Resposta ficou acima das expetativas iniciais e trabalhos de campo já estão no terreno. A Wilder falou com Rui Borralho, diretor-executivo da SPEA, sobre o que está previsto.
Para Rui Borralho e a restante equipa da SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, esta foi uma boa surpresa. O projeto que arrancou em novembro passado pretende colocar um travão no declínio que várias espécies têm sofrido, mesmo aves comuns como a andorinha-das-chaminés, o cuco e o pintassilgo. O objetivo é criar uma rede de áreas dedicadas à conservação das aves que envolva a sociedade civil, com a adesão voluntária de proprietários de terrenos e financiamento dos trabalhos no terreno. “Previamos que iriamos angariar cinco a dez proprietários interessados e fundos financeiros suficientes para isso, entre 10.000 a 15.000 euros”, lembra o diretor-executivo. Mas afinal, passados cinco meses, o resultado ficou muito acima dessas expetativas.
De facto, entre particulares, empresas e até algumas autarquias, a equipa já recebeu mais de 90 candidaturas de proprietários interessados em fazerem parte desta Rede Nacional de Santuários para Aves. Segundo uma nota de imprensa da SPEA, “após uma criteriosa seleção foram escolhidas 76 propriedades com elevado potencial”. “A maioria dos proprietários são famílias, temos também várias empresas agrícolas e florestais, e também alguns turismos rurais, tal como autarquias”, enumera Rui Borralho. As propriedades que tiveram de ficar de fora são aquelas onde o investimento necessário iria muito provavelmente trazer pouco retorno, como é o caso de áreas com uma forte componente industrial.
Em busca de mais financiamento para 30 santuários
Existem ainda grandes diferenças de tamanho de um santuário para outro, desde áreas com apenas um hectare (mais ou menos equivalente ao tamanho de um campo de futebol) – o tamanho mínimo permitido para uma propriedade entrar no projeto – até enormes extensões de terreno. No máximo, um “santuário” destes poderá ocupar 2000 hectares.
Quanto ao financiamento, a SPEA está a recorrer aos proprietários, quando estes têm disponibilidade financeira, e também lançou desde o início uma campanha de crowdfunding. Até esta quarta-feira, 23 de abril, tinham sido angariados nesta campanha quase 135 mil euros, o que permite que haja dinheiro suficiente para 46 das 76 propriedades selecionadas. Ou seja, falta agora dinheiro para os restantes 30 santuários já escolhidos. Rui Borralho adianta que, para além da campanha de crowdfunding que continua ativa, estão a ser feitos novos contactos para a obtenção de mais apoios.
Certo é que o projeto continua neste momento aberto à adesão de mais interessados, uma vez que “a ideia é termos uma rede cada vez maior”, sublinha o mesmo responsável.
Contagens de aves em abril e maio
Neste momento os trabalhos de campo já começaram em muitas das propriedades, executados em cada uma por um ou mais ornitólogos ligados à SPEA. Em abril e maio, fazem-se contagens de aves diurnas e noturnas, estuda-se também quais são os tipos de atividade humana em cada terreno, tal como os habitats ali presentes.
A partir dessas informações, vai ser definido um plano de gestão para cada um dos santuários da nova rede, em conjunto com os respetivos proprietários. Em causa estão várias medidas, incluindo ações simples como a instalação de comedouros e de bebedouros e de caixas-ninho, entre outras. No outono, está prevista a realização de mais contagens de aves diurnas e noturnas, até para monitorizar a chegada das aves migradoras.
Já no próximo ano, as contagens de aves serão repetidas para avaliar os impactos das medidas já tomadas, de acordo com o plano já desenhado, que prevê a conclusão deste projeto em 2026. Ainda assim, existe a esperança de que seja possível conseguir os meios necessários para prolongar a rede por muito mais tempo. “O nosso desejo é que esta rede de santuários dure para sempre”, afiança Rui Borralho.
Agora é a sua vez.
Encontre aqui mais informação sobre o projeto e também um mapa com as propriedades que fazem parte da nova rede.