Por estes dias, um número excepcionalmente elevado de bicos-grossudos (Coccothraustes coccothraustes) está a ser registado no Reino Unido, segundo a Royal Society for Protection of Birds (RSPB).
O número de bicos-grossudos – aves também conhecidas como trinca-pinhões ou bico-gordos – que estão a chegar ao Reino Unido para passar o Inverno está a surpreender os ornitólogos britânicos.
Estas aves tímidas e vistosas distinguem-se pelo bico que faz lembrar o dos papagaios, capaz de abrir mesmo as cascas mais duras.
Em Portugal é uma espécie residente, com uma distribuição “irregular e bastante fragmentada”, de acordo com o livro “Aves de Portugal”. No Reino Unido, estima-se que existam menos de mil casais. Segundo a RSPB, “o número de bicos-grossudos que nidificam aqui tem vindo a diminuir nos últimos anos. Mas todos os Invernos recebemos as aves do Continente que aqui chegam à procura de alimento”.
Contudo, este ano os números estão bastante acima do normal, com centenas de observações já registadas. É uma chamada “irrupção”, como a que aconteceu no ano passado com outra espécie, a tagarela-europeia.
“Só no condado de Bedfordshire foram registados mais de 230 bicos-grossudos”, comentou Lizzie Bruce, da reserva natural The Lodge, naquela região do Leste de Inglaterra. “Isso é extraordinário, uma vez que, na maioria dos anos, temos sorte de virmos um ou dois.”
Esta abundância de números não passou desapercebida para quem gosta de observar aves. “Isto tem causado grande entusiasmo nos nossos visitantes e equipas da RSPB, que têm largado tudo e vindo até aqui para conseguir ver uma destas aves empoleirada no cimo de uma árvore”, acrescentou Lizzie Bruce, em comunicado.
Esta responsável explicou que, “normalmente, as irrupções estão associadas à falta de alimento: demasiadas aves ou falta de alimento para que consigam sobreviver ao Inverno. Isso aconteceu no ano passado com as tagarelas-europeias”.
Outro factor é o clima. “Os bicos-grossudos migram, tradicionalmente, para Sul dos seus territórios de reprodução na Europa Central em direcção ao Mediterrâneo. Este ano a sua migração coincidiu com a chegada da Tempestade Ofélia (…) com ventos fortes a empurrar muitos dos bicos-grossudos em migração para o Reino Unido.”
Isto, acrescentou, talvez ajude a explicar por que razão a maioria dos bicos-grossudos tenham sido observados no Sul de Inglaterra e no País de Gales.
Os investigadores da RSPB estão a estudar as razões pelas quais estas aves não nidificam no Reino Unido como o costumavam fazer. Actualmente estão a analisar se a disponibilidade de alimento é, ou não, um problema, em colaboração com a Universidade de Cardiff.
O Inverno é uma das melhores alturas do ano para observar estas aves, uma vez que muitas árvores estão sem folhas. Os bicos-grossudos juntam-se para passarem a noite em árvores-dormitórios e também se juntam em bandos durante o dia para procurarem alimento, normalmente sementes grandes e rebentos de árvores e arbustos.
Em Portugal, o número destas aves que são residentes é engrossado no Inverno com as aves que chegam do Centro e Norte da Europa, segundo o livro “Aves de Portugal”.
[divider type=”thick”]Saiba mais sobre o bico-grossudo em Portugal aqui.