Perto da fronteira com Portugal, no sudoeste da província de Badajoz, o projeto LIFE Eurokite está a trabalhar no reforço da população nidificante desta ave de rapina.
A eletrocução de milhafres-reais (Milvus milvus) é uma das principais ameaças para esta ave migradora, cujas populações nidificantes estão hoje ameaçadas de extinção, tanto em Espanha (Em Perigo de extinção) como em Portugal (Criticamente em Perigo, o último degrau antes do desaparecimento), onde a tendência é de diminuição.
A pensar nisso, o projeto europeu LIFE Eurokite, que trabalha em vários países para o reforço das populações da espécie, fez uma parceria com a principal empresa de distribuição de eletricidade na região de Badajoz. Em causa esteve a correção de 1132 postes elétricos desde 2019, de forma a que as aves não sejam eletrocutadas quando pousam nestes apoios, descreve uma notícia publicada pela revista espanhola Quercus.
As principais áreas escolhidas para estes trabalhos são aquelas onde se tem realizado a libertação de milhafres-reais, perto da fronteira com Portugal, e também aquelas onde essas aves – marcadas por GPS no âmbito deste projeto – têm estado mais presentes.
Desde 2022, foram libertados no sudoeste da província de Badajoz um total de 96 milhafres-reais provenientes do Reino Unido, que acolhe atualmente uma das populações mais estáveis desta espécie, disse à Wilder Alfonso Godino, da organização não governamental de ambiente (ONGA) espanhola AMUS – Acción por el Mundo Salvage, parceira do LIFE Eurokite. Até ao final de 2025, está prevista a libertação de mais 32 milhafres na mesma região.
Mais perigo para as aves grandes
A eletrocussão dos milhafres-reais, tal como sucede com outras espécies, acontece quando essas aves pousam no cimo dos postes elétricos e entram em contacto com outros “elementos condutores de eletricidade”, explicou Alfonso. No caso destas aves de rapina, “o seu tamanho permite este contacto no topo do apoio e produz essa eletrocução.”
“Uma vez que o milhafre-real ocorre em áreas abertas, os postes elétricos são um excelente pouso para esta ave descansar, devido à altura destas estruturas sobre o terreno. Isso facilita que tenham uma posição elevada e dominante sobre a área onde estão a caçar.”
Os mesmos perigos de eletrocussão sucedem com outras aves maiores, como por exemplo a águia-imperial-ibérica, o abutre-preto e o abutre-do-egito. Para fazer face a essas ameaças, também em Portugal têm sido lançadas várias iniciativas para correção de postes e linhas elétricas, como foi o caso do LIFE PowerLines4birds. Entre diferentes medidas, são corrigidos e isolados os apoios, para que deixem de ser “armadilhas mortais”.
Ainda assim, a eletrocussão não é o principal problema que estas aves enfrentam. No caso dos milhafres-reais, na verdade, o veneno é hoje apontado como a maior ameaça que pesa sobre a sobrevivência da espécie em todos os locais onde ocorre. E enquanto que o trabalho com os postes e linhas elétricas tem avançado, graças ao envolvimento de autoridades, empresas e ONGA, no caso dos envenenamentos “a minimização está longe de ser efetiva”, admitiu o mesmo responsável.