O grou esteve extinto em Inglaterra durante 400 anos. Agora, a ave mais alta do Reino Unido está de regresso e em 50 anos poderão existir até 275 casais nidificantes, revela um novo estudo científico.
Foi no século XVI que o grou (Grus grus) deixou de nidificar no Reino Unido. A caça e a destruição de vastas áreas de zonas húmidas ditaram a sorte desta elegante ave.
Mas em 1979, algumas regressaram à zona Este de Inglaterra. Em 1982 nascia a primeira cria no Reino Unido, em Norfolk Broads.
Desde então, os conservacionistas têm feito o que podem para defender e incentivar esta pequena população. O que não é fácil. “Os grous reproduzem-se lentamente e os seus números continuam baixos, pondo-os em risco de uma segundo extinção”, segundo um comunicado da Universidade de Exeter divulgado ontem.
Por exemplo, os grous, aves que podem viver 30 ou mais anos, começam a reproduzir-se quando têm cerca de quatro anos. Mas só têm, em média, uma a duas crias por época.
Investigadores daquela universidade e técnicos das organizações Wildfowl and Wetlands Trust (WWT) e Royal Society for Protection of Birds (RSPB) fizeram agora um novo modelo populacional e prevêem que em 50 anos poderão existir até 275 casais reprodutores em Inglaterra.
De acordo com este modelo, publicado na revista Animal Conservation, parte importante do crescimento populacional é explicado pela chegada de grous vindos da Europa continental até 2010. Nesse ano, os conservacionistas começaram a importar ovos (da Alemanha) e a reintroduzir crias de grous na zona Oeste de Inglaterra, no âmbito do Great Crane Project (2010-2015).
Até 2015, esse projecto tinha conseguido reforçar a população britânica com 93 novas aves. Como resultado, o novo modelo prevê um aumento no número de grous nidificantes, dos 178 actuais para os 275 dentro de 50 anos.
“Compreender a ligação entre novas chegadas, nascimentos e mortes permite-nos avaliar os riscos que estas aves enfrentam e prever o futuro com maiores certezas”, comentou Andrea Soriano-Redondo, investigadora do Centro para a Ecologia e Conservação da Universidade de Exeter que coordenou o estudo.
“Qualquer grupo pequeno e recentemente estabelecido é particularmente vulnerável a efeitos ocasionais, como uma doença”, acrescentou. “Saber quantas aves existem não é suficiente para prever se estarão seguras.”
Stuart Bearhop, investigador da mesma universidade, explicou que é preciso ter em conta não apenas as aves que são reintroduzidas. “A conclusão a que chegámos é que estas aves adicionais, à medida que se estabelecem e se tornam reprodutoras, são um elemento crucial na persistência futura desta espécie carismática no Reino Unido.”
E nem sempre o Great Crane Project foi consensual entre a comunidade. “Os custos e as incertezas afastaram vários conservacionistas deste tipo de intervenções”, comentou Geoff Hilton, da WWT, referindo-se às reintroduções de grous.
Contudo, “analisando os números populacionais podemos ver que, juntamente com uma boa gestão e protecção do habitat, podemos acelerar muito a recuperação de alguns dos nossos animais selvagens mais especiais, permitindo às pessoas apreciarem-nos”, acrescentou Hilton.
Para estes investigadores, o futuro dos grous em Inglaterra parece agora promissor. Actualmente, os grous são regularmente observados na zona Este de Inglaterra, em Somerset e em Gloucestershire. Estima-se que haja colónias reprodutoras em Cambridgshire, Suffolk, Yorkshire e no Nordeste da Escócia.
O próximo desafio é garantir que há suficientes zonas húmidas com habitat adequado para estas aves se reproduzirem em segurança. Nos planos está a recuperação de zonas à escala da paisagem, para que as áreas de habitat sejam maiores, mais frequentes e mais interligadas.
“É sempre excelente termos a oportunidade de celebrar um verdadeiro sucesso de conservação e os grous no Reino Unido são um deles”, comentou Andrew Stanbury, da RSPB. “Graças à parceria de conservacionistas estamos a receber de volta uma espécie carismática, depois de uma ausência de 400 anos.”
Em Portugal, há registo de ninhos de grou no final do século XIX no Baixo Guadiana e em Pancas, no estuário do Tejo, segundo o livro Aves de Portugal (2010). Mas há muito que a ave se extinguiu como nidificante e passou a ser apenas invernante.
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