Este ano, pelo menos entre 175 e 196 águias-pesqueiras do Norte da Europa estão a passar o Inverno em Portugal, segundo os resultados do 4º Censo da águia-pesqueira invernante que aconteceu a 12 de Janeiro.
O censo, da iniciativa da comunidade portuguesa de observadores de aves, juntou 211 pessoas, mais 70 pessoas do que no último censo, realizado em 2017. O objectivo é descobrir a dimensão e distribuição da águia-pesqueira invernante, dados que podem ajudar a conservar a espécie (Pandion haliaetus).
Com mais ou menos experiência em fazer censos da vida selvagem, os voluntários juntaram-se no sábado passado, dia 12 de Janeiro, e visitaram mais de 130 locais de Norte a Sul de Portugal. Entre eles estão a Quinta do Lago (Loulé), a Albufeira do Roxo (Beja), Albufeira de Alqueva (na zona de Elvas), Lagoa de Santo André (Santiago do Cacém), Comporta (Alcácer do Sal), Samouco (Alcochete), Lezírias de Vila Franca de Xira, Almourol (Santarém), Paul do Boquilobo (Golegã), Lagoa de Óbidos (Caldas da Rainha), Pateira de Fermentelos (Aveiro), Albufeira do Azibo (Macedo de Cavaleiros), Estuário do Ave (Vila do Conde) ou Estuário do Minho (Caminha).
No total foram registadas entre 175 e 196 águias-pesqueiras. Estas aves de rapina concentram-se em cinco distritos: Santarém (entre 53 e 55 águias), Faro (entre 31 e 34), Lisboa (entre 28 e 35), Setúbal (entre 22 e 27) e Aveiro (entre 20 a 23).
Os distritos com registos de até cinco águias foram Viana do Castelo, Portalegre, Leiria, Évora, Coimbra, Braga e Beja. Seis distritos ficaram sem registos de águias-pesqueiras, mais concretamente Bragança, Castelo Branco, Guarda, Porto, Vila Real e Viseu.
“Penso que os números das águias-pesqueiras invernantes estão estabilizados e que esta será uma estimativa muito aproximada do número de aves que invernam em Portugal”, comentou à Wilder Gonçalo Elias, responsável pelo portal Aves de Portugal e um dos organizadores do censo.
As contagens às águias-pesqueiras invernantes começaram em 2015. Nesse primeiro ano foram registadas entre 71 e 82 aves. “O primeiro censo que fizemos teve uma cobertura insuficiente e ainda não tínhamos muita experiência”, explicou. Depois, em 2016 foram registadas entre 135 e 150 aves e em 2017, o número oscilou entre as 155 e as 184. Em 2018 não se realizou o censo a esta espécie, mas sim à garça-branca-grande.
Em relação aos censos anteriores, os mesmos cinco distritos continuam a concentrar o essencial das águias-pesqueiras invernantes. “Este ano houve apenas um ligeiro aumento em Lisboa, Santarém e Faro e uma ligeira descida em Aveiro e Setúbal. Mas são variações pequenas.”
O censo foi realizado, no mesmo dia, em Espanha e em algumas zonas de Marrocos. Mas os resultados destas contagens ainda não são conhecidos.
Gonçalo Elias adiantou que o próximo censo da águia-pesqueira invernante deverá acontecer em 2021. “Os números estão estáveis e, por isso, não se justifica fazermos o censo todos os anos. Isto permite-nos libertar recursos para fazer censos para outras espécies”, explicou.
Janeiro, mês ideal para contar águias-pesqueiras
Portugal já foi um país com águias-pesqueiras nidificantes. Mas, em 1997, a espécie foi dada como extinta quando morreu a única fêmea do último casal a nidificar em Portugal, na costa alentejana.
Catorze anos depois, em 2011, iniciou-se um projecto de reintrodução nas margens da albufeira de Alqueva, com aves trazidas da Suécia e da Finlândia, onde a espécie é abundante. Desde 2015, têm sido registados casais a ocupar ninhos no Alentejo. Em Junho de 2016 nasceram duas crias num ninho na albufeira de Alqueva.
Mas além das águias-pesqueiras que possam nidificar em Portugal, há muitas aves que passam por aqui, nas suas migrações entre o Norte da Europa e a Mauritânia – e que podemos observar em Setembro/Outubro e depois em Março/Abril – e outras que decidem passar cá o Inverno. São estas que podemos observar agora em Portugal.
“Janeiro é o mês ideal para fazermos este censo porque as populações invernantes estão mais estabilizadas”, explicou Gonçalo Elias. “As aves de passagem já estão em África e, por isso, já não há confusões. As que observarmos agora são as que estão aqui para o Inverno.”
Estas águias chegam a Portugal para se alimentarem. “Muitas das suas zonas de alimentação nos seus países de origem – Reino Unido, Alemanha, Noruega e Suécia – estão congeladas e, por isso, as aves não conseguem capturar peixes, o seu principal alimento”, acrescentou.
“Antes destes censos, ninguém tinha ideia da dimensão da população invernante desta espécie” em Portugal, sublinhou Gonçalo Elias. “Havia a noção de que o Sul da Península Ibérica não seria tão importante como território de invernada para esta ave. Mas, afinal, é”, acrescentou.
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