Daniel Veríssimo, um economista fascinado pela natureza, desafia-nos a pensar na possibilidade desta espécie chegar ao nosso país. Recentemente foi detetado um animal em Espanha.
O chacal-dourado (Canis aureus), mais pequeno que um lobo e maior que uma raposa, está num nível intermédio entre os dois na cadeia trófica. As fêmeas (45 – 50 centímetros e cerca de 7 a 11 quilos) são ligeiramente mais pequenas que os machos (70 centímetros e entre 8 a 12 quilos), com uma pelagem entre o dourado, o castanho escuro e tons alaranjados.
Os chacais formam casais monogâmicos que ficam juntos para toda a vida, protegem um território com cerca de 1.500 hectares e têm uma ninhada por ano, entre 2 a 8 crias. Têm uma dieta generalista e podem caçar, comer restos de animais mortos e até consumir fruta. São altamente adaptáveis, sobrevivem numa grande variedade de habitats, desde florestas fechadas a paisagens abertas, de zonas quentes a zonas frias e são extremamente inteligentes.
São uma espécie relativamente recente. Apareceu no fim do Pleistoceno na Índia e os primeiros fósseis no Médio Oriente e Grécia têm cerca de 7.000 anos.
Apesar de estar presente no Sul Oriental da Europa há alguns milhares de anos, nas últimas décadas tem tido uma expansão rápida, primeiro para a Europa Central rumo ao Norte, até ao Báltico e Escandinávia e depois, nos últimos anos, para Sul, pela península Itálica até Roma. Está estabelecido no sul de França e recentemente foi detetado o primeiro exemplar na Península Ibérica, na província espanhola de Álava, no País Basco.
O chacal-dourado está num estado de expansão intermédio. Em algumas zonas as populações estão estabelecidas mas ainda existe imenso território que pode colonizar.
Contudo, existem outras espécies em estados de expansão mais adiantado. Por exemplo, a rola turca (Streptopelia decaocto) começou a espalhar-se pela Europa no começo do século XX e hoje está estabilizada um pouco por todo o continente. Outro caso, mas num estado mais inicial, é o do porco espinho (Hystrix cristata), com um aumento da área de distribuição nos últimos anos no Norte Itália; em breve cruzará os Alpes (no passado existia uma espécie de porco espinho na Europa, também esteve presente em Portugal e os últimos registos são da última idade do gelo).
Corredores ecológicos, de Norte a Sul e de Este a Oeste, por montanhas, campos e rios são cruciais numa altura de rápidas alterações climáticas. Boas ligações entre diferentes áreas selvagens permitem aos animais encontrar novos territórios, recuperar zonas de distribuição antigas e colonizar novas áreas.
Caminhar pelas montanhas do Norte de Portugal, numa manhã de primavera e, entre vales verdes e frescos, ouvir os uivos dos chacais ou passear pelas planícies alentejanas e, num final de tarde de Outono, entre uma paisagem quente e seca ver um chacal curioso camuflado na vegetação rasteira.
Em breve esta visão pode ser realidade. Com um ritmo de expansão rápido, em pouco mais de 3 a 7 anos deve chegar a Portugal e entre 10 a 15 anos deve ficar estabelecido. Só prova que a natureza não é estática, é dinâmica e que está sempre em constante evolução. E isso não deve ser visto como algo mau ou indesejável, mas como algo normal e natural.
O chacal-dourado vai chegar a Portugal e, à semelhança do urso pardo, é apenas uma questão de tempo.