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Pardal-comum. Foto: Tim/Pixabay

Há cerca de 50 mil milhões de aves selvagens no mundo

18.05.2021

O nosso planeta é a casa para cerca de 50 mil milhões de aves selvagens, seis para cada humano, estima um novo estudo por uma universidade australiana. Apenas quatro espécies têm mais de mil milhões de indivíduos.

O estudo da Universidade da Nova Gales do Sul (UNSW), publicado esta semana na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), estimou quantas aves existem no mundo, pertencendo a 9.700 espécies diferentes, desde pinguins a papagaios e pardais.

Este trabalho foi feito com base em algoritmos detalhados e em dados recolhidos pela Ciência Cidadã em todo o mundo, desde 2010 a 2019. 

Trata-se do primeiro esforço a grande escala para estimar a população mundial de outras espécies que não a nossa. “Os humanos têm investido muito na contagem dos membros da nossa própria espécie, todos os 7,8 mil milhões de nós”, comentou em comunicado Will Cornwell, investigador na UNSW co-autor do estudo. “Este é o primeiro esforço para contar uma série de outras espécies.”

Foto: Paulo Valdivieso/Wiki Commons

A equipa de investigadores chegou a este número ao reunir quase mil milhões de registos de observações de aves no eBird, uma base de dados online com as observações de cidadãos cientistas. Usando esses dados, e estudos-caso detalhados quando os havia, os investigadores desenvolveram um algoritmo para estimar a real população global de cada espécie de ave.

Este cálculo levou em conta o grau de detectabilidade de cada espécie, ou seja, o quão provável é alguém ter visto esta ave e ter submetido a sua observação no eBird.

“Quantificar a abundância de uma espécie é um primeiro passo crucial para a conservação”, explicou Corey Callaghan, principal autor do artigo científico e na altura investigador naquela universidade australiana. “Ao contar devidamente o que existe no mundo identificamos que espécies podem ser vulneráveis e podemos acompanhar como esses padrões se alteram com o tempo.”

Abelharuco. Foto: Wolfgang Vogt/Pixabay

A base para o trabalho desta equipa inclui registos para quase todas (92%) as espécies de aves selvagens do planeta. Os investigadores acreditam ser pouco provável que os outros 8% – que foram excluídos por serem tão raros que não têm dados disponíveis – possam alterar muito a estimativa global.

Apenas quatro espécies fazem parte daquilo a que os cientistas chamam “o clube dos mil milhões”: espécies com uma população mundial estimada em mais de mil milhões de indivíduos. 

Este grupo exclusivo é liderado pelo pardal-comum (Passer domesticus), que terá cerca de 1,6 mil milhões de indivíduos. Segue-se o estorninho-malhado (Sturnus vulgaris) com 1,3 mil milhões, a gaivota-de-bico-riscado (Larus delawarensis) com 1,2 mil milhões e, por fim, a andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica), com 1,1 mil milhões. 

“Ficámos surpreendidos com o facto de tão poucas espécies dominarem o número total de aves individuais no mundo”, comentou Callaghan, agora investigador no Centro alemão para a Investigação Integrativa em Biodiversidade (iDiv) Halle-Jena-Leipzig. “O que têm estas aves, do ponto de vista evolutivo, que lhes deu tanto sucesso?”

Andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica). Foto: Standbild-Fotografie/WikiCommons

Mas se há populações de aves que estão a prosperar, muitas outras estão em declínio. Cerca de 12% das espécies de aves incluídas neste estudo têm populações estimadas em menos de 5.000 indivíduos. “Se os seus números populacionais estão a cair, isso pode ser um verdadeiro sinal de alarme para a saúde do nosso ecossistema”, acrescentou.

Este estudo só foi possível graças à ajuda de mais de 600.000 cidadãos cientistas que submeteram as suas observações no eBird entre 2010 e 2019. O Cornell Lab of Ornithology, que gere o eBird, disponibilizou os dados gratuitamente à equipa de investigadores.

“Bases de dados de Ciência Cidadã a larga escala como o eBird estão a revolucionar a nossa capacidade para estudar a macro-ecologia”, comentou Cornwell. “Este tipo de dados simplesmente não estava disponível há uma década atrás.”

Apesar de a equipa estar confiante nas suas estimativas, reconhece um certo grau de incerteza quando se trabalha com bases de dados desta envergadura. Por exemplo, pode ser mais provável as pessoas procurarem espécies mais raras ou uma espécie ser tão rara que simplesmente não há dados suficientes.

“As nossas conclusões, ainda que grosseiras em algumas áreas, representam a melhor informação disponível que temos de momento para muitas espécies”, disse Shinichi Nakagawa, investigador da UNSW e um dos autores do artigo.

A equipa conta repetir esta análise dos dados para ir acompanhando o que está a acontecer à biodiversidade do mundo das aves.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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