Morreram pelo menos 26 cachalotes no Mediterrâneo Ocidental em apenas sete meses, entre 2018 e 2019, “uma quantidade preocupante para uma espécie que já se considerava em perigo de extinção”, avisa a Greenpeace.
Os cachalotes (Physeter macrocephalus) chegam aos 18 metros de comprimento e podem viver até aos 70 anos. Têm crias com intervalos de quatro a seis anos, o que os torna nos mamíferos com a taxa mais baixa de reprodução. Ocorrem nos oceanos Pacífico, Índico e Atlântico, incluindo junto à costa portuguesa, e também no Mediterrâneo.
A espécie é classificada como Vulnerável à extinção, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza.
De acordo com um estudo realizado para a Greenpeace pela Universidade de Pádua, um em cada quatro dos cachalotes encontrados sem vida na costa italiana, nos últimos anos, foram mortos por actividades humanas.
A principal causa são as redes de pesca abandonadas no mar, “cada vez mais frequentes”, nas quais os cachalotes ficam enredados sem se conseguirem libertar, indica em comunicado a Greenpeace Espanha.
Pelo mesmo motivo, outra ameaça importante são artes de pesca ilegais como as redes de deriva, que apesar de proibidas pela União Europeia continuam a ser usadas por frotas pesqueiras de vários países. Estas redes podem atingir uma altura de 35 metros e uma longitude que chega aos 20 quilómetros, quando colocadas umas ao lado das outras, e são conhecidas pelo termo ilustrativo “cortinas da morte”.
Plásticos e “sarampo dos cetáceos”
Por outro lado, indica a organização não governamental (ONG), 84% dos cachalotes arrojados na costa italiana, entre 2018 e 2019, tinham pedaços de plástico nos estômagos – um “problema grave” para esta espécie. No caso de uma fêmea encontrada no início de 2019 ao largo de Ólbia, na ilha italiana da Sardenha, o plástico acumulado no estômago pesava 22 quilos, recorda a ONG.
As preocupações crescem também em relação a um vírus conhecido por provocar uma doença chamada de “sarampo dos cetáceos”. “Após graves epidemias em golfinhos entre 1990 e 2008, agora parece estar a ressurgir, especialmente associado com tensões ambientais.”
Com efeito, o estudo da Universidade de Pádua concluiu que cinco dos seis cachalotes arrojados, analisados no Verão de 2019, deram positivo para este vírus. “Tal como no caso do SARS ou do Covid-19, também este vírus está a saltar entre espécies, chegando inclusivamente a outras como lontras e focas.”
A Greenpeace apela aliás à realização de mais estudos sobre as causas de morte desses cinco cachalotes, importantes não só para a conservação da biodiversidade mas também da saúde humana.
Esta organização exige também que seja alcançado um tratado mundial dos oceanos, com o objectivo de garantir a protecção de pelo menos um terço dos oceanos do mundo até 2030.