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Voluntários preparam ninhos para peneireiros

11.02.2016

Os peneireiros-das-torres já estão a chegar às planícies de Castro Verde, vindos de África. Os machos são os primeiros e têm uma importante missão: preparar os ninhos onde, em breve, irão nascer entre três a cinco pequenas crias. Um grupo de voluntários pôs-se em cima de escadotes para lhes dar uma ajuda.

 

Rita Alcazar viu o seu primeiro peneireiro-das-torres (Falco naumanni) do ano na última semana de Janeiro. “Agora estão a começar a chegar mais e mais”, disse ontem à WILDER a coordenadora da Liga para a Protecção da Natureza (LPN) em Castro Verde.

É em Castro Verde que podemos encontrar a maior parte da população nacional desta ave, o falcão mais pequeno que se reproduz em Portugal e espécie classificada como Vulnerável pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005).

 

Peneireiro-das-torres. Foto: Iván Vásquez
Peneireiro-das-torres. Foto: Iván Vásquez

 

No final do século XX, a espécie estava a regredir em Portugal e no mundo. Desapareciam as suas áreas de alimento nos campos de cereais e a requalificação do património histórico levou a que fossem tapadas muitas cavidades em muralhas, igrejas e outros edifícios, usadas como locais de nidificação. Nos anos 90 do século passado, muitas das colónias no Alentejo tinham praticamente desaparecido.

Mas, a pouco e pouco, os peneireiros estão a regressar. Nas reservas da LPN em Castro Verde existem 10 colónias com cerca de 200 casais, de acordo com os dados referentes a 2015, disse Rita Alcazar.

A 30 de Janeiro deste ano, um grupo de 11 voluntários ajudou a limpar cerca de 250 cavidades que estas aves usam para fazer os ninhos, em três colónias de peneireiros-das-torres na Freguesia de São Marcos da Ataboeira, no concelho de Castro Verde.

 

Limpeza dos ninhos. Foto: LPN
Limpeza dos ninhos. Foto: LPN

 

“Os peneireiros levam muitas coisas para o ninho e, se este não for limpo, depressa fica sem espaço”, explica Rita Alcazar. Em cima de escadotes e com máscaras, os onze voluntários ajudaram a limpar e a manter espaçosas as cavidades que, em breve, vão receber as crias de peneireiro-das-torres.

 

Grupo de voluntários. Foto: LPN

 

Todos os anos, por esta altura, os peneireiros-das-torres (também conhecidos por francelhos) começam a chegar a Castro Verde. Primeiro, os machos. Estes “começam à procura de locais para criar”, diz Rita Alcazar. “Quando as fêmeas chegam, os machos tentam conquistá-las para a cavidade bonita que escolheram.”

Uma estratégia que resulta (quase) sempre é voarem em redor das fêmeas com grilos que apanharam presos nas garras. “Querem mostrar-lhes que são excelentes caçadores e capazes de as sustentar”, acrescenta. Aliás, este é um comportamento comum nas rapinas. “As águias-pesqueiras fazem o mesmo, mas com peixe.”

 

Casal de peneireiros-das-torres. Foto: Iván Vásquez
Casal de peneireiros-das-torres. Foto: Iván Vásquez

 

Em meados de Março, as fêmeas começam a pôr entre três a cinco ovos, de um cinzento esverdeado com pintas cinzentas-escuras, um pouco maiores do que um ovo de codorniz e bem mais pequenos que um ovo de galinha. As crias nascem a partir de meados de Abril.

Segundo o último censo nacional para a espécie, de 2006, havia 450 casais em Portugal, 80% dos quais na região de Castro Verde. Todos os anos, os técnicos da LPN monitorizam os ninhos das 10 colónias e tentam mantê-los o melhor possível. Agora é esperar que sejam ocupados novamente.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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