Confirmada pela primeira vez nidificação desta ave nas Berlengas

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Pela primeira vez foi confirmada a nidificação da fuinha-dos-juncos (Cisticola juncidis) na Reserva Natural das Berlengas. Nesta ilha ao largo de Peniche nidificam agora duas espécies de passeriformes.

“A nidificação foi confirmada a 29 de Junho pelos Vigilantes da Natureza em serviço na ilha, que repararam nas pequenas crias a efetuar os primeiros voos em fuga, ainda muito desajeitadas”, escreveu o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) em comunicado a 12 de Julho. 

Fuinha-dos-juncos. Foto: Luis Nunes Alberto/WikiCommons

A fuinha-dos-juncos é, “assim, a segunda espécie de passeriforme a nidificar na Reserva Natural das Berlengas, juntamente com o já bem estabelecido rabirruivo-preto (Phoenicurus ochruros)”, acrescentou o instituto.

Ainda assim, outros passeriformes são vistos com regularidade nas Berlengas. Por exemplo, este ano já foram observados o pardal-doméstico, o cartaxo e o melro-preto. Tratam-se de aves migradoras ou residentes no continente que apenas estão de visita às Berlengas.

Segundo explicou hoje o ICNF à Wilder, “neste momento existe o registo de um casal a nidificar” de fuinha-dos-juncos, uma pequena ave insectívora “cuja presença se faz notar através das vocalizações territoriais características”.

Foto: ICNF

É uma ave “bastante pequena”, de “bico fino e curto”, e de “cor castanho claro”, descreve o portal Aves de Portugal. “Os olhos estão envolvidos por uma tonalidade mais clara como se estivesse maquilhada e não possui listas na cabeça nem na  nuca.”

A fuinha-dos-juncos terá chegado à ilha por si própria. As Berlengas são “um local de passagem de muitas espécies de aves, nomeadamente durante as migrações”, explicou o ICNF à Wilder. “Apesar de ser uma ilha, não se encontra assim tão longe do continente que se torne difícil ou inviável a deslocação de aves, através do voo, até à ilha.” As Berlengas distam cerca de 10 quilómetros de Peniche.

Para o instituto, “esta nidificação representa o resultado dos esforços de conservação que foram levados a cabo durante o projecto LIFE Berlengas, no qual o ICNF e a SPEA (coordenadora do projecto) se uniram na recuperação do ecossistema insular”.

O projecto decorreu entre 2014 e 2019, com o objectivo de criar melhores condições às espécies nativas daquele habitat único, em especial para as aves marinhas – por exemplo, construíram-se ninhos artificiais para várias espécies e erradicaram-se os ratos-pretos – e para as plantas nativas (as equipas conseguiram quase erradicar o chorão-das-praias, espécie exótica invasora).

Mas a fuinha-dos-juncos não é a primeira ave a começar a fazer ninho nas Berlengas nos últimos tempos. Em 2019, a SPEA anunciou o nascimento de uma cria de roque-de-castro (Hydrobates castro) na ilha, pela primeira vez desde que há registo. Os roques-de-castro estão classificados como espécie em situação Vulnerável. Em Portugal, eram conhecidos até então apenas na Madeira e Açores e ainda nos Farilhões, grupo de pequenos ilhéus no arquipélago das Berlengas.

A chegada da fuinha-dos-juncos às Berlengas enquanto espécie nidificante é mais uma prova de que os esforços de conservação compensam e que podem ser cruciais.

Fuinha-dos-juncos. Foto: Gonçalo Vila Ferraz/WikiCommons

“Durante o projecto LIFE Berlengas foram tomadas medidas de controlo e/ou erradicação de espécies de flora e de fauna invasoras que poderiam colocar em causa a sobrevivência de outras espécies”, explicou o ICNF.

Neste caso em específico, o ICNF acredita que a fuinha-dos-juncos “pode ter beneficiado da erradicação do rato-preto, na medida em que este poderia predar ovos e crias desta espécie, que por norma nidifica na base da vegetação”.

Além disso, “o banco de sementes agora disponível no solo tem oportunidade de germinar e desenvolver-se, criando condições favoráveis para o estabelecimento” da pequena ave. Isto depois da erradicação do rato-preto e do coelho e do controlo do chorão-das-praias.

O ICNF defende a continuação da conservação dos ecossistemas das Berlengas, “de forma constante e duradoura” – como a manutenção de uma ilha livre de predadores e de espécies invasoras – e monitorizações regulares das espécies de fauna e flora, para “aferir sobre o ‘estado de saúde’ do ecossistema”.


Saiba mais.

Recorde a visita da Wilder às Berlengas, para acompanhar os trabalhos do LIFE Berlengas.

Agora é a sua vez.

Saiba quais as seis espécies a procurar numa visita às Berlengas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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