Pela primeira vez foi confirmada a nidificação da fuinha-dos-juncos (Cisticola juncidis) na Reserva Natural das Berlengas. Nesta ilha ao largo de Peniche nidificam agora duas espécies de passeriformes.
“A nidificação foi confirmada a 29 de Junho pelos Vigilantes da Natureza em serviço na ilha, que repararam nas pequenas crias a efetuar os primeiros voos em fuga, ainda muito desajeitadas”, escreveu o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) em comunicado a 12 de Julho.
A fuinha-dos-juncos é, “assim, a segunda espécie de passeriforme a nidificar na Reserva Natural das Berlengas, juntamente com o já bem estabelecido rabirruivo-preto (Phoenicurus ochruros)”, acrescentou o instituto.
Ainda assim, outros passeriformes são vistos com regularidade nas Berlengas. Por exemplo, este ano já foram observados o pardal-doméstico, o cartaxo e o melro-preto. Tratam-se de aves migradoras ou residentes no continente que apenas estão de visita às Berlengas.
Segundo explicou hoje o ICNF à Wilder, “neste momento existe o registo de um casal a nidificar” de fuinha-dos-juncos, uma pequena ave insectívora “cuja presença se faz notar através das vocalizações territoriais características”.
É uma ave “bastante pequena”, de “bico fino e curto”, e de “cor castanho claro”, descreve o portal Aves de Portugal. “Os olhos estão envolvidos por uma tonalidade mais clara como se estivesse maquilhada e não possui listas na cabeça nem na nuca.”
A fuinha-dos-juncos terá chegado à ilha por si própria. As Berlengas são “um local de passagem de muitas espécies de aves, nomeadamente durante as migrações”, explicou o ICNF à Wilder. “Apesar de ser uma ilha, não se encontra assim tão longe do continente que se torne difícil ou inviável a deslocação de aves, através do voo, até à ilha.” As Berlengas distam cerca de 10 quilómetros de Peniche.
Para o instituto, “esta nidificação representa o resultado dos esforços de conservação que foram levados a cabo durante o projecto LIFE Berlengas, no qual o ICNF e a SPEA (coordenadora do projecto) se uniram na recuperação do ecossistema insular”.
O projecto decorreu entre 2014 e 2019, com o objectivo de criar melhores condições às espécies nativas daquele habitat único, em especial para as aves marinhas – por exemplo, construíram-se ninhos artificiais para várias espécies e erradicaram-se os ratos-pretos – e para as plantas nativas (as equipas conseguiram quase erradicar o chorão-das-praias, espécie exótica invasora).
Mas a fuinha-dos-juncos não é a primeira ave a começar a fazer ninho nas Berlengas nos últimos tempos. Em 2019, a SPEA anunciou o nascimento de uma cria de roque-de-castro (Hydrobates castro) na ilha, pela primeira vez desde que há registo. Os roques-de-castro estão classificados como espécie em situação Vulnerável. Em Portugal, eram conhecidos até então apenas na Madeira e Açores e ainda nos Farilhões, grupo de pequenos ilhéus no arquipélago das Berlengas.
A chegada da fuinha-dos-juncos às Berlengas enquanto espécie nidificante é mais uma prova de que os esforços de conservação compensam e que podem ser cruciais.
“Durante o projecto LIFE Berlengas foram tomadas medidas de controlo e/ou erradicação de espécies de flora e de fauna invasoras que poderiam colocar em causa a sobrevivência de outras espécies”, explicou o ICNF.
Neste caso em específico, o ICNF acredita que a fuinha-dos-juncos “pode ter beneficiado da erradicação do rato-preto, na medida em que este poderia predar ovos e crias desta espécie, que por norma nidifica na base da vegetação”.
Além disso, “o banco de sementes agora disponível no solo tem oportunidade de germinar e desenvolver-se, criando condições favoráveis para o estabelecimento” da pequena ave. Isto depois da erradicação do rato-preto e do coelho e do controlo do chorão-das-praias.
O ICNF defende a continuação da conservação dos ecossistemas das Berlengas, “de forma constante e duradoura” – como a manutenção de uma ilha livre de predadores e de espécies invasoras – e monitorizações regulares das espécies de fauna e flora, para “aferir sobre o ‘estado de saúde’ do ecossistema”.
Saiba mais.
Recorde a visita da Wilder às Berlengas, para acompanhar os trabalhos do LIFE Berlengas.
Agora é a sua vez.
Saiba quais as seis espécies a procurar numa visita às Berlengas.