Olga Ameixa. Foto: DR

Trabalhando com a vida selvagem: Olga Ameixa alia a paixão pelos insetos ao fascínio pela investigação

22.01.2025

Olga Ameixa, 49 anos, descobriu durante o mestrado que a carreira de investigação na área da entomologia era o caminho que queria seguir. “Acabei por me apaixonar pelo processo de descoberta e pela criatividade envolvidas na escrita científica, nos desenhos experimentais, ou mesmo por criar o meu próprio equipamento”, contou à Wilder esta cientista da Universidade de Aveiro.

O que estás a fazer atualmente, como investigadora?

Desde já 11 anos que sou investigadora do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) e do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, onde desenvolvo investigação na área da entomologia aplicada, em simultâneo com a prospeção da diversidade de insetos na área do Baixo Vouga Lagunar e da Ria de Aveiro. 

Como é que começaste?

Trabalho há mais de 20 anos na área da entomologia. Logo no primeiro ano da licenciatura apaixonei-me pela entomologia, atraída pela diversidade de formas de cada grupo de insetos e pelas adaptações a que estes recorrem para explorarem diferentes recursos, características estas que estão espelhadas na diversidade taxonómica. Para além disso, foi importante saber que este conhecimento básico da ecologia dos insetos era fundamental para questões como o controlo de pragas, por exemplo. Desde então, nunca mais parei. 

Olga Ameixa em trabalho de campo. Foto: DR

Como aprendeste a fazer o teu trabalho?

A maior parte do meu conhecimento foi adquirido ao longo da minha formação académica e experiências práticas fora da academia. Comecei com um estágio prático na área de controlo biológico e proteção integrada e trabalhei como técnica de proteção integrada nalgumas organizações de produtores. Inicialmente não tinha planos de seguir a carreira académica, mas durante a tese de mestrado, em que estudei o comportamento e ecologia química de vespas parasitóides, percebi que a investigação era o caminho que queria seguir. 

Numa ação para prospeção da diversidade de espécies de insetos. Foto: DR

Em 2007, em Portugal, a investigação nas áreas da entomologia e das vespas parasitóides era praticamente inexistente. Então, após terminar o mestrado, resolvi fazer um estágio na República Checa para trabalhar num projeto europeu durante quatro meses e adquirir mais competências. Durante esse período, acabei por fazer os exames para entrar no Programa Doutoral de Ecologia, o que alterou o rumo da minha carreira, pois já não usei o bilhete de volta ao fim desses quatro meses.

Durante o doutoramento, para além da parte académica, tive a oportunidade de realizar alguns estágios noutros laboratórios nos Países Baixos, França e Inglaterra, o que me proporcionou um contacto valioso com diferentes realidades científicas e formas de trabalhar. Estive fora durante sete anos, os quatro do doutoramento e depois mais três em que fiquei a trabalhar como Investigadora Júnior no instituto Global Change Research Institute, da Academia das Ciências da República Checa .

Quando começaste, o que pensavas que querias fazer?

Como referi anteriormente, não pensava seguir a carreira de investigação, mas acabei por me apaixonar pelo processo de descoberta e pela criatividade envolvidas na escrita científica, nos desenhos experimentais, ou mesmo por criar o meu próprio equipamento, por exemplo, para o estudo comportamental de parasitóides. Nestes processos, a motivação que os meus orientadores me incutiram foi uma mais-valia, tanto na licenciatura e no mestrado como no doutoramento. 

Olga Ameixa (à dir.), durante uma saída para observação de insetos noturnos. Foto: DR

O que ainda te falta descobrir?

Tanta coisa ainda! É isso que torna a investigação tão fascinante: cada descoberta traz novas questões para responder. Nos últimos anos, para além da biodiversidade tenho-me dedicado à área da nutrição de insetos para a indústria. Esta é uma área emergente em que os interesses económicos estão a pressionar as respostas científicas. A cada nova resposta surgem novas questões e há a necessidade de tornar estas respostas acessíveis às indústrias que estão focadas neste tema.


Saiba mais.

Fique a conhecer polinizadores fora do comum em diferentes locais do mundo, alguns dos quais presentes em Portugal, numa crónica que tem como autora principal.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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