Actualmente, 37% das aves comuns de Espanha estão em situação desfavorável. Neste grupo estão a laverca, a codorniz, o andorinhão-preto ou o melro-das-rochas, revela a SEO/Birdlife.
Todas as Primaveras há já 25 anos, mais de 1.000 voluntários saem de casa com um objectivo: registar as aves de Espanha, no âmbito do programa de Seguimento e Estudo das Aves Comuns na Primavera (Sacre) da Sociedade Espanhola e Ornitologia (SEO/Birdlife).
São mais de 1.000 pessoas que “calçam as botas e reivindicam o papel fundamental da ciência cidadã na conservação da natureza à escala mundial”, comentou Asunción Ruiz, directora-executiva da SEO/Birdlife.
Este programa de ciência cidadã “oferece dados consolidados e validados cientificamente sobre o estado de conservação de mais de 100 espécies de aves” mais comuns de Espanha.
Segundo os dados mais recentes relativos aos últimos 25 anos, divulgados a 27 de Abril, 44% das espécies têm uma tendência populacional positiva e 19% têm uma tendência estável. Entre estas aves está o pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula), que registou um aumento de 44,4%, muito explicado pelas reflorestações de bosques e pelo abandono da actividade agrícola e florestal em algumas zonas.
Mas estes números não satisfazem a SEO/Birdlife.
Ainda segundo os dados de 25 anos do Sacre, 37% das aves comuns – incluindo espécies tão conhecidas como a perdiz ou a andorinha-das-chaminés – estão numa situação de conservação desfavorável. Porquê? A SEO/Birdlife aponta o dedo às alterações climáticas e às práticas agrícolas insustentáveis.
Este é, na opinião de Asunción Ruiz, “um sinal de alarme que deve activar políticas e acções claras para responder à crise ecológica que sofremos e para a qual espécies tão populares como o pardal-comum, a perdiz ou o andorinhão-preto, Ave do Ano 2021, nos têm vindo a alertar há demasiado tempo”.
Para a SEO/Birdlife, esses 37% são uma percentagem elevada, “sobretudo se tivermos em conta que 26 delas (62% das que estão em declínio) registaram um declínio superior a 30% desde 1998”.
Algumas destas espécies em declínio estão presentes em grande parte do território: picanço-real (Lanius meridionalis), laverca (Alauda arvensis), calhandra-real (Melanocorypha calandra), codorniz (Coturnix coturnix), chasco-cinzento (Oenanthe oenanthe), chasco-ruivo (Oenanthe hispanica), toutinegra-do-mato (Curruca undata), escrevedeira-amarela (Emberiza citrinella), escrevedeira-de-garganta-cinzenta (Emberiza cia), andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica), gralha-de-nuca-cinzenta (Corvus monedula) e perdiz-vermelha (Alectoris rufa).
Por exemplo, o melro-das-rochas (Monticola saxatilis), uma espécie ligada à alta montanha, registou uma impressionante descida de 95,3% nas suas populações desde 1998. A diminuição dos seus efectivos é uma das mais altas registadas entre as aves comuns. “As alterações climáticas podem ser um dos causadores deste declínio porque é na alta montanha que este fenómeno está a causar alterações na fauna e na flora a maior velocidade”, segundo a SEO/Birdlife.
Já para o picanço-real (Lanius meridionalis), que regista um declínio de 62,6%, a maior ameaça é o uso de produtos químicos para acabar com as “ervas daninhas” nas explorações agrícolas mas que acabam por matar também grande parte da vida animal das mesmas, como gafanhotos, grilos e pequenos vertebrados que são cada vez mais escassos.
O andorinhão-preto (Apus apus), espécie comum que desde há séculos está depende de construções humanas para pôr os seus ovos, é cada vez mais raro por causa da poluição, falta de locais onde criar e por falta de alimento. Esta espécie registou uma tendência negativa de 27,2%.
“Surpreende-nos ver na lista dos declínios aves que fazem parte do nosso imaginário colectivo porque são aves que sempre nos acompanharam”, comentou Asunción Ruiz.
Em Portugal, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) tem a decorrer o seu Censo de Aves Comuns (realizado de 1 de Abril a 31 de Maio no Continente e de 15 de Maio a 15 de Junho nos Açores). Segundo este censo, que foi lançado em 2004, as três espécies de aves mais observadas em Portugal Continental entre 2004 e 2019 foram o pardal-comum (Passer domesticus), o pombo-doméstico (Columba livia) e a andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica). Mas esta última, tal como acontece em Espanha, também regista em Portugal uma tendência negativa, com um “declínio acentuado” ao longo dos 16 primeiros anos do censo.