusto que cresce espontaneamente na Europa pode chegar aos 20 metros de altura. Admire os seus icónicos frutos vermelhos, que contrastam com as folhas verde-escuro e que surgem no Inverno, entre Outubro e Dezembro. Ao encontrar um azevinho lembre-se que esta planta serve de abrigo a inúmeros animais e de alimento para algumas aves, roedores e herbívoros na época do ano mais desfavorável para a vida selvagem.
O azevinho é uma das espécies protegidas pela lei em Portugal, desde 1989. É uma planta em perigo por causa do excesso de colheita a que foi sujeito em Portugal.
Pode saber mais sobre esta espécie tão especial aqui, com a botânica Carine Azevedo.
Aranha-dos-troncos-grande (Zoropsis spinimana):
Esta é uma das espécies de aranhas que mais provavelmente irá encontrar durante o Inverno. Normalmente esta aranha, de hábitos nocturnos, passa muito tempo no seu abrigo de seda. Mas se este for perturbado, pode procurar abrigo em garagens, por exemplo. Além disso, quando fica mais frio pode procurar as nossas casas para se abrigar das baixas temperaturas. “É um animal grande, colorido e comum em casas”, explicou anteriormente à Wilder o perito Sérgio Henriques.
E se encontrar uma aranha-dos-troncos-grande saiba que está na presença de um poderoso aliado, já que nos ajuda a eliminar térmitas, mosquitos e moscas que podem contaminar os nossos alimentos.
Quer descobrir como passam as aranhas o Inverno? Sérgio Henriques explica.
Borboleta-cleópatra (Gonepteryx cleopatra):
Esta bonita borboleta, cuja envergadura de asa pode chegar aos 65 milímetros, tem asas amarelas. As fêmeas têm asas de um amarelo pálido ou mesmo esverdeado, enquanto que os machos têm asas de um amarelo mais escuro e com uma mancha laranja na asa anterior. Por vezes conseguem mesmo passar despercebidas na vegetação, já que se assemelham mesmo a folhas.
É mais provável que encontre esta borboleta, nativa da região do Mediterrâneo, no centro e sul de Portugal, segundo o Museu Virtual da Biodiversidade da Universidade de Évora.
Bufo-real (Bubo bubo):
É durante o Inverno que a maior ave nocturna europeia está em época de nidificação. Os olhos grandes e laranjas, os tufos na cabeça semelhantes a asas e a grande dimensão, com um comprimento que pode chegar aos 75 centímetros, ajudam a identificar esta ave que tem um cantar impressionante, ouvido a vários quilómetros de distância.
Os locais favoritos para construírem o seu ninho são escarpas rochosas, por exemplo em vales de ribeiras, ou cristas rochosas em encostas de montanhas. Também nidificam em árvores ou em edifícios abandonados.
Estima-se que existam em Portugal entre 380 e 580 casais.
Recorde esta bela história de um casal de bufos-reais fotografados por Pedro Miguel Pereira.
Corvo-marinho-de-faces-brancas (Phalacrocorax carbo):
O corvo-marinho-de-faces-brancas é uma ave marinha que nos visita sobretudo no Inverno, vindo do Reino Unido e Irlanda, embora desde há alguns anos também já existam algumas colónias em Portugal. “A população tem estado a expandir-se e por isso são cada vez mais frequentes os avistamentos em locais onde anteriormente a espécie não era regular”, explicou anteriormente à Wilder Gonçalo Elias, responsável pelo portal Aves de Portugal.
Pode procurar esta ave em todo o tipo de zonas húmidas, tanto no litoral como no interior.
A outra espécie de corvo-marinho que podemos ver em Portugal, o corvo-marinho-de-crista, não tem as faces claras, o bico é muito fino (quase parece uma agulha) e, normalmente, não aparece no interior, ocorrendo apenas ao longo da faixa costeira.
Para saber mais, leia quais são as cinco coisas que importa conhecer para distinguir as duas espécies de corvos-marinhos.
Grou (Grus grus):
Os grous são aves graciosas que todos os Invernos chegam do Norte da Europa, onde nidificam, para passar os meses mais frios do ano em Portugal (entre Outubro e Março). O Alentejo é a única região escolhida do nosso país como destino de Inverno para estas aves elegantes com mais de um metro de altura, plumagem cinzento-azulada e uma mancha vermelha na cabeça. Esta espécie escolhe sempre os mesmos locais. São os montados de azinho pouco densos, zonas alagadas, pouco declivosas e ribeiras de regime torrencial. Ali, o alimento é mais abundante e podem preparar-se melhor para a reprodução, alguns meses mais tarde, quando regressarem a casa.
“O Inverno não seria o mesmo nas planícies alentejanas sem os grous. Esta espécie proporciona um dos espetáculos ornitológicos mais fascinantes da Península Ibérica: quando ao fim da tarde se juntam e dirigem aos seus locais de dormida, voando em bandos a baixa altitude enquanto vocalizam sem parar, é impossível ficar indiferente”, escreveram na Wilder Hany Alonso e Sónia Neves, da SPEA.
Líquen parmelia verde (Flavoparmelia caperata):
Os líquenes são seres fascinantes, pois resultam da associação simbiótica entre um fungo e uma alga: o fungo obtém o açúcar produzido por esta última no processo de fotossíntese, enquanto a alga fica protegida ao longo de todo o ano.
São também conhecidos como importantes bioindicadores, pois na sua maioria são muito sensíveis à poluição. E por isso, o facto de estarem presentes costuma significar que a qualidade do ar é boa. No caso do líquen parmelia verde, este é mais resistente e adapta-se bem a diferentes ambientes, incluindo as cidades.
Este líquen assemelha-se a uma folha de alface, com tons entre o amarelo e o verde-pálido. Procure-o nos troncos das árvores e esteja atento a outros líquenes – e também musgos – que poderá encontrar por aí.
Milhafre-real (Milvus milvus):
É sobretudo no Inverno que os milhafres-reais podem ser vistos em Portugal, quando para aqui migram de outros países mais a norte, como a Alemanha, para se refugiarem do frio. São observados mais facilmente no Interior Norte e no Centro, desde Montesinho até ao Alentejo e pontualmente no Algarve Interior. E têm sido ameaçados por diversas situações de envenenamento em território nacional.
Esta ave de rapina é ligeiramente maior do que o milhafre-preto e apresenta uma tonalidade mais clara e uma cauda forcada bem definida. Na União Europeia, é uma espécie de conservação prioritária, uma vez que 95% da sua população ocorre no continente europeu.
Recorde o percurso feito por dois milhafres-reais recuperados em Portugal.
Musgo Bryum capillare:
Este musgo é uma espécie da família Bryaceae, que é a maior família no grupo das plantas briófitas. É uma espécie muito comum de musgo, que cresce em tufos, e pode der encontrado numa grande variedade de solos, incluindo muitos jardins. Mas também pode aparecer em árvores, vedações, paredes, telhados e rochas.
Aprenda mais sobre os musgos e descubra também outras espécies deste grupo que estão visíveis em Portugal no Inverno, aqui.
Pato-trombeteiro (Anas clypeata):
Apesar de existir em Portugal uma pequena população residente, o pato-trombeteiro é sobretudo visto nos meses de Inverno, quando é um dos patos mais comuns, chegando ao país logo a partir de Agosto vindo do centro e norte da Europa. Também chamado de pato-colhereiro – não confundir com o colhereiro, que é uma outra espécie – este anatídeo está associado a lagos pouco profundos e com muita vegetação, de norte a sul do país. Tem uma dimensão média a grande e um bico muito longo e largo. São os machos que mais dão nas vistas, com a cabeça verde, o peito branco e o abdómen e os flancos em tons castanho-avelã. Já as fêmeas são todas acastanhadas.
Encontre aqui a identificação de um pato-trombeteiro observado em Agosto na Lagoa dos Salgados, realizada por Gonçalo Elias, ornitólogo e coordenador do portal Aves de Portugal.
Pegadas de lontra (Lutra lutra):
A lontra é um mamífero da família Mustelidae que ocorre por todo o país, excepto os Açores e a Madeira. Pode chegar aos 90 centímetros de comprimento e ter uma cauda até aos 47 centímetros. Vive normalmente em zonas húmidas de água doce, como rios, ribeiras, pauis, lagoas e albufeiras, mas também pode ser encontrado em ambientes salobros, como os estuários. Todavia é difícil de observar e as pistas que deixa são muitas vezes o único sinal da sua presença. As pegadas costumam ter os cinco dedos bem marcados (embora possam ver-se apenas quatro em solos mais duros) e uma grande almofada palmar, com 6-8 centímetros de comprimento e 5.5-6 centímetros de largura.
Saiba como distinguir pegadas de lontras, ginetas, texugos e raposas. E aprenda também como são os excrementos deste mamífero, identificados pelo especialista Francisco Álvares no consultório “Que Espécie é Esta?”.
Pilriteiro (Crataegus monogyna):
Este arbusto de folhas caducas, que se pode transformar numa pequena árvore, está presente um pouco por todo o país, incluindo em inúmeros jardins urbanos. As bagas vermelhas do pilriteiro, que amadurecem no Outono, servem de alimento a várias aves e outros animais nos dias mais frios do ano. Quanto às suas folhas, têm um formato bastante característico que ajuda a identificar esta planta nativa da Europa, Ásia e Norte de África. O pilriteiro é bastante resistente e robusto e pode viver até 500 anos de idade, conta-nos Carine Azevedo.
E que tal dar um passeio em busca destas sete bagas e outros frutos para procurar no Inverno?
Pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica):
O pequeno pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica) mede apenas 14 centímetros e usa Portugal como um refúgio de Inverno, alimentando-se dos insectos, larvas e outros pequenos invertebrados que encontra em zonas húmidas como os sapais e estuários. Os tons azuis que apresentam no peito – principalmente os machos adultos – animam qualquer observação de aves em dias frios e cinzentos. Os piscos-de-peito-azul que nos chegam vindos da Escandinávia têm ainda uma mancha laranja no centro, ao passo que os restantes apresentam essa mancha em tons brancos.
Descubra o projecto do fotógrafo Jacinto Policarpo com os piscos-de-peito-azul, aqui. E fique também a conhecer cinco aves que pode ver no Inverno.
Teixo (Taxus baccata):
Esta árvore, que pode viver até aos 2.000 anos, é uma espécie nativa da Europa, da cordilheira do Atlas (Norte de África) e da Ásia Menor. Como nos explica Carine Azevedo, em Portugal o teixo está confinado às montanhas das serras da Estrela e do Gerês e dos arquipélagos da Madeira e Açores. “Os povoamentos de teixo são considerados verdadeiras relíquias da floresta portuguesa por surgirem em vales profundos, encostas íngremes e apertadas, geralmente junto a linhas de água e de difícil acesso”, descreve esta especialista em botânica.
Trata-se de uma espécie de floração dióica, ou seja, tem flores masculinas e femininas que surgem em diferentes árvores. Quanto aos frutos, de um bonito vermelho ou laranja vivo, nascem apenas nos exemplares femininos. Esta é também uma espécie muito tóxica, com excepção dos arilos.
Aprenda mais sobre esta árvore relíquia da floresta portuguesa, aqui.