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O champim-azul, nesta fotografia de Ray Kennedy (RSPB), foi a segunda ave mais observada em 2014

Meio milhão de pessoas vai contar as aves do Reino Unido

16.01.2015

A 24 e 25 de Janeiro, mais de 500.000 pessoas vão contar as aves que virem nos seus jardins, varandas e beirais. Este é um dos maiores censos mundiais de vida selvagem, o “Big Garden Birdwatch”, organizado há 36 anos pela Royal Society for Protection of Birds (RSPB) no Reino Unido.

Uma semana antes do grande evento, os moradores e funcionários do lar para séniores Perry Manor, na cidade inglesa de Worcester, receberam binóculos e guias de identificação e instalaram alimentadores para aves, noticia o jornal local “Worcester News”. “Estar sentado a ver o rodopio das aves no jardim depressa se torna um interesse partilhado pelos residentes e ajudar a limpar e encher os alimentadores pode ser muito gratificante”, disse ao jornal Mike Dearn, o gestor do lar.

Um pouco por todo o país ultimam-se os preparativos para a observação da vida selvagem.

Pisco-de-peito-ruivo (Genevieve Leaper, RSPB)
Pisco-de-peito-ruivo (Genevieve Leaper, RSPB)

Os cidadãos registam-se no site da RSPB antes do evento, escolhem uma hora naquele fim-de-semana para observar e registar as aves no seu jardim ou num espaço verde próximo e depois submetem os resultados pela Internet ou por correio.

No ano passado, foram registadas 7.274.159 aves, sendo o pardal a espécie mais observada. Fazem ainda parte do “top ten” o chapim-azul, estorninho, melro, pombo-torcaz, tentilhão, pintassilgo, chapim-real, rola-turca e o pisco-de-peito-ruivo.

Chapim-real (Eric Woods, RSPB)
Chapim-real (Eric Woods, RSPB)

“As populações de aves são um óptimo indicador da saúde do nosso campo”, diz-nos Harry Bellew, da RSPB, a partir da sede da organização na reserva natural The Lodge, em Bedfordshire. “Ao participar em censos como este, as pessoas estão a ajudar-nos a estar a par dos altos e baixos da vida selvagem onde vivemos”.

“É graças a estas pessoas que conseguimos monitorizar tendências, compreender de que forma as aves estão a aguentar-se e a tomar medidas para melhorar as coisas”, conta Bellew. “Quanto mais pessoas se envolverem no Birdwatch, mais a RSPB pode aprender. Isto vai-nos permitir ter uma imagem melhor do estado da natureza em todo o país e a encontrar formas de ajudar a dar uma casa à natureza que precisa de mais ajuda”.

Desde 2014 que não se contam só as aves

No ano passado, e pela primeira vez, a RSPB pediu aos participantes para procurarem outras espécies selvagens: esquilos-vermelhos, esquilos-cinzentos, texugos, ouriços-cacheiros, raposas e corços. Este ano foram acrescentados à lista os licranços e as cobras-de-água.

Ouriço-cacheiro (Nigel Blake, RSPB)
Ouriço-cacheiro (Nigel Blake, RSPB)

O Big Garden Birdwatch faz parte do projecto-bandeira da RSPB, “Giving Nature a Home”, para combater as ameaças à vida selvagem naquele país. “Pedimos às pessoas para providenciarem um local nos seus jardins para a vida selvagem, seja ao plantar espécies ricas em pólen para atrair abelhas e borboletas, ou instalar uma caixa-ninho para um pardal ou ainda criar um charco para inúmeras espécies”, acrescenta a organização em comunicado.

Texugo (Danny Green, RSPB)
Texugo (Danny Green, RSPB)

“Este censo mostra como são importantes os nossos jardins para uma variedade fantástica de vida selvagem”, explica Daniel Hayhow, cientista a trabalhar na RSPB. “Acrescentar os licranços e as cobras-de-água à lista é um grande passo para recolher mais informação que nos ajude a identificar as mudanças na distribuição das espécies ao longo do tempo”, disse ainda.

Alguns dados com o que se descobriu até agora:

Pardal-doméstico: apesar de ter ficado em 1º lugar em 2014, a espécie está listada como ameaçada no Reino Unido; a sua população caiu 62% desde 1979.

Estorninho-comum: os seus números caíram 84% desde 1979 e a RSPB está a tentar encontrar as razões deste declínio.

Tordo: a espécie registou um decréscimo de 81%.

Sapos: apesar de serem mais comum nas zonas rurais, 57% dos participantes do censo de 2014 viram estes animais nas cidades.

Ouriço-cacheiro: 67% dos participantes em 2014 observaram esta espécie nos seus jardins, apesar do grave declínio das populações no país.

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Se o “Big Garden Birdwatch” é só para quem vive no Reino Unido, não faltam em Portugal oportunidades para fazer a sua parte no registo da vida selvagem. Aqui ficam algumas contagens onde você faz falta:

Dia da Águia-pesqueira: 24 de Janeiro

Registo de musgos e líquenes: até ao final de Janeiro

Contagens de Aves no Natal e Ano Novo: de 15 Dezembro a 31 de Janeiro

Projeto Arenaria – Distribuição e Abundância de Aves nas Praias e Costas de Portugal: de 1 de Dezembro a 31 de Janeiro

Noctua-Portugal (Monitorização de Aves Noturnas): de 1 de Dezembro a 15 de Junho

Registos de esquilo-vermelho em Portugal: este projecto decorre todo o ano

Projecto 12 meses, 12 plantas: a espécie a cartografar em Janeiro é o alecrim

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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