Uma silhueta escura com um rápido bater de asas é quase tudo aquilo que conseguimos ver de um morcego. Mas até ao final de Setembro pode visitá-los na exposição de ilustração científica “Morcegos de Portugal”, no Centro Ciência Viva do Alviela.
Em Portugal Continental vivem 25 espécies de morcegos. Lúcia Antunes desenhou-as todas.
Durante longos meses, esta designer gráfica de 29 anos, andou atrás deles em grutas, viu centenas de fotografias, falou com os maiores especialistas, leu muito e espreitou pelos frascos com morcegos preservados em álcool. Tudo isto está nesta exposição, resumido em 32 painéis para que possamos compreender e admirar a riqueza destes mamíferos.
Nesta mostra há um painel para cada espécie de morcego e outros oito painéis com informação sobre o seu ciclo de vida; pormenores de asas, ferradura, ou orelhas; chaves de identificação; as principais presas; comportamentos – em repouso, a voar, a caçar – e comparação dos membros superiores dos morcegos com vários tipos de animais. Incluindo com o ser humano.
A exposição – que já esteve no Palácio D. Manuel (Évora), na Agência Portuguesa do Ambiente (Lisboa), na Quinta da Regaleira (Sintra), na Tapada de Mafra e no Museu do Traje (Lisboa) – é o resultado da tese de mestrado de Lúcia em Ilustração Científica (2011-2012), e que teve como orientadores o biólogo e especialista em morcegos, Jorge Palmeirim, e o ilustrador científico Pedro Salgado.
“A exposição não foi feita para especialistas em morcegos, mas sim para todos”, conta-nos Lúcia, numa tarde de Verão no seu atelier em Lisboa.
Até há bem pouco tempo, Lúcia sabia tanto de morcegos como nós. Foi durante o seu mestrado em ilustração científica que os morcegos lhe chamaram a atenção. Mais para aprender a técnica de desenhar pêlo. “O primeiro morcego que fiz foi o morcego de ferradura pequeno.” A partir de então, só descansou quando ilustrou as 25 espécies. “São animais fabulosos e desconhecidos, que habitam no planeta há pelo menos 50 milhões de anos, a julgar pelo fóssil encontrado na Alemanha e que se julga ser o mais antigo, em boas condições”, explica.
Morcegos de grafite
Os morcegos que poderá ver na exposição foram feitos a grafite sobre folhas de Scratchboard, um material que permite desenhar pêlos, com o máximo pormenor, através da raspagem com um X-acto. Lúcia optou por ilustrar apenas as características que permitem identificar a espécie de morcego, ou seja, o focinho, a cabeça e as orelhas. E os morcegos surgem a três quartos e não de frente porque “é a posição mais abrangente”.
“Antes de começar a desenhar passava vários dias a estudar cada morcego para conseguir fazer um desenho preliminar.”
Das 25 espécies, a mais difícil de compreender foi o morcego-negro (Barbastella barbastellus). “É um animal muito complexo e difícil de perceber. Na fase da pesquisa foi muito complicado porque não consegui ter nenhum exemplar conservado para fazer a observação”, conta. “Tive de ver muitas fotografias e fazer muitos esboços que iam sendo alterados e corrigidos com o professor Jorge Palmeirim sentado ao meu lado.”
Mas depois de ter os esboços certos, as artes finais demoraram entre três a quatro dias a fazer, cada uma.
“Começava sempre pelo olho, depois passava para o focinho, depois para as orelhas. A última coisa a fazer era sempre o pêlo”.
Para o futuro, Lúcia quer publicar um guia de identificação dos morcegos de Portugal. Mas, por enquanto, ainda não encontrou financiamento.
[divider type=”thin”]Agora é a sua vez. Pode visitar a exposição até ao final de Setembro. Aqui ficam alguns dados úteis:
Horários da exposição:
Terça a Sexta-feira: 10h00 às 18h00
Sábados, Domingos e feriados: 11h00 às 19h00
Local:
Centro Ciência Viva do Alviela – Carsoscópio
Praia Fluvial dos Olhos d’Água do Alviela
Louriceira, 2380-450 Alcanena
E se quiser pode saber mais sobre o trabalho de Lúcia Antunes aqui e aqui. E sobre os morcegos em Portugal, no artigo “Sete coisas sobre morcegos que precisa saber”.