O ilustrador Marco Nunes Correia sugere-lhe quais os melhores objectos naturais por onde pode começar a desenhar a natureza.
A primeira coisa a reter é que qualquer época do ano é óptima para desenhar. Até desenhamos à chuva e ao vento. Mas a Primavera, com as suas temperaturas amenas e dias de Sol, é mais agradável para estarmos ao ar livre, na natureza, com os nossos cadernos e lápis, canetas ou aguarelas. E há muitas coisas a acontecer, desde as flores às aves. O mundo natural anda num corrupio. E seria um desperdício não o desenharmos.
Assim, nesta altura do ano, há uma série de desafios e truques à nossa espera. Estes são apenas alguns:
Folhas: podemos começar por desenhar folhas de árvores, para quebrar o gelo com o papel e o lápis. São mais simples porque são planas. Se as desenharmos vistas de cima ou de baixo, não nos esqueçamos que as nervuras do plano inferior e superior não são iguais. Podemos desenhar de um lado e depois do outro e comparar as diferenças.
Um truque para nos ajudar a desenhar a estrutura da folha que temos à nossa frente é abstrairmo-nos do conceito “folha” e observá-la com muita atenção para encontrarmos formas estruturais: círculos, ovais, triângulos, trapézios ou rectângulos, ou seja, formas simplificadas que facilitem um registo mais real. E para termos atenção às proporções. Sem elas, o desenho corre o sério risco de não nos parecer tão bem. E isto aplica-se a qualquer modelo.
Devemos tentar representar a folha o mais fiel possível mas despreocupadamente; não precisamos desenhar todas as curvinhas que vemos, para não desanimar. E se não ficarmos satisfeitos logo no início, isso é natural. O desenho é uma arte que requer treino.
Árvores: Podemos começar por desenhar os frutos, ramos ou a textura do tronco de uma árvore que nos chame a atenção. Para os mais ambiciosos, desenhar toda a árvore é um bom desafio. Mas como a textura da folhagem pode ser difícil de representar, há um truque que podemos utilizar. Antes de irmos para o campo, podemos pegar em fotografias da árvore que queremos desenhar, como por exemplo castanheiros ou carvalhos, ou do local onde queremos ir. Estudamos a árvore a diferentes distâncias. Depois, com a ajuda de papel vegetal por cima da fotocópia, tentamos representar a textura da folhagem, que varia em função da distância do observador. Isto ajuda-nos a entender melhor a sua textura e perceber quanto detalhe decidimos pôr na folhagem, criando linhas, manchas ou um efeito ondulado para simular a concentração das folhas.
Flores: Primeiro é preciso escolher uma planta com flor que seja do nosso agrado, ou pela cor, ou pelas pétalas ou simplesmente porque é fácil de entender. Pode estar no campo, no jardim do bairro ou até na floreira na nossa janela. Um desafio muito interessante é irmos várias vezes ao mesmo local e perceber a evolução da flor ao longo da estação. Do botão até caírem as pétalas ou até ao fruto. Assim, no nosso caderno de campo registamos um ciclo, fazemos a ilustração do tempo. E se quisermos dar um valor acrescentado ao desenho podemos colocar a data e o local.
No desenho de flores, há alguns truques a aproveitar. Escolha uma flor que não seja muito pequena para não perder o detalhe. Quanto maior, melhor. E depois observe a flor de vários ângulos e perceba as alterações que o objecto sofre segundo a perspectiva: de frente, de lado, de cima e de baixo. E esteja atento à forma das pétalas centrais e dos estames.
Outras sugestões para desenhar são pequenos ramos com várias folhas ou flores – veja como as folhas se projectam em diferentes direcções, sendo necessário representá-las de forma diferente -, insectos e caracóis. A escolha do que vamos desenhar é extremamente importante. Procure objectos naturais com essência, com os quais possamos criar empatia, para podermos desenvolver a capacidade de observação e registo. Nada de demasiado simples, nem demasiado complicado. Sempre algo entusiasmante.
[divider type=”thin”]Série Atelier de Desenho:
Para celebrar esta estação do ano, começamos hoje uma pequena série de artigos sobre desenho de natureza. O ilustrador Marco Nunes Correia vai estar neste atelier virtual para lhe ensinar truques, dicas e formas de estar para que ninguém fique com o caderno de campo em branco.
O próximo artigo será sobre os materiais mais indicados, desde cadernos a lápis, canetas e aguarelas.