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Guia ilustrado para saber o que comem estas 10 borboletas

01.07.2016

Uma lagarta de borboleta é uma máquina de comer. A sua função é armazenar energias para conseguir ganhar asas e voar. E se há lagartas que não são esquisitas, há outras que têm um menu limitado a uma única planta. Patrícia Garcia-Pereira apresentou-nos 10 espécies e Jeanne Waltz desenhou-as.

 

Não se mexem muito, a visão é fraca e os sentidos não estão muito apurados. Para as lagartas de borboleta, a sua missão é comer e não ser comido.

Estas 10 espécies que ocorrem em Portugal foram escolhidas por Patrícia Garcia-Pereira, do Centro para a Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (Ce3C) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, por serem especiais. Cada espécie só se alimenta de uma única planta (chamadas de monófagas), o que significa desafios ecológicos maiores.

 

Axadrezada-mediterrânica (Sloperia proto):

 

Planta: Marioila (Phlomis purpurea)

Esta é uma espécie claramente do Sul, estando presente no Norte de África e no Sul da Europa. Em Portugal ocupa a metade meridional.

Época de voo: fins de Abril até Outubro (mais frequente no Verão)

 

Borboleta-carnaval (Zerynthia rumina):

 

Planta: Erva-bicha (Aristolochia paucinervis)

Esta é outra espécie mediterrânica da fauna portuguesa. No território continental está presente em quase todo o país, mais comum no Sul.

Época de voo: de Fevereiro a Maio

 

Ponta-laranja-do-Douro (Anthocharis euphenoides):

 

Planta: Biscutella valentina

Esta espécie só sobrevive em locais muito quentes, preferindo os vales mediterrânicos do Douro interior. Pode considerar-se uma espécie rara no nosso país, com uma distribuição localizada e com poucos registos de observações.

Época de voo: Abril a Junho

 

Lucina (Hamearis lucina):

 

Planta: Prímula ou rosa-da-páscoa (Primula acaulis)

 

Já a lucina é um bicho do Norte. Está presente na Europa Central e Meridional estendendo a sua distribuição até à Rússia. Em Portugal ocupa apenas as florestas de carvalhos da região norte.

Época de voo: Maio e Junho

 

Borboleta-azul-das-turfeiras (Phengaris alcon): 

 

Planta: Genciana-de-turfeiras (Genciana pneumonanthe)

Espécie europeia com uma distribuição localizada em todos os países. Em Portugal está presente nos lameiros de altitude da região Norte, tendo populações abundantes e saudáveis especialmente no Alvão e Montemuro.

Época de voo: Julho e Agosto

 

Verdinha-da-primavera (Tomares ballus):

 

Planta: Alfavaca-dos-montes ou alfavaca-silvestre (Erophaca baetica)

Espécie mediterrânica, presente no Norte de África, na Península Ibérica e no Sudoeste de França. Em Portugal é mais abundante no Sul.

Época de voo: Fevereiro a Abril

 

Aricia-Do-Nordeste (Eumedonia eumedon):

 

Planta: Gerânio-sanguíneo (Geranium sanguineum)

Esta é uma borboleta do Norte. Em Portugal só é conhecida do Parque Natural de Montesinho, em florestas de carvalho-negral.

Época de voo: Junho

 

Borboleta-do-medronheiro (Charaxes jasius):

 

Planta: Medronheiro (Arbutus unedo)

É a maior diurna da Europa. De origem africana, encontra-se dispersa pela região mediterrânica, sempre que hajam matos com abundantes medronheiros. Em Portugal só não ocupa a faixa litoral Norte. É particularmente abundante no Alentejo e Algarve.

Época de voo: Março a Outubro

 

Fritilária-mediterrânica (Euphydryas desfontainii):

 

Planta: Cardo-penteador (Dipsacus comosus)

Esta espécie ocorre no Norte de África, metade meridional da Península e Sul de França. Em Portugal só está no barlavento algarvio e sudoeste alentejano. Talvez seja a espécie mais ameaçada do nosso país pela destruição dos seus habitats preferenciais, especialmente a conversão de baldios e prados húmidos em áreas de produção de eucalipto.

Época de voo: Abril e Maio

 

Nariguda (Libythea celtis):

 

Planta: Lódão (Celtis australis)

Esta espécie – que vive na Argélia, Sul da Europa e Ásia – é relativamente comum no nordeste de Portugal. É uma espécie que passa o período desfavorável na fase adulta. Deste modo, nos dias quentes e solarengos dos meses de Inverno é possível observar os indivíduos que estiveram a hibernar.

Época de voo: Junho a Setembro

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Quais as estratégias de defesa das lagartas de borboleta? Patrícia Garcia Pereira responde.

A velocidade para escapar ao perigo pode ser uma boa estratégia para muitos animais, mas não para as lagartas de borboleta. Apesar de terem três pares de patas e patas falsas, estas lagartas usam-nas para se agarrar. A maioria nunca sai da planta onde foi colocada ainda em ovo.

As lagartas de borboletas podem ter duas estratégias que, curiosamente, são contrárias: há espécies que optam por ser miméticas com a planta, como a borboleta-do-medronheiro que se confunde muito facilmente com uma folha de medronheiro, e há espécies que têm cores muito garridas para afugentar predadores (como outros insectos, aves, répteis ou pequenos mamíferos). Na linguagem do mundo natural, um animal de cor garrida é um animal tóxico. E assim acontece também com as lagartas de borboleta que se alimentam de plantas tóxicas.

Estas 10 espécies optaram todas por ser miméticas. A sua estratégia é passar desapercebidas, escondidas dentro das flores ou debaixo das folhas.

Além dos predadores, as maiores ameaças para as pequenas lagartas são o parasitismo (há vespas parasitas que colocam os seus ovos dentro da lagarta, o que é um grande factor de mortalidade) e a destruição dos prados de flores silvestres dos quais dependem para se alimentar.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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