Os sisões, aves das estepes cerealíferas, têm um nível de stress muito mais elevado durante o fim-de-semana por causa da presença humana, revela um estudo científico publicado hoje na revista “Behavioral Ecology”.
Durante os fins-de-semana há uma maior frequência de actividades humanas nas zonas agrícolas, incluindo a presença de caçadores e de pessoas a caminhar ou a andar de bicicleta, concluíram os cientistas espanhóis do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC).
Os investigadores estudaram as reacções do sisão (Tetrax tetrax), espécie classificada como Vulnerável no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, a estas perturbações nas planícies cerealíferas durante o Inverno. Para medir o nível de stress que estas actividades geram, os investigadores analisaram a hormona corticosterona, presente nas fezes dos sisões. As análises mostraram que o nível de stress aumenta com a intensidade das perturbações, especialmente as relacionadas com a caça, como são a densidade de caçadores ou de cães e a frequência de tiros por minuto.
“Os animais podem entender o homem como uma ameaça ou um possível predador”, explicou, em comunicado, a investigadora Beatriz Arroyo, da Universidade de Castela-La Mancha.
“Também observámos que durante os fins-de-semana os sisões passam mais tempo alerta e a vigiar do que a voar. Depois do fim-de-semana dedicam mais tempo a alimentar-se, provavelmente para recuperarem do gasto energético sofrido durante aqueles dias”, acrescentou.
Os investigadores alertam que a exposição prolongada e repetida a estas perturbações pode ter efeitos negativos nas populações de sisão e até pôr em causa os resultados dos programas de conservação. “Algumas medidas de gestão poderiam ajudar a reduzir o impacto destas actividades, como por exemplo a criação de refúgios de caça com suficientes recursos alimentares para as aves”, concluiu.
Em Portugal, o sisão vive sobretudo a Sul do rio Tejo, em zonas abertas como searas, terrenos incultos e pastagens e alimenta-se de insectos. Para nidificar prefere zonas com alguns arbustos para esconder os ninhos, feitos no chão. Entre Março e Maio defende os seus territórios emitindo vocalizações que lhe são características. Normalmente põe entre três a quatro ovos, segundo o livro “Aves de Portugal”. Depois da época de reprodução, os sisões juntam-se em bandos.
Até meados do século XIX, o sisão seria uma espécie extremamente comum em Portugal, mas as suas populações sofreram grandes declínios por causa das alterações dos habitats e das práticas agrícolas.
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A Liga para a Protecção da Natureza (LPN) tem a decorrer o projecto LIFE Estepárias para conservar o sisão e outras espécies como a abetarda e o peneireiro-das-torres no Baixo Alentejo.