Quebra-ossos. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

Centro andaluz bate recorde mundial de nascimentos de quebra-ossos

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Guadalentín, na Andaluzia, bateu um recorde mundial ao conseguir 10 crias de quebra-ossos numa única temporada de reprodução, anunciou a Fundação para a Conservação dos Abutres.

O Centro de Reprodução em cativeiro do quebra-ossos (Gypaetus barbatus) em Guadalentín, em pleno Parque Natural Sierras de Cazorla, Segura y las Villas, é um dos centros europeus que está a tentar trazer de volta esta espécie de abutre Em Perigo de extinção ao Velho Continente.

Quebra-ossos nos Pirinéus, Espanha. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

“Até ao momento, nenhum outro centro no mundo tinha conseguido um número tão elevado de crias numa única temporada de reprodução”, sublinhou, a 26 de Março, a Fundação para a Conservação dos Abutres (VCF).

Guinness, a cria que bateu este recorde mundial, eclodiu do seu ovo na passada quarta-feira, com 150 gramas de peso. Os pais desta cria são Cabús – o macho mais velho no centro, com mais de 30 anos – e Perea, uma fêmea com 12 anos que teve a sua primeira cria de sempre nesta temporada. Este casal foi formado em Outubro de 2020.

Guiness. Foto: VCF

O centro de Guadalentín teve esta temporada, de 2020/2021, sete casais reprodutores, mais um casal do que na temporada passada (precisamente Cabús e Perea). No total, os sete casais puseram 12 ovos, dos quais 10 eram férteis. Keno pôs o primeiro a 7 de Dezembro de 2020 e Perea pôs o último, a 29 de Janeiro de 2021.

A primeira cria nasceu a 29 de Janeiro, com 145,1 gramas. Foi chamada Attenborough, em homenagem a Sir David Attenborough. A 24 de Fevereiro nasceu, com 148,3 gramas, Herrera, um nome escolhido a pensar em Carlos Herrera, o biólogo que desenvolveu a maior parte da sua investigação no Parque Natural de Cazorla, Segura y las Villas.

Dois dias depois, a 26 de Fevereiro, eclodiu Goodall (em homenagem à ecologista pioneira no estudo de chimpanzés na Tanzânia, Jane Goodall), com 142,8 gramas.

Março viu eclodir Félix (em homenagem ao grande naturalista espanhol Félix Rodríguez de la Fuente) no dia 4, com 128,9 gramas; Cousteau (em homenagem ao mergulhador francês Jacques-Yves Cousteau), também no dia 4, com 139,8 gramas; Leakey (em homenagem à antropóloga britânica Mary Douglas Leakey) no dia 6, com 151,1 gramas; Diario Jaén (em homenagem ao jornal daquela província da Andaluzia) no dia 11, com 121 gramas; Prescott (em homenagem a Isabel Molina Prescott, veterinária e coordenadora da red de centros de recuperação da Andaluzia) no dia 14, com 159,1 gramas; Fossey (em homenagem à zoóloga norte-americana Dian Fossey, conhecida pelo seu trabalho com os gorilas nas montanhas Virunga) no dia 21, com 152 gramas; e Guinness, no dia 24, com 149.9 gramas.

A primeira cria de quebra-ossos de Guadalentín nasceu em Fevereiro de 2002. Hoje, 25 anos depois da criação do centro, um total de 102 crias eclodiram e sobreviveram naquelas instalações. O objectivo é libertar estas aves na natureza, para reforçar as populações selvagens.

O mais ameaçado da Europa

O quebra-ossos (Gypaetus barbatus) é o abutre mais ameaçado da Europa, onde se estima que existam hoje pouco mais de 200 casais, 130 dos quais em Espanha.

Quebra-ossos. Foto: Richard Bartz/Wiki Commons

Nas últimas décadas, os conservacionistas têm libertado quebra-ossos na natureza para reintroduzir ou reforçar a população desta espécie na Europa. Entre 1986 e 2019 foram libertados 323 quebra-ossos juvenis na natureza, incluindo 227 nos Alpes e nos Pré-Alpes e 63 na Andaluzia.

Em Portugal, a espécie está dada como extinta.

Até há pouco tempo não se conheciam registos da sua ocorrência desde o final do século XIX, segundo o livro “Aves de Portugal” (2010). O registo mais preciso era de 1888 quando duas aves foram abatidas no rio Guadiana. Os exemplares estão hoje no Museu de Zoologia da Universidade de Coimbra.

Mas em Maio de 2018, a Fundação para a Conservação dos Abutres revelou que um observador de aves alemão viu e fotografou um quebra-ossos no Algarve.


Saiba mais sobre o quebra-ossos:

Como é um quebra-ossos: esta é uma ave com quase três metros de envergadura de asa e até oito quilos de peso. A plumagem pode ser muito escura na sua fase juvenil e tornar-se mais clara com as sucessivas mudas. Mas talvez o que melhor a caracteriza são as barbas escuras perto do bico e o vermelho vivo em redor dos olhos.

Onde nidifica: nas saliências rochosas das grandes cadeias montanhosas.

O que significa o seu nome científico: em Latim, Gyp quer dizer abutre, aetus quer dizer águia e barbatus quer dizer com barba.

Alimenta-se de quê: esta ave é a única do planeta que se alimenta quase exclusivamente de ossos, principalmente de ungulados. Pode chegar a alimentar-se de ossos com 20 centímetros, que digere graças ao seu potente estômago. Quando não os consegue comer inteiros, agarra neles com as suas garras e lança-os de grandes alturas em zonas rochosas para os quebrar.

Quais as maiores populações de quebra-ossos na Europa: esta é uma espécie em perigo de extinção no Velho Continente. As maiores populações são as da cordilheira Pirenaica, da Córsega e Creta. A nível mundial, a União Internacional para a Conservação da Natureza classificou-a como Quase Ameaçada.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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