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Cardume de atuns. Foto: Danilo Cedrone/United Nations Food and Agriculture Organization

Clima altera distribuição de atuns no Atlântico e empurra-os mais para Norte

24.07.2025

Já em 2030, as principais espécies de atuns que vivem no Atlântico podem começar a mudar-se mais para Norte, o que trará impactos para a biodiversidade marinha e para as pescas, alerta um novo estudo científico.

Uma equipa de investigadores – liderada pelo MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (CIÊNCIAS ULisboa) e na qual participaram investigadores do CESAM e o Instituto de Investigaciones Marinas (CSIC, Espanha) – estudou como irão as alterações climáticas afectar as principais espécies de atum do Atlântico.

O resultado do seu trabalho, publicado a 9 de Julho na revista Biodiversity and Conservation, concluiu que haverá mudanças significativas na distribuição das principais espécies de atum capturadas no Oceano Atlântico.

Thunnus obesus. Foto: Priscila Silva/MARE

O que mais vai influenciar a distribuição futura dos atuns é a temperatura de superfície do oceano, o oxigénio dissolvido e a salinidade.

A equipa usou ferramentas de modelação ecológica para prever como as condições ambientais poderão afetar as áreas onde o atum poderá viver no futuro.

O estudo analisou três cenários possíveis de evolução do clima até ao final do século: um cenário otimista com aumento da temperatura média global de cerca de +2 °C; um cenário intermédio com aumentos entre +3,5 °C e +4 °C; e um cenário severo em que a temperatura poderá subir mais de +5 °C. As projeções consideraram dois períodos futuros: 2020–2030 e 2040–2050, centrando-se em cinco espécies de atum: Thunnus alalunga, T. thynnus, T. albacares, T. obesus e Katsuwonus pelamis.

Estes modelos apontam para uma diminuição da adequabilidade do habitat nas regiões equatoriais, acompanhada por um aumento relativo nas zonas temperadas.

“Esta tendência poderá afetar áreas de desova e zonas tradicionais de pesca, com potenciais implicações ecológicas e socioeconómicas, sobretudo para comunidades dependentes da pesca destas espécies em países tropicais”, segundo um comunicado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

De acordo com os autores, este padrão representa um risco de redução drástica da área de ocorrência, ou mesmo extinção local dos atuns em regiões equatoriais.

O estudo antecipa que esta mudança na distribuição dos atuns para latitudes mais altas poderá começar já em 2030, acompanhada por fortes perdas de habitat nas zonas tropicais, o que põe em causa a presença contínua destas espécies em áreas onde hoje são abundantes.

Em 2022, as capturas mundiais de atuns ultrapassaram as 8,3 milhões de toneladas, o valor mais alto alguma vez registado, com as principais espécies comerciais a representarem cerca de 60% dessa produção. Mas, “além do seu valor económico e importância na alimentação humana, os atuns desempenham também um papel ecológico fundamental como predadores e presas nos ecossistemas oceânicos”, segundo o mesmo comunicado.

“Este tipo de projeções é essencial para antecipar mudanças e apoiar a gestão adaptativa das pescas”, comentou Priscila Silva, investigadora do MARE-ULisboa/ARNET e primeira autora do estudo.

O estudo reforça também a necessidade de considerar as dinâmicas ecológicas e ambientais nos processos de tomada de decisão relacionados com a sustentabilidade das pescas.

“Os resultados mostram que a distribuição dos atuns pode mudar substancialmente nas próximas décadas, o que levanta desafios importantes para a gestão das pescas. Integrar cenários climáticos na tomada de decisão poderá ser fundamental para garantir a resiliência dos ecossistemas marinhos e das comunidades que deles dependem”, afirmou Francisco Borges, também autor do estudo e investigador do MARE-ULisboa/ARNET.

Segundo estes investigadores, prever a resposta dos atuns às alterações climáticas “é essencial para informar estratégias de gestão mais eficazes, não só para a sustentabilidade das populações marinhas, mas também para proteger os meios de subsistência das comunidades humanas que delas dependem”.

Este trabalho foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), através dos projetos atribuídos ao MARE/ARNET e CESAM, e contou com o apoio do European Research Council.


Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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