PUB

Montes submarinos. Foto: JC094, Lissette Victorero

Comunidade científica pede acção urgente para travar pesca de arrasto

06.06.2025

Cientistas marinhos de todo o mundo estão a pedir aos Governos para protegerem os ecossistemas do fundo do mar dos efeitos devastadores da pesca de arrasto, nas vésperas da Conferência da ONU para os Oceanos, em Nice.

Numa carta aberta, os investigadores que fazem parte da Deep Sea Conservation Coalition (DSCC) – entre eles Sylvia Earle, exploradora da Mission Blue e da National Geographic – alertam que a pesca de arrasto continua a destruir “ecossistemas vitais, frágeis e antigos”, zonas de berçário e desova para inúmeras espécies, fontes de alimento e zonas de refúgio.

Os 74 cientistas que assinam a carta lembram que várias resoluções das Nações Unidas indicam que os ecossistemas marinhos vulneráveis, incluindo montes submarinos, devem estar protegidos de actividades destrutivas. Na verdade, as preocupações com a pesca de arrasto nos montes submarinos foi levantada pela primeira vez nas Nações Unidas em 2004 por 1452 cientistas de 69 países e em 2006 foi aprovada uma resolução da Assembleia Geral para pôr um fim à prática. No entanto, ainda não foi implementada.

Por isso, os investigadores apelam aos Governos para tomarem acções imediatas para proteger “essas extraordinárias montanhas submarinas”.

“Nunca como agora soubemos tanto sobre os montes submarinos e sobre a sua importância para a biodiversidade, a sua vulnerabilidade e o seu papel crucial na manutenção de um oceano saudável”, comentou Lissette Victorero, conselheira científica na DSCC. “Também vimos em primeira mão as provas inegáveis do impacto da pesca de arrasto nesses ecossistemas, que podem levar desde séculos a milénios a recuperar.”

Os investigadores que assinam esta carta aberta lembram que os Governos têm as ferramentas de que precisam para parar esta destruição. “A Ciência é clara: a altura de agir é agora.”

Há lacunas na governância internacional dos oceanos, em especial nas áreas do alto mar. Enquanto o Tratado do Alto Mar não entrar em vigor, “um processo que irá, inevitavelmente, demorar”, as nações “podem honrar os seus compromissos feitos em 2006 e proteger os ecossistemas marinhos vulneráveis de práticas pesqueiras destrutivas”.

“Estas montanhas submarinas são casa para comunidades únicas e habitats vitais muitas vezes mais antigos do que as nossas florestas mais antigas”, comentou Lance Morgan, presidente do Marine Conservation Institute. “Proteger os montes submarinos não é opcional, é imperativo.”

De 9 a 13 de Junho, cerca de 80 líderes mundiais reúnem-se em Nice, França, na 3ª Conferência das Nações Unidas para o Oceano (UNOC3). A proibição da pesca de arrasto em áreas marinhas protegidas será um dos temas em cima da mesa, bem como o Tratado do Alto Mar.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

Don't Miss