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O que levar para desenhar a natureza

16.06.2015

Quando as coisas não nos saem lá muito bem, nem sempre a culpa é do artista. Os materiais podem fazer toda a diferença. Por isso, Marco Nunes Correia sugere o que poderá levar consigo para o campo.

 

A bolsa pode ir mais, ou menos, cheia. Mas estes são os materiais base a partir dos quais podemos escolher.

Podemos começar pela grafite. É melhor optar pelas lapiseiras de minas de diferentes espessuras (de 0,5 a 2mm) e diferentes durezas (do HB ao 6B, por exemplo) em vez dos lápis normais, para não termos de interromper o nosso desenho para os afiar.

 

Mina colorida (azul) e grafite. Utilização de lapiseira com mina azul para um desenho solto (tipo esboço) e atribuição de contraste realçando alguns detalhes
Mina colorida (azul) e grafite. Utilização de lapiseira com mina azul para um desenho solto (tipo esboço) e a atribuição de contraste, com lápis de grafite, realçando alguns detalhes

 

Mina azul e grafite

 

Para quem está a iniciar esta actividade, é natural recorrer à borracha mais vezes do que seria desejável, apagando constantemente os traços que parecem sair ao lado. Se não consegue contrariar esta tendência, o melhor é deixar a borracha em casa ou optar por outros objectos riscadores.

É preferível terminar um “mau” desenho do que estar sempre a apagar. Aceitar esses registos que nos parecem menos bem sucedidos é útil para, ao fim de algum tempo, podermos perceber a nossa evolução e aprender com os nossos próprios erros. Não devemos ter medo de assumir os nossos traços.

Aproveitamos para sugerir que tente vivenciar estas experiências de campo com outras pessoas. A partilha é extremamente enriquecedora, permite-nos aprender mais depressa e a diversificar técnicas e metodologias de trabalho.

Não nos podemos esquecer que cada modelo apresenta-nos diferentes desafios e é preferível pensar em formas de os ultrapassar, do que desistir logo, para tentar outro modelo que nos parece, à partida, mais fácil. Mas, é claro que há modelos mais complicados que outros.

Posto isto, vamos continuar a escolher o que levar connosco nos nossos passeios.

É sempre bom levar esferográficas (tipo Bic), porque permitem criar meios tons, como a grafite, e a “vantagem” é que não permitem voltarmos atrás. Temos de assumir todos os riscos! O mesmo se passa com as canetas de feltro, mais indicadas para desenhos de linhas. Com estas, somos obrigados a pensar mais, analisar melhor o nosso modelo, para falhar o menos possível. Exigem maior concentração!

 

Caneta de pincel (tinta-da-china), na silhueta dos troncos e ramos; e caneta de feltro com ponta de pincel, na silhueta das copas
Caneta de pincel (tinta-da-china), na silhueta dos troncos e ramos; e caneta de feltro com ponta de pincel, na silhueta das copas

 

A seguir vem tudo o que é aguarelável. Desde a grafite aguarelável às canetas de feltro aguareláveis.

 

Grafite aguarelável aplicada com pincel de água
Grafite aguarelável aplicada com pincel de água

 

Na verdade, com estas canetas, um desenho que parece banal acaba por resultar muito bem. É especialmente gratificante aplicar esta técnica a objetos simples, como as folhas das árvores, pequenos galhos ou frutos, em que os traços que os definem podem ser diluídos com o pincel-de-água, obtendo efeitos muito interessantes.

Pode levar também canetas de pigmento opaco e canetas de ponta de pincel, de cerdas ou de feltro, de cor ou de tinta-da-china.

 

Estudos com caneta de pincel (tinta-da-china) e caneta de álcool
Estudos com caneta de pincel (tinta-da-china) e caneta de álcool

 

Se pretender uma abordagem a cores, aquilo que não pode mesmo faltar são as aguarelas e os pincéis-de-água. Isto é imprescindível.

 

Desenho com caneta de feltro normal (à prova de água), seguido de pintura a aguarela. Esta técnica permite tornar desenhos muito simples, mais apelativos
Desenho com caneta de feltro normal (à prova de água), seguido de pintura a aguarela. Esta técnica permite tornar desenhos muito simples, mais apelativos

 

Existem no mercado estojos pequenos com 12 ou 14 cores, que são mais do que suficientes e nos permitem criar uma paleta bastante variada. Por exemplo, o verde esmeralda, quando misturado com diferentes tonalidades de amarelos e laranjas dá uma paleta de verdes incrível.

Quantas mais cores temos, mais complicado se torna tomar decisões sobre qual usar. O melhor é simplificar. A paleta mais modesta funciona melhor, obrigando-nos a misturar as cores e a pensar. Um bom conselho é fazer a sua paleta num papel de aguarela, pintando cada uma das cores do seu estojo e respetivas misturas, antes de sair de casa. E levar esta paleta consigo. Irá funcionar como cábula!

E que cadernos escolher? Bem, hoje em dia há cadernos para todos os gostos e feitios, mas também podemos fazer o nosso próprio caderno em casa. Há algumas opções a considerar.

 

Desenho com caneta de feltro aguarelável, seguido de uma passagem com pincel de água, diluindo os traços previamente desenhados
Desenho com caneta de feltro aguarelável, seguido de uma passagem com pincel de água, diluindo os traços previamente desenhados

 

Um caderno maior do que um A4 já se pode tornar um pouco desconfortável no campo. Do mesmo modo que um caderno muito pequeno pode limitar demasiado a nossa criatividade. Podemos optar por um A5 que abra bem em página dupla. Vertical, se preferirmos um formato mais quadrangular, ou horizontal se pretendermos representar paisagens. E depois a gramagem do papel, se quisermos que este aguente bem a aguarela ou outras técnicas que impliquem a adição de água, devemos optar por uma gramagem superior a 100g.

 

Pigmento diluído aplicado com pincel de água (a azul), seguido de tinta-da-china aplicada com caneta de pincel
Pigmento diluído aplicado com pincel de água (a cinza-azulado), seguido de tinta-da-china aplicada com caneta de pincel

 

 

Aqui fica a bolsa de campo de Marco Nunes Correia para o inspirar:

 

 

Legenda:

Grafite:

a. Lapiseiras de minas (0,35; 0,5 e 0,7 mm)

b. Lapiseiras de mina de 2mm (HB; B e 4B)

c. Lapiseiras de mina de 3 mm

d. Lápis de grafite aguarelável

e. Borrachas de diversos tipos

f. Canetas de feltro não aguareláveis de diversas espessuras (0,05 – 0,8 mm)

g. Estojo de aguarela (pastilhas húmidas)

h. Papel absorvente (para limpeza de pincéis) e esponja natural (para representação de texturas)

i. Spray de água e pincel de pelo de esquilo (para aguadas e para humedecer o papel)

j. Pincéis-de-água (dois de espessuras diferentes, com água e outro com pigmento diluído)

Outras canetas

k. Canetas de feltro aguareláveis

l. Canetas de pincel (ponta de cerdas)

m. Canetas de pincel (ponta de feltro)

n. Canetas de álcool (pontas de feltro)

o. Canetas de feltro de pigmento opaco (tipo acrílico)

p. Compasso; pinças; estiletes de corte e frascos para recolha de amostras

q. Bolsa de cintura

r. Estojo com canetas de acetato e lápis de cor não aguareláveis (para desenho em poliéster – permite trabalhar à chuva)

 

[divider type=”thin”]Série Atelier de Desenho:

Para celebrar esta estação do ano, estamos a publicar uma pequena série de artigos sobre desenho de natureza. O ilustrador Marco Nunes Correia vai estar neste atelier virtual para lhe ensinar truques, dicas e formas de estar para que ninguém fique com o caderno de campo em branco.

O próximo artigo será sobre como desenhar uma ave. O anterior foi “O que podemos desenhar na Primavera”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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